Arquivo do mês: junho 2016

Apologia ao povo do mar

20160629_232427A Bahia não seria Bahia se não tivesse existido Jorge Amado e Dorival Caymmi, dois monstros sagrados que elevaram a terra do Senhor do Bonfim ao patamar de um mundo sem igual, um mundo em que história, causos e costumes passeiam de mãos dadas entre lendas e verdades ficando difícil saber onde começa um e termina o outro. Amado fez, faz e fará gerações se encantarem com as páginas de livros que criam vida sem que se precise nenhum esforço do leitor. Caymmi segue na mesma toada do escritor, só que em músicas e letras que nem precisam ser cantadas para gerar emoção e prazer aos ouvidos alheios. As canções de Dorival Caymmi é um bálsamo para a alma de um navegante, até mesmo quando ele canta em câmera lenta “…É doce morrer no mar…”. “É doce morrer no mar” enfronha, acoberta, emociona, apimenta e dá vida ao romance entre Lívia e Guma, personagens de uma das mais maravilhosas obras sobre tinos e desatinos dos grandes mestres saveiristas. O cais do mercado, o chão de barro, o barraco, a lama, a cachaça, as mulheres, as damas, as vendedoras do corpo, as saciadoras da alegria, a tristeza, a algazarra, a música, os ventos, as tempestades, o medo, a traição, os sonhos, os vivedores do cais, os espertalhões, o choro, a certeza, Iemanjá, Janaína, a desgraça, a glória, o frio, a incerteza e novamente o medo, o medo da morte, o medo que a tudo corrói e a tudo transforma. O medo do mar. Não existe navegante que não tema o mar, que não tema Iemanjá, que não tema os ventos, as tempestades, as ondas, a ira da deusa de cabelos longos e de beleza sem igual. O medo de Guma diante da traição e da fraqueza dos seus desejos. O amor de Lívia para o seu homem. Lívia, uma mulher com a força de Iemanjá. O mar de Iemanjá como cenário sagrado e reino das verdades e segredos dos navegantes. O mar dos saveiros e seus mestres. O mar, palco de romances, aventuras, sorte, gozo, riqueza, vitórias e infortúnios. O mar da Bahia, de todos os Santos e magia. Mar Morto, um tratado brilhante, de um escritor brilhante, sobre um mundo desconhecido e guardião de segredos. Obrigado Jorge Amado por ter escrito Mar Morto!     

Marina Aven, na toada do boi

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A Aven, Associação de Vela e Esportes Náuticos do Maranhão, que ilustrou postagem aqui em Junho de 2012, foi criada com o intuito de reunir os velejadores do Boi Bumbá em um espaço totalmente voltado para o mar. Agora a Aven virou marina e oferece suas dependências para os navegantes que desejarem conhecer o litoral brasileiro de ponta a ponta, ou para aqueles que, seguindo no rumo da venta, tiram uma reta direto para as ilhas caribenhas sem conhecer o que o Brasil tem de bom. A Marina Aven, que disponibiliza 4 vagas no píer e poitas para barcos visitantes, oferece serviço de abastecimento de água, energia, restaurante e bar. Somado a tudo isso, o visitante recebe ainda todo o carinho e atenção dos velejadores maranhenses, que não é pouco. No site da Aven o navegante encontra todas as informações e a rota, com waypoints, para conhecer as belezas de um estado maravilhoso, de cultura riquíssima e que respira o mar.  

Aviso aos navegantes

anima_alturaO mar na costa do nordeste não está prometendo vida fácil para o jangadeiro por esses dias invernosos e os satélites do CPTEC/Inpe anunciam ondas que devem variar entre 2 e 4 metros de altura entre os dias 28/06 e 03/07. Os surfistas estão rindo a toa, mas a Marinha do Brasil alerta aos navegantes de pequenas e médias embarcações para terem parcimônia e observem os avisos meteorológicos. Quem vai ao mar avia-se em terra.

