Arquivo do mês: julho 2019

Cartas de Enxu 45

1 Janeiro (70)

Enxu Queimado/RN, 28 de julho de 2019

Pois é, Torpedinho, a vida não está fácil pelas “terras de pindorama” e até pensamos que estaríamos prestes a ver alguma luz que indicasse novos rumos a serem seguidos, mas tudo indica que continuaremos navegando feito marujos desnorteados. Será herança dos nossos descobridores? É bem capaz, viu! Aliás, como estão as coisas pelas terras dos maracatus? Aqui vai indo e quase do mesmo modo que você viu no comecinho desse julho que já se encaminha para os finalmentes. Porém, até nos mais bucólicos povoados desse país de temperaturas moderadas, a vida segue deixando rastros e impressões digitais nos escaninhos da história dos povos.

Amigo, o mar de Netuno – ou seria de Iemanjá? – tem andado meio amuado por essas bandas daqui, mas nada diferente do que tem acontecido a partir do litoral sudeste e subindo para os lados de cá. Os alarmentos, mas nem por isso mais responsáveis por suas ações, apostam que os reclames da natureza são consequências dos nossos atos, porém, nem os meninos das ciências se entendem sobre a razão e vez por outra estão batendo cabeça nos compêndios. Dia desse vi um professor da USP dizer, entre risos e bocas, que em meio as causas ambientais, principalmente ao mal falado aquecimento global, existe muita farinha falsificada no angu. Acreditar em quem? Vai saber!

Certa feita, ouvi um caçador de estrelas e planetas dizer que o eixo da Terra deu uma leve escorregada para o lado, mas não me pergunte para que lado, pois ele não disse e até tentei fofocar sobre o escorrego, mas ele calou-se diante das cartas, fez cara de paisagem estelar e recolheu as fichas da mesa. Deitando em minha rede, armada sob a varandinha, fico matutando, entre um cochilo e outro, será que esse reboliço de mar tem relação com esse moído. Rapaz, sei não, mas se continuar assim não vai demorar muito para o Sul virar Norte, Nordeste virar Sudeste, Centro-Oeste continuar Centro-Oeste, e assim, ninguém vai poder falar de ninguém.

Ei, Cleidson – é estranho chamá-lo assim, mas vou enfrentar a estranheza -, por falar em reboliço de mar, por essa região tem acontecido uns fenômenos arretados e que têm feito a alegria dos pescadores e das páginas nas mídias sociais. No final de junho, na praia de Galinhos, bem aliiii mais para o Norte, as redes de arrastão tiraram do mar uma ruma danada de Garabebeu, peixe que passa longe das receitas dos amostrados. Neste dia 25/07, na mesma praia de Galinhos, mais um lance de rede, e mais outros, acertaram bem de cheio em uma colônia de Corvinas, que segundo a conversa dos pescadores, rendeu mais de 25 toneladas. Foi peixe, amigo, foi peixe! JÁ no mar dessa Enxu mais bela, os barcos estão chegando carregados de Bonito, outro peixe que passa distante das receitas dos chefs, mas que é uma delícia quando preparado pela mão azeitada do povo do mar. É a vida sendo levada adiante pela natureza, que nos mostra a todo instante que nem tanto, nem tão pouco, pois o que ela quer dar, ela dá e nem adianta a gente espernear e nem querer se meter a adivinhações.

Pernambucano, por falar em natureza, quando você dará uns bordos por aqui naquele seu catamarã bala. Vi que você já está alistado na raia da próxima Refeno, Regata Recife/Fernando de Noronha, e fiquei imaginando que, na volta da ilha maravilha, você pudesse dar uma voltinha por essas quebradas. Rapaz, olha só as belezas que tem por aqui: Praia do Marco; Enxu Queimado; Ponta dos Três Irmãos; Serafim; Caiçara do Norte; Galinhos, Guamaré; Diogo Lopes e mais um monte de enseadinhas arretadas e que merecem registros. Digo mais, quem navegou boa parte do litoral nordestino, mas passou vexado por alguns desses lugares que falei, foi o Pedalinho, cabra arroxado e vivedor, que está mostrando ao povo da vela de cruzeiro, que o litoral brasileiro é muito mais bonito, fantástico, maravilhoso e navegável do que dizem por aí. Grande Pedalinho, que não conheci pessoalmente, mas tem toda minha admiração e reconhecimento.

