Arquivo do mês: julho 2020

Cartas de Enxu 74

11 Novembro (137)

Enxu Queimado/RN, 30 de julho de 2020

Meu caro e bom, Dr. Ronaldo, já vai alto aquele dia em que sentamos sob o frescor assombreado da varada dessa cabaninha de praia, que tomo de conta, e emendamos os bigodes num bate papo sem freio, regado a fartas taças de vinho, algumas doses da mais legítima cachaça paraibana, temperado pelo aroma do malte do whisky de José Augusto Othon, e, para fechar o firo, saboreamos uma das deliciosas moquecas de Lucia. Meu amigo, aquele dia foi demais da conta, e para não esquecer de registrar, ainda ecoa por entre as palhas do coqueiral, a bela trilha sonora do DJ Othon. Show!

Pois, doutor, é muito gostoso receber pessoas de alma leve, coração maior do que o mundo e que trazem na bagagem, além do abraço sincero, muito carinho. Ainda guardo na memória, e sempre digo a todos que aqui chegam, as palavras de José Augusto, quando Sônia o chamou para irem até a beira mar conhecer um pouco mais dessa Enxu mais bela e conferir as paisagens que sempre retrato: “Sônia, vá e me diga se lá está mais gostoso do que essa varanda. Se tiver eu vou, se não tiver nem precisa dizer”. Demos uma boa gargalhada e Sônia nem titubeou, ficou onde estava.

Sabe o que também não esqueço, dos alertas de Lucia quando achava que eu estava falando pelos cotovelos: “Amor, deixe o povo falar também!”. E eu cá comigo: “Deixo não, porque quando vou ao consultório de Ronaldo, ele também fala que só a bixiga”.

Eh, nas poucas horas de meados daquela Primavera, botamos um bocado de assunto em dia e desenterramos outros tantos há muito esquecidos e, para variar, falamos das coisas do mar e das minhas andanças a bordo do Avoante, que sempre atiçou sua curiosidade. Mas confesso que sinto falta de escrever os relatos da vida tive sobre o mar, dos bons e maus momentos, dos amigos que ficaram com o aceno estendido nas pedras do porto, dos leitores que até hoje cobram entristecidos e do envolvimento do abraço constante da natureza, porém, os ventos mudam.

Hoje estou aqui, numa cabaninha de frente para um magnifico coqueiral, pastorando os alísios, sentindo o cheiro de maresia entrar pelas brechas das telhas, lacrimejando os olhos ao avistar o bailar das velas brancas adentrando o mar e sempre que a preguiça permite, desenferrujando o corpo em saudáveis mergulhos nas águas Atlânticas. No dia a dia a bordo do Avoante, a água estava a um palmo da mão, hoje ela está a alguns passos, amanhã não sei, porque aprendi a seguir os ditames que esvoaçam pelas muralhas do castelo do deus do vento e a primeira regra diz assim: Os ventos são infinitamente mais sinceros do que a razão.

Pois é, caro amigo, prestando atenção nos rodopios dos alísios pelo céu de Enxu, sinto a ligeireza das mudanças no cotidiano dessa vilazinha de pescadores. Dia desses foi a implantação da floresta de torres de cata-ventos, criando ânimo novo, afastando a juventude dos segredos e mistérios do mar e inserindo o povoado no seleto círculo da alta tecnologia energética.

Hoje, em meio ao grave movimento pandêmico, o povoado volta a se assanhar com mais uma promessa da construção de uma estrada pavimentada que ligará Enxu a sede do município. Se a estrada vai sair eu não sei, mas a promessa corre faceira por sobre as dunas. Porém, no rastro do projeto surgiu um fantasma, medonho que só vendo, ameaçando o sossego do povoado.

Doutor, me diga se você leu o romance Tocaia Grande, do amado baiano Amado? Aquele romanceio é instigante, divagador e move em nossa alma um senso de maledicente injustiça. Pois num é que agora surgiu um desarvorado, vindo lá das bandas de além-mar, abanando uma papelada e se dizendo dono do lugar, porque pagou dinheirama boa em tudo que aqui está posto.

