Arquivo do mês: setembro 2016

Cartas de Enxu 03

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Enxu Queimado, 30 de setembro de 2016

Meu caro Afonso, bem que a vidinha por aqui poderia ter seguido na mesma mesmice que você viu há uma semana, porém, a campanha eleitoral entre os vermelhos e os laranjas – é preciso dizer que por aqui laranja é a cor de um partido – andou mexendo com o ânimo dos eleitores e pelas delongas dos palanques, a coisa vai ser decidida no pau a pau. Um lado diz que é liso, o outro fala em dar lapada a torto e a direito, enquanto isso, o povo sai doido em um pula pula quase que sem fim. Tomará que chegue logo os finalmente para ver o resultado da prova dos nove. Meu amigo, por aqui chegaram notícias entristecidas que dão conta que pelos recantos desse Brasil sem rumo os caras estão matando um político e deixando outro amarrado para o outro dia. O que danado é isso homem de Deus? Será que já chegou o dito tempo do retorno, onde os homens se engalfinhavam até por um alegre bom dia? Está parecendo aqueles velhos filmes de Django. Pois é, a bala está comendo no centro e ainda não vi ninguém fazer um pantim para ir as ruas reclamar.

Amigo, pois não é que o violão que você me deu de presente está fazendo o maior sucesso entre os passantes. Rapaz, eu sento na varandinha da choupana e fico naquele moído do, pan, pan, pan/pan, pan, pan, pan/pan, pan e quando a turma passa, comenta: – Eita Nelson, tirando um som aí né? Eu, fazendo pose de quem já sabe, respondo: – Estou ensaiando uns acordes novos!

Sim, já ia esquecendo, pois não é que eu voltei a caminhar, e em plena sexta-feira. Onde já se viu alguém começar a caminhar numa sexta-feira? Pois começamos e tudo indica que já iremos parar amanhã. Tudo indica, mas não é certeza. Pelo menos as estatísticas dizem que sim. Qual estatística? Sei lá, mas deve ter algum estudo sobre isso por aí. Deixando de lado a matemática, eu adoro caminhar e pensar na vida, porque acho que tudo se acomoda em nossa cabeça enquanto caminhamos e os pensamentos ficam oxigenados e mais libertos – com essa agora lembrei do amigo Flávio Rezende. Até os médicos juram de pés juntos que não existe nada melhor para o coração do que uma boa caminhada diária. Eu também acho, mas a danada da preguiça não acha e quando dou por mim ela assume o controle, e eu é que não vou discutir com ela. Se ela quer assim, assim será!

Você viu falar que hoje é dia de uma tal Lua Negra? Pois é! Os cabocos não têm mais o que inventar no mundo aí se danam a pintar a Lua. Um dia é azul, outro é vermelha e agora é negra. Os homens das ciências lunares dizem que quando calha de ter duas Luas novas durante o mesmo mês, a segunda é negra, mas como ninguém enxerga mesmo a Lua nova, fica tudo como está e o dito pelo não dito. Já teve gente dizendo que quando isso acontece, e acontece a cada dois anos, a besta fera corre solta no meio do mundo e tem quem diga que até o chupa cabra dá as caras. Eu andei assuntando por aqui, porém, ninguém sabe desse assunto de Lua negra, por isso resolvi ficar quieto e vou tentar escutar se algum pocotó ecoará pela noite.

Amigo, a caminhada de hoje foi longa e aproveitando a maré baixa, que estava baixa mesmo, deu para pensar um monte de arezia. Você sabia que as paisagens das nossas praias estão mais desfocadas do que retrato de piquenique. Rapaz, as torres dos geradores eólicos já estão quase no beicinho da praia e do jeito que vai, basta Netuno acordar com o tridente virado para engolir tudo. Até as dunas móveis, outrora tão defendidas pela turma verde, já se foram dessa para uma melhor. Aliás, os informes jornalísticos dizem que pelos países primeiro mundista as torres já avançaram mar adentro e já devem estar servindo até de baliza para tirar carteira de marítimo. Pense aí o instrutor dizendo ao aluno: “Encoste o navio de ré entre aquelas duas torres”. Ei, se o cara não for bom não bota nem a pau!