Torpedinho, deixa eu lhe contar uma tristeza: No começo da semana, estava eu pintado o cercado de madeira do chalé que estamos terminando e que você bem conhece – Aliás, o ar-condicionado já está instalado -, quando passou um garoto, na companhia do pai, e ele vinha desembrulhando um bombom. Após colocar o doce na boca, seguiu segurando a pequena embalagem na mão, e o pai, que deveria ensinar, gritou: Sacuda esse papel na rua, seu p….! A criança, acho eu, para não levar uns puxões de orelha ou receber mais impropérios, soltou o papel sobre o chão. Sentenciei em meus pensamentos: – Pronto, nasceu mais um sugismundo!

Cleidson Nunes, advogado e velejador como poucos, a varanda dessa nossa cabaninha de praia está com saudade da sua prosa arretada e multifacetada que nos deu muitas alegrias durante os breves dois dias em que esteve por aqui. Você prometeu que iria volta, portanto cumpra a promessa ligeiro, viu! Para apressar seu passo, vou pedir que traga um bolo de rolo, iguaria que tem a marca, as cores, o sabor e a alegria da cultura da sua terra. Mas se não pedir muito, traga também uma cachacinha dos bons alambiques pernambucanos, que garanto a pareia do peixe frito, ou para variar, umas lagostas no bafo.

Abraços,

Nelson Mattos Filho

Baía de Camamu, a realidade e o país da fantasia

Outubro (1)

Sou solidário na dor e na revolta, diante do sentimento de impotência, que deve estar sentindo a velejadora Guta, mas o que aconteceu com ela, na baía de Camamu/BA, é nada mais, nada menos, do que acontece diariamente no Brasil real, que é o Brasil infinitamente distante das páginas e retratos editados das mídias sociais. No país maravilha dos facebooks, instagrans, whatsapps e outras feitiçarias quaisquer, a realidade do que aconteceu a bordo do veleiro Guruçá representa apenas nada mais do que um dia, ou no máximo dois, de curtidas e comentários revoltosos e ponto. O áudio que hoje, 26/07, foi divulgado pela velejadora é o retrato mais fiel da realidade que vive o Brasil verdadeiro. Realidade em que figuram os personagens da justiça que emperra na hora que deveria andar, da delegacia que está fechada em horas inoportunas ou simplesmente não tem pessoal, nem material humano, nem carros, nem equipamentos para atender uma ocorrência. Do hospital que não atende por falta de medicamentos, equipamentos adequados, macas ou apenas porque o médico não quer atender naquela hora crucial para aliviar a dor e a alma daqueles que sofrem. O Brasil onde as autoridades impedem a divulgação das estatísticas e onde as estatísticas são manipuladas ao bel prazer das suas vontades. O Brasil do tudo pode e nada existe de fato, nem de direito, pois tudo é direito e nada é fato. O Brasil em que uma criança dos cafundós da floresta amazônica é barbaramente assassinada pela mãe e sua companheira e tudo continua como antes. O Brasil onde o assassino  confessa que matou apenas pelo prazer de matar, porque o que ele queria era ficar alegre, e ficou. O Brasil do tudo, do nada, do bárbaro, do sentimento de impotência, da desgraça, da graça, da esmola, do circo, dos aplausos, das vais, dos vivas, do futebol, do santo ofício, das necessidades. Brasil da falta de vergonha na cara. O Brasil que vota por um pedaço de pão e uma dose de cachaça, mas que não deve nada ao Brasil que vota por uma dose de uísque 12 anos e um jantar no mais caro restaurante do jet set. Amiga Guta, infelizmente sua dor é real, mas sua luta é inglória, e você irá perceber ao caminhar alguns passos até que resolva olhar para trás, pois ninguém, a começar pelas autoridades que deveriam lhe dar abrigo, marchará a seu lado por mais do que um ou dois quarteirões, pois no Brasil da fantasia não cabe a insensatez da realidade. Encerro esse texto inglório e revoltante com o comentário do velejador baiano Julival Fonsêca de Góis, na postagem, Triste sina de um país contaminado pela impunidade.          