– Tudo o que cara-pálida? – Vosmecê, com esse palavreado esquisito, comprou uma cidade que existe há mais de 100 anos, foi? – E por mal lhe pergunte: Com a graça de quem? – Seu rapaz, e você vai pagar pelos investimentos públicos existentes na terra que diz que é sua? – E o que dizem os gestores públicos, de ontem e de hoje? – Seu menino, quando tu chegasses com os cajus o povo já estava comendo as castanhas!

Pronto, Ronaldo Dumaresq de Oliveira, meu oftalmologista favorito, está estirado sobre a mesa da varanda mais um catatau de peleja para a gente tirar prova de vista na sua próxima visita a essa terrinha boa de frente para os quadrantes do Norte. Diga a Dona Célia que arrume o bisaco com um amontoado de roupas que dê para um período longo, pois o moído promete tempo.

Grande abraço e já vou apressar a encomenda do peixe.

Nelson Mattos Filho

Jeanne Baret, uma bela história

JEANNE BARETdoodle-jeanne-baret  Dia 27 de julho, o Google homenageou com os seus famosos Doodles a botânica e exploradora Jeanne Baret, a primeira mulher a fazer uma circum-navegação, durante uma expedição francesa, em 1766. Jeanne nasceu em 07 de julho de 1740, sendo seus pais pequenos camponeses na localidade de La Comelle, e foi desse berço que surgiu seu interesse pelas plantas e suas propriedades curativas. Com a morte dos pais, Baret foi trabalhar como tutora do filho do naturalista e botânico Philibert Commerson, famoso por cuidar dos jardins do rei Luiz XVI. Tempos depois Commerson foi indicado para fazer parte da tripulação de um navio que faria uma volta ao mundo, patrocinado do governo francês, sob o comando de Louis de Bougainville,  porém, o botânico queria que Jeanne também embarcasse, para auxiliá-lo na identificação das espécies de plantas  que fossem encontradas. Naquele tempo, mulheres eram proibidas de navegar a bordo de navios da Marinha francesa e sendo assim, Jeanne se disfarçou de rapaz e embarcou, assumindo, além dos serviços de auxiliar de botânica, os serviços pesados de marinharia de bordo. Foi dela a descoberta e denominação da espécie de trepadeira Bougainville, que hoje dá colorido especial aos jardins e sertão Brasil afora e que embelezam o cercado de minha cabaninha de praia. Contudo, a expedição de Jeanne não ocorreu as mil maravilhas, pois Commerson adoeceu, sendo tratado pela auxiliar de botânica, e durante a passagem da expedição pelo Taiti, em 1768, a identidade de Jeanne foi descoberta pelos nativos, mas como seu trabalho até então estava sendo de grande valia para o sucesso da empreitada, o comandante decidiu mantê-la a bordo até a próxima parada, nas ilhas Maurício, no oceano Índico, mesmo sabendo que isso poderia acarretar processo criminal contra ele. Desembarcados, Commerson faleceu em 1773, devidos seus graves problemas de saúde, e Jeanne, sozinha e sem recursos para se manter, abriu um cabaré em Porto Luís, capital da Maurícia, conheceu e casou, em 1774, com o oficial francês, Jean Dubernat, e retornaram a França, em 1776, quando Jeanne Baret, dez anos após a partida, completou sua volta ao mundo, trazendo na bagagem mais de 6 mil espécies de plantas. Foi recepcionada com honras pelo rei Luis XVI, que a concedeu uma renda vitalícia. Apesar de toda essa façanha e importância das ordens do Rei, a botânica logo caiu no esquecimento, como aconteceu e acontece com tantos navegadores e pesquisadores que deram a vida por uma causa. Parabéns ao Google pelo reconhecimento! Fontes: El País-Brasil; TechTudo; Wilkipédia.  