– Você está rindo? Pois não ria não, porque daqui uns dias, quando acabarem as dunas e as caatingas do nordeste, você vai ver o cancão cantar nas hostes de Iemanjá. Vai ser tanto resmungo, tanto amuo, tanto arranca rabo da turma do verde, mas tudo vai entrar num ouvido e sair no outro, pois a turma do progresso é mais arroxada do que dindin. Duvida? Duvide não, pois está tudo aí para provar a verdade! Eu só fico pensando é na turma da vela. Você já pensou a peleja que será ficar dando bordo aqui acolá para se livrar daquelas palhetas gigantescas? E por falar em palhetas: Você sabia que uma pazinha daquelas, que gira nas torres eólicas, pesa mais de 7 toneladas? – E daí? Sei lá, mas eu soube e quis espalhar!

Pois é Afonso, os assuntos são muitos, mas se falar tudo, falta assunto mais para frente. Bem agora vou armar a rede na varanda e tentar ver a sombra dessa Lua negra.

Até mais.

Nelson Mattos Filho

1º Congresso on-line sobre a arte de velejar – Palestra

Quem é do mar deve saber que o site Velejando pelo Mundo está apresentando desde o dia 26/09 um inédito e bem festejado 1º Congresso On-Line Sobre a Arte de Velejar, um evento arrojado e maravilhosamente bem vindo ao mundo náutico e também para quem sonha em um dia se fazer a mar. Se você ainda não sabe, basta acessar o Velejando pelo Mundo e fazer sua inscrição 0800. Ontem, 28/09, foi minha vez de palestrar com os participantes e falar um pouco do sonho de morar a bordo. Veja o vídeo e confira! Mas antes que alguém pergunte qual o livro que me levou a enveredar pelo mundo da vela, que terminei não falando no vídeo, foi o primeiro livro da Família Schurmann, Dez Anos no Mar

Aviso aos navegantes

anima_alturaEh, o tempo está bem esquisito mundo afora e nem as melhores melhores previsões resistem a um dia sem precisar de atualização. Pois num é que a força dos ventos que sobem a costa da América do Sul tomou gosto e pisou firme no acelerador assanhando o mar e fazendo as ondas subirem a mais de 3 metros pelo sul, sudeste e até a quarta-feira promete fazer chafurdo por Fernando de Noronha. Segundo os gráficos do CPTEC/Inpe, o mar da ilha maravilha deve chegar a mais de 2 metros de altura e os ventos oceânicos devem soprar a mais de 18 nós de velocidade. A flotilha da Refeno que está em Noronha deve ficar alerta. Já um pouquinho mais para cima, mais precisamente na altura de Trinidad e Tobago, um ciclone está tomando forma e deve atingir a região entre quarta e sexta-feira, com ondas de mais de 9 metros e ventos na marca acima dos 40 nós. Aliás, faz tempo que furacões não chegam a Trinidad. 

Do mundo das estrelas

ciencia-china-maior-radiotelescopio-do-mundo-20160705-021gaia_s_first_sky_mapDesde que os primeiros seres vivos pisaram no planetinha Terra que o espaço sideral é olhado como uma fronteira fascinante e extremante instigante, mas foi com o nascimento do primeiro ser humano que o espaço passou a ser desejado e de lá para cá o desejo não para de crescer e apesar ter havido grandes avanços sobre o mundo das estrelas, ainda não sabemos praticamente nadica de nada. Assim como os oceanos, que já foram vasculhados quase a exaustão, e até os dias de hoje nos deparamos com o desconhecido, o espaço é uma incógnita. Recentemente foi divulgado pela Agência Espacial Europeia um mapa da Via Láctea, que segundo a Agência é o mais completo, onde estão catalogadas mais de 1 bilhão de estrelas. Nesse domingo, 25/09, os chineses colocaram em funcionamento o radiotelescópio FAST, que dizem ser o maior do mundo, com a finalidade de pesquisar algum resquício de vida extraterrestre. O FAST, instalado na província de Guizhou, no sudeste do país asiático, possui 4.450 painéis que formam uma concha de 500 metros de diâmetro e custou uma bagatelazinha de 180 milhões de dólares. – Será que em outras galáxias as pessoas tem whatsapp? Se não tiver, não vai ter graça nenhuma! – E loja de R$ 1,99? – Se não tiver vai ter! Fonte: Veja.abril.com