Uai! Parte 3

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“… Eu nasci no celeiro da arte/No berço mineiro/Sou do campo, da serra/Onde impera o minério de ferro…” Paula Fernandes

Se existe um lugar que não falta o que fazer esse se chama Belo Horizonte, cidade emoldurada pela Serra do Curral e elevada 852 metros acima do nível do mar. A capital mineira, no alto dos seus 119 anos, é um labirinto de cultura e história tão rico como as minas de ouro e diamante que lhe trouxeram riquezas. Não vá a BH, como ela é carinhosamente chamada, pensando apenas nos 14 mil botecos e nos milhares de restaurantes que oferecem cardápios que botam por água abaixo o mais xiita regime alimentar. Vá também, e calçado com um bom par de “conga”, com vontade explícita de bater pernas por museus, igrejas, praças e ruas, pois se não for assim, você vai ficar em divida com sua consciência. Consciência pesada é a peste!

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No terceiro dia de nossa viagem pelas paragens mineira, tiramos para conhecer um pouco da história da capital e sendo assim, desembarcamos em plena Praça da Liberdade, onde as coisas acontecem, e ficamos na indecisão de todo turista quando se vê cercado por tantos monumentos históricos. A Praça em si já é dotada de uma altivez sem igual e a cada ângulo visado os nossos brilham de encantamento. Jardins bem cuidados, pessoas passeando, outros apenas sentados nos bancos em longos e animados bate papo. Os que procuram uma vida mais saudável gastando o solado em suadas corridas e caminhadas. Alguns apenas olhando o mundo em volta e nos ali tentando entrar no clima de uma cidade convidativa, exuberante e com um sotaque arretado de ouvir.

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Como em um jogo de par ou ímpar, escolhemos o nosso primeiro destino nas cercanias da Praça e mergulhamos nos salões do Centro Cultural Banco do Brasil, um imponente prédio inaugurado em 1930 para servir de instalação para a Secretaria de Segurança e Assistência Pública, porém, o órgão foi extinto na data da inauguração. No mesmo ano de 1930 o prédio passou a ser sede do Comando Geral das Forças Revolucionárias. Tempos depois acomodou a Secretaria de Defesa Social e a Procuradoria Geral do Estado. Em 2009 foi iniciada ampla reforma e em 2013 foi inaugurado o Centro Cultural Branco do Brasil que tivemos a alegria de visitar.

1 maio IMG_0004 (210)1 maio IMG_0004 (221)1 maio IMG_0004 (230)1 maio IMG_0004 (232)

Com amplos corredores e salas com um acervo espetacular, o museu ocupa uma área de 8 mil metros quadrados e diante de tantos e relevantes registros históricos, fica quase impossível apressar o passo. O resultado é que o relógio anda e a gente fica perdido entre o que ver após sair de lá. Ainda mais que eu me ative com a amostra do artista Nuno Ramos, intitulado “O Direito à Preguiça”. Claro que não é o que você está pensando, foi apenas que gostei.

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Novamente de volta aos bancos da Praça, miramos na fachada de um prédio localizado na esquina da Alameda da Educação com a Gonçalves Dias, caminhamos em sua direção e descobrimos ser o Memorial Minas Gerais – Vale, mais um museu incrivelmente encantador e que leva o visitante a conhecer um pouco mais sobre a história e as características do Estado.

20160526_113344O prédio, inaugurado em 1897 para ser a Secretária de Estado da Fazenda, por si só já é uma coisa de ser admirada de boca aberta e a história contada de forma interativa nos 31 espaços do museu nos deixa babando. Descobrimos que foi naquele espaço que foi lançada a pedra fundamental de Belo Horizonte. De sala em sala, de corredor em corredor e de escada em escada vislumbramos as obras de Guimarães Rosa, Carlos Drummond, Milton Nascimento, Sebastião Salgado e outros mineiros famosos.

20160526_11335920160526_113439Passeamos pelo panteão da política mineira, pelo ativismo dos heróis da inconfidência, pelos anais da construção da cidade, pela riqueza do ciclo do ouro, dos diamantes, arregalamos os olhos e rimos com as incríveis lendas urbanas e sentimos a força da fé que protege um povo. Toda a história mineira está apresentada e representada nos salões do Memorial e a vontade era de permanecer horas infinitas escarafunchando tudo nos pormenores, mas o relógio não parava, a fome apertava e ainda tínhamos muito a caminhar e conhecer.