Aviso aos navegantes

2 Fevereiro (79)

O mar está amuado nesses dias de final de julho, no litoral entre Pernambuco e o Maranhão, e a Marinha do Brasil emite aviso aos navegantes para ondas que podem alcançar 3,5 metros de altura. O aviso é válido até a terça-feira, 28, mas observando força dos ventos que tem soprado na região, o alerta deverá ser mantido. A Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte recomenda que as embarcações de pequeno porte permaneçam no porto. Na madrugada desta segunda-feira, 27, uma embarcação de turismo que operava na ilha de Fernando de Noronha, naufragou a aproximadamente 20 milhas do Porto do Recife, quando retornava ao continente para reparos. Os cinco tripulantes que estavam a bordo foram resgatados e alegam que o naufrágio ocorreu devido a situação de mar muito agitado.

Cartas de Enxu 73

7 Julho (31)

Enxu Queimado/RN, 26 de julho de 2020

Siliba, como vão as coisas pelas falésias da sua Pipa, praia de amores e ouriços mil? Tenho acompanhado que as ruas, becos, ladeiras daí estão liberadas e a turistada anda eufórica, apressada e perigosamente afoita na tentativa de tirar o atraso, como em todos os lugares desse Brasil sem pé e sem cabeça.

Por aqui ainda seguimos rumo pelas tortuosas e torturantes veredas escalafobéticas dos decretos, fazendo de conta que obedecemos e eles, governantes, fazendo de conta que estão preocupados com a saúde da gente.

Que coisa, amigo, quem nesse mundo algum dia imaginou, a não ser os cineastas do caos, que caminharíamos na terceira década do século XXI sob o julgo de um microscópico terrorista. E o pior, sem saber nadica de nada sobre ele, mesmo com os nossos diplomados e festejados doutores, se avexando a explicar o que nem imaginam saber.

Pois é, amigo, não é fácil viver sob a severidade ditatorial desse chinesinho sanguinolento, pois o danadinho é tão sacana que virou o mundo pelo avesso e conseguiu nos transformar em verdadeiros bichos do mato, tamanha é a desconfiança que demostramos com quem tenta se aproximar a menos de dois metros de distância da gente. E não é para menos, pois o monstrinho está corroendo nosso juízo, nossas entranhas e se o caboco desdenhar, quando der por fé, já era.

Siliba, sinceramente não tinha pretensão de lhe impacientar com esse papo troncho e covidiânico, mas fazer o que, se a fera não nos deixa quieto nem por um segundo sequer. E dessa minha varandinha de cara para o vento, todos os dias assisto o desenrolar de um filme de suspense sendo rodado, horas em câmara lenta, horas em ritmo alucinante, e com personagens indiferentes ao roteiro e desdenhando da cara enfezada do diretor.

Amigo velho, o povo cansou da conversa apapagaiada dos governantes, onde nenhum deles fala coisa com coisa e o coisado que se exploda em meio ao foguetório ideológico. Já ontem botei a máscara no rosto, me apeguei de um frasco de álcool gel, medi aproximadamente a distância que teria que ficar dos outros jogadores de conversa fiada, sob a sombra da árvore da esquina, e fui escutar o que o povo anda assuntando. Meu amigo, recebi no peito um temporal de idiossincrasias, que só me restou chegar calado e sair mudo.

Mas como certa vez falou um conhecido: “Nelson, temos mesmo de estar que nem cego em meio ao tiroteio, pois se colocarmos seis médicos sentados ao redor de uma mesa, nenhum deles terá base científica para aprovar uma receita”. Pois é, Betinho, o que teria eu a dizer aqueles amigos que estavam sob a sombra da árvore da esquina? Nada, né!

Dia desses o prefeito de uma cidade baiana disse que iria autorizar a abertura do comércio e quem morrer, que morra, porque ele já estava de saco cheio com tanta cobrança. A imprensa, como sempre nessa pandemia, se avexou a baixar a lenha no quengo do alcaide, mas o homem não recuou e a vida por lá seguiu fervendo que nem tacho de acarajé.