Olá, caro Nelson, pena que após expressivo período de tempo sem nos falarmos, que agora voltemos a fazê-lo como dantes. De início, queremos dizer que sua ira é uma maneira injusta para com nosso poder superior: Guta, deveria, sim, ajoelhar-se sobre uma camada de sal grosso, sob sol escaldante de 45 graus, por horas seguidas parada como uma estátua sobre a cabine do veleiro, com o olhar voltado para os céus e de modo contrito orar, orar e orar agradecendo ao criador por ter saído viva. Não ela a primeira vítima “ingrata” e não será possivelmente a única. Situações idênticas acontecem em todos os quatro quadrantes brasileiros. E quando ouvimos nossos gestores responsáveis, todos são unanimes em dizer: “hoje como nunca, nosso governo tem diminuído a violência”. Falam assim cinicamente enganando-se a si próprios. Há poucos dias, um grupo de bandidos, em represália a uma determinação judicial, invadiu uma propriedade da VERACEL, produtora de eucalipto e sob os “holofotes” dos celulares, não se intimidavam em mostrar toda brutalidade de que são capazes, quando quebraram e queimaram veículos, por pouco não assassinando os seguranças empregados exatamente para protegerem o patrimônio alheio. E porque assim procederam? Exatamente pelo indiferentismo de nossas “aRtoridades” em casos semelhantes, a exemplo do bandidiso cometido ano passado contra investidores japoneses no município de Correntina, oeste baiano, quando tudo destruíram causando prejuízo superior a 60 milhões de reais, deixando centenas de famílias desempregadas e inibindo a que outros investidores pensem em novos projetos. Para não mais nos alongar, quando nos decidimos pela venda do SEDUTOR( já felizmente consagrada), a razão maior foi exatamente essa: ausência de liberdade par vivermos nossa velhice em paz ao sabor dos ventos. Esteja certo, que não fossem esses registros, nossas delegacias de policia, estariam criando dificuldades para a realização dos “BO”, imoral situação que segundo alguns, uma determinação de sua excelência, a excelentíssima autoridade maior do estado da Bahia, o Excelentíssimo Senhor Dr. Governador. Agora, uma pergunta que não “ofende”: É ele diferente dos anteriores? Não, não é! Porque todos tem sido farinha com “bolô” no mesmo saco! Calate-boca, Julival! É melhor parar por aqui. À senhora GUTA, nossa irrestrita solidariedade. Fraternalmente, Julival Fonsêca de Góes

Triste sina de uma país contaminado pela impunidade

Outubro (45)

Essa imagem é de uma das mais fascinantes ancoragens da paradisíaca Baía de Camamu, o canal entre as ilhas de Sapinho e Goió. Jogar âncora nas águas desse canalzinho delicioso é um desejo de boa parte dos velejadores de cruzeiro, não somente brasileiros, mas principalmente estrangeiros, que se encantam pela vida vivida quase em estado bruto da encantadora baía que é o principal cenário da Costa do Dendê. Essa imagem é de 2015, última vez que passei por lá, a bordo do veleiro Compagna, do comandante Braz, em viagem que teve a carioca Paraty como destino final. Sou declaradamente apaixonado pela Baía de Camamu, um lugar mágico, e adentrar navegando aquela indecifrável paisagem, que o Criador se esmerou em desenhar, não tenho palavras para definir. – Quer que conte uma tristeza? – Conto! Segundo informações colhidas nos grupos de mídias sociais de velejadores, foi no canal do Goió que nesta quarta-feira, 24/07, aconteceu mais um criminoso caso de pirataria no Brasil, quando dois bandidos invadiram o veleiro carioca Guruçá, do comandante Fausto, e agrediram a Guta, esposa do Fausto, crime que ela mesma relatou e você lerá logo abaixo. – Dizer o que? Diante da tristeza e perversidade do acontecido, que felizmente Guta escapou apenas com hematomas, físicos e na alma, e gritando sua dor e impotência aos quatro ventos, não tenho muito a dizer, apenas que enquanto, como cidadãos, somos reféns do caos, nossos governantes brincam de ideologias baratas, de fazer  beicinhos, de discutir bairrismos e de mexer cordinhas de marionetes. – Nós? – Seremos eternamente palhaços!