20160526_113554E agora? Vamos prá onde? Lucia bate o pé e diz querer conhecer o Museu de Arte Popular Cemig. Vamos! Não vamos! – E a fome? – É bem ali do outro lado! – Então vamos, mas bem ligeirinho! – E os outros museus e obras do Circuito Liberdade? – Vai ficar para outra vez, pois dá tempo não!

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O folheto anuncia que o Museu de Arte Popular é um mergulho na cultura de raiz e fica na Rua Gonçalves Dias, 1608, parede e meia com a Praça da Liberdade. Caminhamos até lá e demos com o nariz na porta, pois estava fechado. Lucia ficou entristecida e para compensar, decidimos ir ao Mercado Central para pegar o rango e conhecer um pouco de sua fama.

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“… Meu caminho primeiro/Vi brotar dessa fonte/Sou do seio de Minas/Nesse estado, um diamante…”

Nelson Mattos Filho/Velejador

Aviso aos navegantes

anima_alturaA Marinha do Brasil alerta sobre a ocorrência de ressaca entre Cabo de São Tomé/RJ e o Litoral do Rio Grande do Norte entre os dias 25 e 28/06. O site Cptec/Inpe, diz que a previsão é que as ondas cheguem a 2,5 metros. 

O paraíso é do Led

Não sou músico e apesar de ser filho de um trombonista sem igual, nunca aprendi a tocar um instrumento, porém, harmonias, compassos e batidas fizeram parte de minha vida. Ao ouvir os acordes iniciais de Stairway to heaven, do Led Zeppelin, reclamados pela banda Spirit como sendo plágio, achei parecidos, mas não similares. Ontem, 23/06, o tribunal do juri que julgava a peleja absorveu a banda inglesa dizendo assim: “…são parecidos, mas não intrinsecamente similares…”. 

Alguém haverá de perguntar o que tem isso com os assuntos desse Diário e vou me apressar em responder: Sou saudosista apaixonado pelo bom rock and Roll e as músicas do Led Zeppelin invariavelmente eram temas para as velejadas do Avoante. O Led é insuperável e a escada do paraíso continuará brilhante!

 

Viva!

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Bem, a vida segue em frente e chegou a hora de retomar o rumo, porém, sem antes deixar de agradecer a todos que mandaram mensagens de apoio e carinho e que nos deixou com o coração apertado de emoção. Continuamos com a certeza de que a vida sobre as águas do mar é bem mais interessante e fascinante do que a oferecida pelas cidades, mas tudo bem, vamos tentar caminhar e reaprender coisas que há muito deixaram de fazer parte de nossas vidas. O melhor de tudo foi ver a alegria estampada no rostinho de minha Ceminha, quando entrei em sua casa e disse que havia retornado. Ceminha, como toda Mãe, sofria calada, mas jamais deixou de sorrir, porque sabia que Nossa Senhora me protegeria de todo mal e intercederia para que o mar sempre me permitisse a passagem. Como é gostoso o afago de carinho de uma Mãe! Como é gostoso sentir o calor de seus abraços! Como é gostoso ouvir sua voz e sentir o cheiro de seu corpo! Como é gostoso alisar seus cabelos! Como é gostoso uma Mãe e poder chamar seu nome! Hoje estou aqui, em sua casa, e a espera de saborear suas deliciosas canjicas de véspera de São João. A canjica da Ceminha não existe igual! Porém, a canjica de hoje não sairá de sua mão mágica e sim das mãos de minha irmã Grace, que aposta todos os milhos que aprendeu de cor e salteado a receita e aprendeu mesmo, pois se não for igual é pareia. Digo porque saboreei a prova e aprovei. Viva São João e viva minha Ceminha!

Avoante avoou

3 Março (258)

Voa Avoante, voa e vai fazer seu ninho em outro coração, mas saiba, e sei que você sabe, que meu coração é seu e dentro dele ficaram os galhinhos secos onde você deitava o corpo e se aninhava para me encher de alegria e paz.