Eh, Siliba, realmente essa é uma equação sem resultado lógico e que passa a anos-luz dos laboratórios das ciências. Quem sabe o Neowise, esse cometinha invisível que anda chafurdando pelo céu, traga em sua calda algum fragmento desse segredo.

E por falar no tal cometa, pense num bicho marmotento! Fez questão de se mostrar bonito nas lentes telescópicas, no mês de março, anunciou que daria umas revoadas no firmamento para alegrar a moçada, animou meia dúzia de letrado nas coisas das estrelas a discursar, ditar loas e desenhar movimentos espetaculosos e na hora do vamos ver, malandramente tirou o rabo da reta. E o pior que teve gente, nas quebradas do Sudeste, que ainda pagou uma nota preta para ver, ou melhor, não ver. Sei não, viu!

Pois é, Humberto Costa Dias, desde aqueles dias em que você, num passe de mágica, armou a tenda de uma barraca na paz do terreiro sombreado dessa cabaninha de praia, o mundo deu uma cambalhota e agora caminha de ponta cabeça, porém, para não ficarmos para trás, temos que entortar o esqueleto, se apegar com uns paus de escora e aos trancos e barrancos seguir arrastando uma perna, empurrando a outra com o braço e tentando acreditar em toda milacria que nos dizem, até que alguém receite outro conto e assim por diante.

Siliba, já que o coronavírus só vai nos deixar em paz no dia que bem entender e que até um cometa resolveu tirar onda com a nossa cara de besta, vamos deixar quieto, baixar a bola, abrir uma garrafa de vinho e esperar que os ventos de Eólo tragam boas novas ao mundo.

Por enquanto é isso e se quiser tirar esse conversê a prova, venha aqui, traga Idio, Kaká, Alecrim e Meiota, que garanto a moqueca.

Abraços.

Nelson Mattos Filho

É a China contra o mundo

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Passando a vista pelos sites de notícias mundo afora, sobre as coisas do mar, me deparo com a página do Expresso, do Equador, denunciando a invasão de pesqueiros chineses, este ano 260 embarcações, dentro do limite de 300 km da Zona Econômica Insular Exclusiva (ZEE) do país sul-americano e ao largo da Ilhas Galápagos, que está entre os belos santuários ecológicos e paisagísticos do planetinha azul.  Não é de hoje, e pelo visto será pela eternidade, que os chineses desrespeitam normas, decretos, acordos e leis internacionais que tratam e delimitam a questão dos recursos pesqueiros e sempre que são flagrados agem como se nada fosse com eles e se arvoram da prerrogativa de que o mundo precisa deles e do potencial econômico da bandeira de estrelas amarelas. O mais cômico é assistir a encenação e malabarismo dos defensores das causas ecológicas e ambientais em combater os crimes dos danados meninos vermelhos, pois nada é de vera, a não ser a despesa que apresentam aos governos e financiadores de suas causas. E a Covid-19 está aí, faceira e tininda com seus olhinhos puxados.     

25 de Julho – Dia do Escritor Nacional

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Parabéns a todos aqueles que nos fazem sonhar, aprender, falar da vida, se apaixonar, se emocionar, amar, chorar, rir, se enraivecer, ter saudade, viajar, conhecer o mundo, as estrelas, os planetas, o infinito, caminhar lado a lado com personagens da história real e fictícia, onde muitas vezes nos pegamos em fascinantes e delirantes bate papos. Parabéns, escritor, porque sem você nossa vida seria um amontoado de páginas em branco.