Estamos fundeados em Camamú -BA e hoje, após Fausto sair com o Xerife para uma caminhada, fui surpreendida por dois homens. Um ficou na canoa e o outro subiu à bordo, com uma faca na mão.
Quando percebi o perigo, infelizmente não havia uma arma na mão, pois eu teria tempo de reagir.
Fui dominada, amordaçada, presa pelos pés em uma cadeira e as mãos nas costas.
Eles perguntavam por dinheiro, só dinheiro, que estava em uma mochila, mas amordaçada, eu não tinha como responder e por isso apanhei.
No rosto, nas pernas, nas costelas e estômago.
Quando encontraram a bolsa, levaram o dinheiro que tínhamos à bordo e mais nada.
O cara da canoa dizia: Rápido, só pegue dinheiro.
Minha pressão caiu e desmaiei.
Quando acordei, meus pés estava roxos pelo aperto da fita na cadeira.
Tive que me machucar mais ainda para conseguir pedir ajuda pelo rádio VHF.
Gostaria de agradecer ao Barba Negra que me desatou, e a todo pessoal: Caboges, Strega, Beijupirá que foram carinhosos e cuidadosos comigo.
Estou toda dolorida e com machucados bem feios que não vale a pena compartilhar.
Toda a comunidade está se esforçando para encontrarem os bandidos, um paraíso como esse não pode ser contaminado com a impunidade.

Lula leitão. Pense numa figura!!!

lula leitão

Juro que não me espanto com nada que vem das profundezas dos oceanos, porque sempre ouvi meu amigo/irmão Pedrinho de Neném Correia, mergulhador dos sete costados, da praia de Enxu Queimado, afirmar que no fundo do mar existe todo tipo de milacria e tem mais marmota do que em terra. Por isso quando vi no site da Revista Galileu a imagem desse bichinho mimoso, batizado pelos meninos da ciência por Helicocranchia pfefferi, vulgo Lula leitão, – será que é bullying? – só dei risadas. Pense num bichinho assim sei lá! Pois bem, a Lula leitão, foi encontrada pelos pesquisadores da expedição Nautilus, organizada pela fundação Ocean Exploration Trust, que incentiva a exploração científica nos oceanos, a pouco mais de 1,3 mil metros de profundidade próximo à ilha desabitada Palmyra, no Oceano Pacífico. O feiozinho quando adulto mede em média 100 milímetros, ou melhor, um tiquinho de nada, e o bucho de pança, que é cheio de amônia, serve para o mimoso boiar. Segundo a matéria da Galileu, tanto a fêmea quanto o macho dessa espécie, morrem logo após a desova e os ovos, que se tornam larvas, sobrevivem a cerca de 200 metros de profundidade, até que engrossam o pescoço – pescoço? – e se vão para chafurdar no escurinho das profundezas. Os curiosos da Nautilus, sem querer querendo, fizeram até um vídeo e espalharam para o mundo através do Youtube. Digo nada a eles, pois foi por causa de um vídeo não autorizado que um caboco levou um drible tão fela da gaita que caiu estatelado no gramado. Quem quiser conferir o vídeo, do “porquinho do mar”, veja aí: 

Praia ou muro?

Jorge Dino

Olha que legal: Dia 13 de julho postei a foto do paquistanês Muhammad Nayem, com o título, Praia ou Carro?, hoje, o maranhense Jorge Dino, comandante em chefe da página do Facebook, Navegantes do Mar de Oceano, envia mais uma foto de estontear visão.  

Olá, Nelson Mattos Filho!
Esta foto tem muitos anos. . . Aproximadamente uns 25 anos.
Em frente de casa, fiz este registro antes de iniciar uma nova viagem pelo Brasil.
Quando a foto foi revelada, à primeira vista parecia que estava em frente a uma praia.
A areia, com o mar anil e a nuvem num céu de azul desbotado.
Na realidade era a rua e a calçada confundindo-se como areia, a pintura da barra da casa e a superior dando a impressão do céu.

 

 

 

Aviso aos navegantes

anima_altura nnnnn Os navegantes brasileiros do litoral sudeste e nordeste tiveram um final de semana de fortes acelerações cardíaca, principalmente aqueles que tinham barcos em ancoragens, devido o swell que se formou no meio do Atlântico, consequência de um ciclone, e subiu a costa montado em uma fera sem arreios. Já a galera do surf, entusiasmada com o sucesso dos brazucas no surf mundial, botou a prancha debaixo do braço para cair na água e festejar os amuos de Netuno. Segundo a animação do CPTEC/INPE, o pior já passou, mas como para ir embora a fera tem que caminhar em um corredor de ventos e correntes, a Marinha do Brasil alerta para ondas de mais de 3 metros entre o litoral de Pernambuco até o Ceará, até o dia 25, e acho bom que os marujos abram os ouvidos e botem as barbas de molho, porque os ventos oceânicos, que assopram o couro da fera do mar, estão bem avexados. Só mais um detalhezinho besta: Se não for espanto da animação, depois do dia 25 vai ter reggae novamente, porque o gráfico indica que tem algum reboliço se formando lá no meio do mar.