Obrigado por tudo meu amigo. Obrigado pelo carinho, pelo conforto, pela segurança, pela paz, pela alegria, pelo prazer, pelos risos, pelos choros, pelas aflições, pelos ensinamentos e por ter me mostrado horizontes que jamais imaginei existir.

Foram dezesseis anos de cumplicidade, desses, onze anos e cinco meses morando a bordo. Uma vida recheada de alegrias, felicidades, amizades, aventuras, histórias, causos, navegadas – algumas boas outras nem tanto – e muito companheirismo, aconchego e carinho recíproco. Essa foi a nossa vida a bordo do Avoante durante todos esses anos. Agora chegou a hora de dizer adeus para seguirmos caminhos opostos. Nós tomaremos o rumo de terra, ele segue sua sina de bom marinheiro e tornará a fazer a alegria de novos companheiros, pois essa sempre foi sua missão.

Pois é gente, o Avoante não é mais nosso e não tenham dúvidas que foi a decisão mais difícil e complicada que já tomamos. Depois de onze anos e cinco meses precisávamos retornar para a loucura das cidades e tentar zerar pendências que foram sendo deixadas de lado. O mundo cobra, a vida cobra, o corpo cobra, a cidade cobra e diante de tanta sincronia de cobranças, as amarras voltam a ser lançadas sobre o caís.

– Planos de retornar ao mar? – Claro que sim, pois sobre o mar a vida é mais sensata, lógica, simples, descomplicada, desapegada e feliz, muito mais feliz! Demos sim uma guinada de 180 graus, mas é assim que faz o povo do mar quando precisa navegar para frente e por mais que tente orçar os ventos não permitem.

Continuarei aqui nesse cantinho a falar não somente do mundo fascinante que é o mar e tentando repassar os ensinamentos que aprendi, porque, assim como as fragrâncias e os sabores, os temas da vida são diversos. Continuarei com sempre fiz: Escrevinhando sobre o cotidiano da vida, das cidades, das coisas, dos mistérios, dos segredos, dos homens, da natureza e tudo de forma livre e desapegada, como bem me ensinou os deuses e seres do mar.

Avoante, avoete, arribação, pomba-de-bando, arribacã – nomes populares para a ave Zenaida Auriculata – é ave migratória que está sempre a se deslocar entre as Antilhas e a Terra do Fogo, tendo a caatinga brasileira região de pouso preferido. O Avoante migrava pelos mares e dele sempre recebeu carinho e permissão para seguir adiante.

Voa avoante, voa e faz seu ninho em outras paragens, mas não deixe nunca de ouvir o chamado do mar, porque lá estão as verdades do mundo. É no mar que a vida se refaz e o homem se recria.

Outros rumos virão, mas por enquanto o bordo é de terra!

Nelson Mattos Filho/Velejador

Uai! Parte 2

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“… Velejar, velejei/No mar do Senhor/Lá eu vi a fé e a paixão/Lá eu vi a agonia da barca dos homens…”

Diz à lenda que na Bahia a pressa caminha a passos muito lentos, se assim for, nada será mais produtivo do que viagem de baiano a Minas Gerais. Nas Alterosas quem andar com pressa perde a essência da visita.

Encerrei o texto anterior falando do Instituto Inhotim e da beleza sem igual que existe em seus domínios, porém, falei tão rápido que agora me vi perdido sem saber se estava caminhando para frente ou para trás. Pera lá que eu não sou baiano, mas é bom dizer assim: Prá que essa pressa meu rei?

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O Inhotim é um programa de um dia ou mais e para ser bem aproveitado a pressa tem que ser deixada na portaria. O museu é dividido em rotas, que a administração chama de eixos, e nos eixos, que tem as cores laranja, amarelo e roxo, estão cravadas as galerias, as obras, os jardins e os serviços de apoio ao visitante. Dois restaurantes dão suporte gastronômico da melhor qualidade e com preços convidativos. Na recepção uma diversificada lojinha de souvenir não deixa ninguém esquecer que esteve por lá.