No rabo do cometa

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Há dois dias preparo minha velha máquina de tirar retratos e vou ao terreiro olhar para o céu em busca de registrar o cometa Neowise, que anda fazendo estripulias no manto negro do firmamento, porém, o tempo nublado sobre Enxu Queimado/RN tem sacudido um balde de água fria em minhas pretensões astrolábicas, foi daí que me avexei a curiar o facebook do geólogo, velejador, retratista, radioamador, colecionador de tudo um pouco e curioso que só a mulesta dos cachorros, Joaquim das Virgens, pois sei que ele não perderia um momento desses nem por um pão e uma cocada, e lá estava o cometa fazendo pose para as lentes super potentes de Joaquim e ele ainda dizendo que  “o cometa está visível logo após o por do sol, deve ficar mais alguns dias no céu. Não espere ver nada além de um borrão ofuscado no céu. Ele aparece assim apenas nas fotos.” Pois é, Quinca é um danado! Porém, para quem não sabe da missa um terço e vou pegar carona no rabo do bicho para contar o que aprendi, ou melhor, que acho que aprendi: O C/2020 F3 Neowise foi descoberto em 27 de março de 2020, em pleno período covidiano, pelo telescópico espacial Neowise, daí seu apelido de batismo, passando a ser rastreado a partir de então. Desde o começo de julho que ele pode ser observado a olho nu e entre o dia 22 até poucos dias mais a frente, o corpo celeste estará mais brilhante, desfilando e fazendo rastro lá pras bandas do poente. Ainda não vi ao vivo, mas amanhã, 23/07, estarei novamente de prontidão e torcendo para que o céu esteja desanuviado. Eita piula, agora que deu na telha que nem pedi licença a Joaquim para copiar o seu retrato e um tiquinho dos seus escritos, mas acho que vai dar certo, pois ele é gente boa!    

Aldeia dos potiguares

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Nas lentes cirúrgicas do doutor e retratista juramentado, Francisco Diniz, um pedacinho de uma cidade linda, a cascudiana Natal, a Noiva do Sol. Pela enigmática boca da barra, escancarada na imagem, outrora adentrou uma bela história, história essa que hoje vaga como um fantasma, entristecido e maltrapilho, por entre as margens do Potengi amado.

Esportes em tempos de pandemia

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A Liga Mundial de Surfe anuncia que a edição 2020 está cancelada devido os desdobramentos da pandemia da Covid-19. Segundo Erik Logan, CEO da entidade que administra a Liga, se a situação sanitária no mundo permitir, a edição 2021 terá início em novembro deste ano, em Maui, com a disputa das mulheres, e os homens entraram na água em dezembro, em Oahu, mas nada é certo, apesar da organização acreditar que o surfe é um dos esportes mais adequados para as competições serem realizadas com segurança durante a era da Covid.

Passando a vista para observar decisões tomadas pelos dirigentes de outros esportes, vejo que o futebol forçou o avanço da linha de impedimento, os bandeirinhas fizeram ouvidos de mercadores e na midiática fama de esporte das massas, acomodou juízes, governantes e os milhares de pseudos analistas das teorias médicas nas arquibancadas e correram para o abraço da torcida.

Já os barqueiros do iatismo, estão com um olho no vento e outro pastorando as nuvens pandêmicas que escurecem o horizonte. As grandes competições internacionais e brasileiras estão com as velas recolhidas e muitos barcos já estão agasalhados e hibernando nos pátios dos clubes a espera do calendário 2021, porém, a Refeno – Regata Recife/Fernando de Noronha, apesar da ilha maravilha ser um habitat sensível e com sistema de saúde fragilizado, segue em rumo batido, nesse mar tempestuoso, para o tiro de largada, em outubro.

Ah, a foto é do campeão mundial de surfe 2019, o potiguar Ítalo Ferreira, criado e formado nas ondas de Baía Formosa/RN.

O silêncio

1 Janeiro (285)

Um velho nauta, sentado sobre a frieza macia da duna branca, observando o rodopio dos alísios e escutando o suave marulhar de ondas azuis esparramando espuma branca sobre a praia, acendeu um cigarrinho de palha, deu um longo trago e falou para um conhecido que acabava de sentar ao seu lado: “O preço do silêncio é um mistério, porque para uns, basta um olhar, para outros, um aceno, para tantos, uma promessa, e tem os que se calam por um morno aperto de mãos.” E não mais falou, porém, seu olhar vagava por muito além da linha do horizonte.