Submarino desaparecido há 50 anos é achado no Mediterrâneo

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Nas rodas de bate papo com os pescadores da praia de Enxu Queimado/RN, sempre ouvi dizer que o mar não fica com nada, mesmo que demore um pouco além da conta, ele sempre devolve o que um dia ficou por lá e o que não é devolvido, o homem acha. Em 1968 a França chorou o misterioso desaparecimento do submarino La Minerve, com 52 tripulantes, no Mar Mediterrâneo, a 15 milhas de Toulon. Na época, as buscas foram iniciadas logo que foi constatado a falta de notícias e apesar da grande operação de busca, o mistério continuou no fundo do mar até esta segunda-feira, 22/07, quando a ministra do Exército Frances, Florence Parly, anunciou que o La Minerve foi encontrado a 2.370 metros de profundidade pelo navio americano Seabed Constructor, o mesmo que em 2018 achou o submarino argentino San Juan, que naufragou com 44 tripulantes. A ministra postou assim no Twitter: “Acabamos de encontrar ‘La Minerve’. É um sucesso, um alívio e uma proeza técnica. Meus pensamentos estão com as famílias, que esperaram tanto tempo por este momento”. Fonte: G1 mundo

REFENO – Registros retirados do tempo

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A 31ª REFENO – Regata Recife/Fernando de Noronha – vem aí, com largada programada para 12 de outubro, e fico aqui com minhas lembranças e saudades dos bons tempos em que o AVOANTE fez fila na raia do Marco Zero e aproou a Ilha Maravilha. As imagens, se a memória não me falha, foram registros da REFENO 2002 com personagens que navegaram na história da mais fascinante e desejada regata brasileira: Cláudio Almeida, Flávio Alcides, Marcos Tassino, Paulino, Marcos Camelo, Érico Amorim, Pedrinho, Lucinha, Agis Variane, Ceará, Lucia e, para não faltar o registro, Nelson. 

Tum, tum, tum, tum…

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Tenho dito que os senhores da guerra querem guerrear e vão guerrear a qualquer custo, pois foi assim que se comportaram quando inventaram as duas grandes guerras mundiais e é assim que agem quando querem trocar balas, bofetes e farpas em conflitos ditos menores. Lógico, menores para eles, que sentam o traseiro no bem bom de suas poltronas acolchoadas e vão tomar champanhe assistindo e se divertindo com a matança de inocentes. Na última sexta-feira, 19/07, o Irã apreendeu um navio petroleiro britânico, no barril de fogo das águas do Estreito de Ormuz, e pelo ranger dos dentes dos ingleses o incidente vai gerar mais um passo em direção ao próximo apocalipse. No começo de julho um petroleiro iraniano foi apreendido pelos ingleses, em Gilbratar, mas para os súditos da rainha um mal feito não justifica o outro. Por causa da apreensão do navio da rainha, em Ormuz, os tambores da guerra começaram a bater com mais força e os meninos do Tio Sam, que adoram trocar balas, já estão pintando o rosto e azeitando as winchester. Por outro lado, os galegos tomadores de vodka estão afiando as facas, dando brilho nos grilhões e mandando os uniformes de urso para a tinturaria. Nessa peleja quem falar mais grosso ganha, mas o problema é conseguir que o outro afine a voz. – E nós com isso? Por enquanto quase nada, mas tem dois navios iranianos atracados no porto de Paranaguá/PR, proibidos de serem abastecidos pela Petrobras para não provocar prejuízos nas relações comerciais entre Brasil e EUA, porque as empresas, proprietárias das embarcações,  estão sob sanções dos ianques.         