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Na minha singela opinião, a visita deve ser feita a pé e retirando da proximidade estonteante da natureza o máximo de aproveitamento. São tantos recantinhos saudáveis, aconchegantes e envolvidos em um misterioso silencio ensurdecedor, que duvido ter alguém que não se pegue refletindo nos segredos da vida. As galerias nos transportam a um mundo de idéias jamais imagináveis na cabeça de um pobre mortal. São artes saídas da visão de artistas que expõem ao mundo a mistura da beleza com a crueza da vida e da morte, sem se perder no vazio da incógnita. Tudo ali é fantástico!

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Mas se o visitante preferir poupar as pernas e as reflexões, que foi o nosso caso, basta comprar um bilhete para os carrinhos movidos à energia elétrica que dão um empurrão em alguns pedaços do percurso. Fizemos essa escolha para adiantar o passo, porém, ficamos tão fascinados com a paisagem, com as galerias e com as esculturas expostas ao ar livre, que o dia passou e não conseguimos conhecer tudo.

1 maio IMG_0004 (68)1 maio IMG_0004 (73)Inhotim. – E de onde saiu esse nome tão estranho? Uai, é muita história! Existem vários contos para o mesmo tema, mas nada é comprovado. Uns dizem que se originou em um minerador inglês chamado Sir Timothy que teria morado na área onde hoje é o Instituto. Aportuguesaram o Sir que virou Senhor, que amineiraram de Nho e o Timothy apequenou para Tim. Juntaram o Nho com o Tim e deu no que deu.

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Outra vertente caminha no rumo, e existe um registro comprovado nos idos anos 1865, de um lugar chamado nhotim, onde morava um certo João Rodrigues Ribeiro, filho de Joaquim, e que a localidade foi grafada como Nhoquim. Será?

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O nome Joaquim aparece ainda em uma história contada por uma antiga moradora de Brumadinho, mas que tem também o personagem do Sir Timothy e essa mistura de nome descambou em Inhotim.

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E como cada conto gera outro conto e entre uma pitada e outra o mineiro vai acrescentando mais contos, tem quem aposte num outro inglês, que andou chafurdando pela região entre os anos 1868 e 1886, que se chamava James Wells. Conta o conto que ele conversou com um escravo que caminhava pela estrada e o negro só balançava a cabeça e respondia: “N’hor sim”. Eita mundo velho cheio de história!

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Eu me ative nessas explicações ao visitar o site do Instituto, que tem dados colhidos pelo Centro Inhotim de Memória e Pesquisa, criado em 2008 para resgatar histórias e tradições da região. O Inhotim interage com tudo que está em seu entorno. O Instituto é quase completo nos detalhes. Eu disse quase, pois sentimos falta de informações, como nome, na grande maioria das arvores que formam o parque. Questionei sobre isso com alguns funcionários e eles disseram que os estudos já estavam em andamento e muito em breve a flora estará devidamente batizada.

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Falar da grandiosidade e beleza do Instituto Inhotim é fácil, até porque um museu inserido em uma área 140 hectares de terra merece o reconhecimento. O Inhotim recebe visitantes de várias partes do mundo e de diferentes formações acadêmicas. Mais de 2 milhões de visitantes já caminharam em seus eixos e galerias e hoje, olhando para trás, sinto saudade e uma pontada de tristeza em não tê-lo conhecido por completo. Quem sabe um dia!

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O carioca Milton Nascimento, o mais mineiro dos mineiros, na letra da música, Paixão e Fé, que copiei a estrofe que abre esse texto, canta assim: “… Já bate o sino, bate no coração/E o povo põe de lado sua dor/Pelas ruas capistranas de toda cor/Esquece sua paixão/Para viver a do Senhor…”

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O povo mineiro é pura fé, portanto, vamos a ela!

Nelson Mattos Filho/Velejador

De volta a São Tiago do Iguape

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Vai completar um ano que estivemos em São Tiago do Iguape pelo primeira vez, foi no começo de julho de 2015, e nesse, 17/06/2016, retornamos ao pequeno distrito, que pertence ao município de Cachoeira/BA, para Lucia aprender os segredos para produzir o famoso camarão defumado, iguaria que dá ao acarajé e ao abará um toque de sabor mais do que especial. Antes de entrar na seara da culinária, vou comentar um pouco do que vi um ano depois. Para começo de conversa dessa vez não fomos de barco e sim de carro pelas estradas da vida. Para chegar lá é fácil e nem é preciso pedir ajuda aos duendes do google maps. Partindo de Salvador, pela BR 324, em direção a Feira de Santana, segue por mais ou menos 45 quilômetros até encontrar a indicação para o município de Santo Amaro da Purificação. De Santo Amaro segue pela estrada para Cachoeira e 1 quilômetro após o posto da Polícia Rodoviária Estadual, vira a esquerda – ao lado de duas palmeiras – e depois é só seguir em frente. A estrada termina em São Francisco do Paraguaçu, porém, São Tiago do Iguape fica 6 quilômetros antes.

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Achei a cidadezinha de Iguape bem mais bucólica do que há um ano, talvez porque naquele tempo estivesse se preparando para a sua festa maior em homenagem ao padroeiro. Como dessa vez cheguei com mais de quinze dias de antecedência, a tranquilidade reinava na praça. Enquanto Lucia entrava na aula de defumação com a professora Dona Calú, eu peguei a máquina fotográfica e fui dar uma caminhada até a beira do mar, pois é nele que eu me acho.

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Revi a bela igreja, fotografei canoas, apontei a lente para o rio, conversei com alguns pescadores que chegavam da lida e notei a existência de um pequeno canteiro de obras que soube se tratar da construção de um píer público para embarque e desembarque.

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Será verdade ou será mais uma obra para azeitar as eleições municipais que se aproximam?

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De volta a mercearia de Dona Calú e Seu Jarinho me aboletei numa cadeira e fui prosear com os locais, numa prosa boa, divertida e regada com cerveja gelada e acompanhamento de camarão defumado e amendoim cozido. Entre uma conversa e outra Seu Jarinho disse assim: “…aqui tinham muitos barcos a pano que navegavam até Água de Menino, levando e trazendo mercadoria, mas a chegada do motor nos barcos,  em vez de contribuir acabou com tudo”. Disse ainda que o pai era proprietário do Saveiro Macapá, doou a embarcação para o mestre, esse para o filho e anos depois, em péssimo estado, o Macapá encalhou em um banco de areia e foi abandonado para o sempre. Hoje a frota de Iguape se resume a poucas canoas de tronco, outras de fibra e todas movidas a motor. Uma pena, mas é assim!

20160617_122920Enquanto o bate papo corria solto lá fora, Lucia dava seguimento aos seus estudos e o quando o vento batia, chegava até nós o cheiro do camarão sendo envolvido pela fumaça. Mais conversa, mais causos, mais risos e assim a aula terminou, o almoço foi servido – moqueca de siri – e podemos provar o resultado dos ensinos. A aluna foi aprovada com nota máxima. Pense num camarão defumado que ficou bom!

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Muitos baianos, e não baianos, hão de dizer que essa conversa de camarão defumado em acarajé é balela e tem até quem afirme que o bom mesmo é o camarão cozido. É difícil se chegar a uma unanimidade em matéria de acarajé, ainda mais em um Estado que tem um tabuleiro em cada esquina e onde cada freguês é fiel a sua baiana de preferência. Eu já bati meia Salvador em busca do melhor acarajé e confesso que gostei de quase todos. Alguns vem recheados com camarão cozido, outros com o defumado e para mim o mais saboroso é o segundo, além de ser o tradicional.

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Em 2015 Lucia fez um curso de acarajé e abará, no Senac do Pelourinho, e faz as iguarias para baiano nenhum botar defeito, mas faltava aprender a defumar o camarão, o que não tem muitos segredos, porque ela quer fazer em Natal/RN e lá não vende esse tipo de camarão, ou se vende nunca encontramos. Sabendo ela que os que eram defumados em Iguape eram os mais deliciosos, se prometeu que aprenderia a fazer e pediu ajuda a Dona Calu que se prontificou a ensinar.

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Pronto, agora o tabuleiro de Lucia está completo, em breve vamos tirar a prova dos nove e para quem não tiver a alegria de provar, postarei a fotos aqui para deixar muita gente com água na boca. Me aguarde!