Cartas de Enxu 44

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Enxu Queimado/RN, 20 de julho de 2019

Meu caro, Sian, desde que você apareceu por essa Enxu mais bela, colorindo o mundo em preto e branco pelas lentes mágicas de sua possante máquina fotográfica e com uma indisfarçada alegria em apresentar aos poucos felizardos o maravilhoso projeto de fotografia documental, Um olhar de Si Através do Outro, passei a mirar as coisas deste minúsculo pedacinho de planeta por ângulos diferentes e muitas vezes indecifráveis. Eh, meu amigo, o que seria das cores se não fosse o preto no branco e branco no preto…. Aí você haverá de perguntar: – Sim, mas qual o motivo da reticência? Sei lá! Talvez porque quisesse escrever mais, mas sem saber o que. Talvez não quisesse escrever nada e elas apareceram do nada, ou talvez porque…sei lá. Bem elas estão aí, apareceram novamente e agora não sei como suprimi-las.

Amigo, as coisas por esse pedacinho de litoral estão caminhando como Deus quer, pois é assim que diz o povo. Juro que não sei se Ele gostaria que as coisas caminhassem como caminham, mas já que o povo diz e que, segundo o ditado, a voz dele e a voz Dele, vamos seguindo em frente e esperando não sei bem o que, mas vamos. Rapaz, não se avexe com esses meus pensamentos amalucados, pois como já disse lá em riba, tenho olhado o mundo por ângulos meio enviesados.

Fotografo, pelo pouco que aprendi naqueles poucos dias de curso, não é tão fácil a gente ver o mundo através do outro, até porque o outro nem sempre se mostra do jeito que é e se formos escarafunchar por aí, é coisa de risco grande, pois com o advento das mídias sociais, o outro é tão outro que ficamos em dúvida se ele é, foi ou será. Lembra do que presenciamos nas dependências da escola? Pois bem, pintam com uma tinta, mas a tinta não tem a cor que pintam. E não são assim as coisas por esses Brasil encantado? São, e em algum dia do futuro aportarão por aqui novos navegantes e esses haverão de nos descobrir por completo. Só tomara que não seja Cabral e sua trupe de degredados, pois se assim for, ele vai mandar cobrir tudo novamente, pois deu certo não.

Sian, por falar nos personagens do descobrimento e como no curso tiramos uma manhã para bater uns retratos da Praia do Marco e seu encoberto e abandonado Marco de Posse, digo que aquela paragem histórica continua a esperar que os contadores da história passem por lá, não só para dizer o pouco já sabido, mas para cobrar daqueles que devem compromisso e se fazem de desentendidos. Você bem viu que o lugar é lindo, paradisíaco, cheio de bons predicados, mas não passa disso, sobrevive apenas dos discursos feitos da boca para fora e sem nenhum compromisso com a intenção.

Ei, amigo, você sabia que o município de Pedra Grande é bem servido de lugares, que se fossem em outros países, ou mesmo em outros sítios por esse Brasil de futuro incerto, estariam ilustrando bem-aventurados programas de ecoturismo? Pois é! Por aqui existem trilhas e mais trilhas por entre as matas da caatinga e dunas. Existem belas lagoas que mais parecem oásis em meio as agruras da seca que castiga a região. Porém, o que é mais fantástico, existem grutas de valiosas riquezas arqueológicas, Gruta de Lajedo e Gruta dos Martins. Assim como o Marco de Touros, as duas grutas, que tempos atrás mereceu aprofundado estudo por parte da cadeira de geologia da UFRN, estão malcuidadas, abandonadas e, segundo línguas afiadas, servem até como depósito de lixo, que se for verdade, configura um criminoso atentado contra a humanidade.

Pois é, meu amigo fotografo, sair por aí brechando o planeta, como ultimamente tem feito o querido jornalista potiguar Flávio Rezende, nos faz ver situações indesejáveis, mas nem por isso impublicáveis. Aprendi que o olhar é facetado e por isso o cérebro nos obrigada a mexer a cabeça para fugir das ilusões de ótica ou mesmo enxergar um pouco mais além do horizonte. Aliás, a ciência prova que enxergamos invertido e o cérebro é que apruma o foco. Agora me diga: O mundo está de cabeça para baixo ou de cabeça para cima?

Sian Ribeiro Sene, meu novo e bom amigo fotografo, já faz dias que você e a maravilhosa Laura Branco botaram os pés por aqui. Que tal começarem a aprumar os passos de retorno? Aqueles retratos que você deixou em exposição já estão amarelando e todos os dias olhos para eles com saudades, mas sabendo que são registros da vida e a vida amarela com o tempo.

Venha, meu amigo, venha provar do sabor dos frutos da semente que você plantou. Não foram muitos frutos, mas toda plantação começa assim.

Grande abraço,

Nelson Mattos Filho