Veleiros brasileiros pelo mundo

mon bienArgos Vocês sabem quantos veleiros com bandeira brasileira estão hoje navegando pelos oceanos do mundo? – Não sabe? Pois é, eu também não, mas digo que tem uma flotilha enorme de abnegados aventureiros cortando água por aí, depois de abandonarem o conforto de um escritório e as maravilhas abençoadas de uma poltrona macia diante de uma TV último tipo. Se vocês não acreditam, basta deixar de lado, por alguns minutos, o facebook ou o whatsApp, para navegar pelos sites de pesquisa que povoam a internet, que você ficará de frente com pessoas que jogaram tudo para o alto e foram em busca de viver o sonho sonhado sem ter nenhum medo de ser feliz. Entre essa turma estão as tripulações do veleiro baiano Mon Bien, comandado pelo Gileno Borges, um sergipano arretado de bom, e do veleiro paulista Argos, sob o comando do André Cavalheiro, que agora estão fazendo o caminho de volta, depois de perambularem pelos mares do Caribe, português e espanhol. O Mon Bien já está no meio do Atlântico dando bordo buscando se apegar com os ventos alísios que o trarão a costa brasileira. O Argos, está nos preparativos finais para zarpar. – Quer saber por onde eles andam? Acesse os links que fazem parte do nosso BLOGROLL SPOT DO VELEIRO ARGOS e SPOT DO VELEIRO MON BIEN – que você acompanhará toda a velejada dos dois.  

A XXVIII REFENO consagra um mito

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A flotilha da XXVIII Refeno já está praticamente completa na ilha maravilha de Fernando de Noronha e, pelo terceiro ano consecutivo, o veleiro gaúcho Camiranga, um Soto 65 – barco de alma exclusivamente regateira –, ostenta a faixa de Fita Azul, o primeiro barco, independente da classe, a cruzar a linha de chegada, porém, o que me faz escrever essa postagem foi a alegre surpresa de ver o Jahú II, um modelo Manelis 40, projetado e construído, se não me engano, pelo fantástico Manoel Português, o homem que só trabalha pelado, ter cruzado a linha de chegada colocada ao largo do Mirante do Boldró, na segunda colocação, com o tempo de 24h53min13seg. Sabe o que penso sobre isso: – Já acostumei a me calar diante das aberrações que escuto contra os projetos de barcos construídos pelo Manoel Português e outros projetista e construtores maranhenses, entre eles o genial Sergio Marques, da Bate Vento. Eh, acho que vou continuar calado. Parabéns tripulação arretada do Jahú II e um abraço especial ao comandante Luis Moriel 

No balanço da rede

20160924_120848Tem certas coisas que nunca entendi e continuo sem entender, mas estou vendo que em alguns lugares do mundo as coisas funcionam como devem funcionar, e não de acordo com a vontade das classes políticas, ou do “donatário” da vez. Antes de prosseguir proseando vou perguntar a mim mesmo: – Existe povo mais sem regras e sem leis do que político? Já que a pergunta foi para mim, eu mesmo respondo: – Existe não, porque regras e leis, para regular político, são feitas por eles mesmos e ao sabor da vontade e da enrascada que eles se metem. Se o bicho pegou, basta inventar outra e tudo fica nos conformes.

Olhando a vida através da poeira do barro que vem no sopro do vento e olhando as imensas torres de energia eólica, que estão trazendo um tortuoso progresso a pequenos povoados pelo litoral e sertão adentro, fiquei matutando em como são frágeis as cidades quando se entregam aos desmandos e a demagogia das politicagens deslavadas.

Certa feita, em um bate papo com um amigo que havia acabado de chegar dos “esteites”, e ainda sob o efeito da propaganda desenvolvimentista americana do norte, fiquei encantado quando ele disse, com impostação na voz, que na cidade onde esteve, a prefeitura estava empenhada em construir novas tubulações de água e esgoto para satisfazer o pretenso crescimento da cidade no ano de 2040. Pois foi, ele disse! Na hora lembrei que nas terras descobertas por Cabral, e sua turba de degredados, os projetos visam o ontem e nem por isso os homens deixam de armar um palanque para festejar o feito. Aliás, o palanque é armado no anuncio da intenção, na assinatura do contrato, na hora da primeira pazada de areia e vai nessa pisadinha, até que um dia, alguém chega à conclusão que está tudo errado e o orçamento, que havia sido acordado inicialmente, já foi comido tantas vezes que não tem cristão no mundo que ache o fio da meada. Pois é, tem gente que pensa longe, tem gente que pensa bem ali, tem gente que pensa para trás e tem gente que pensa apenas no bolso e quem vier atrás que feche a porta dos fundos.

Mas isso não tem nada a ver com essa prosa e o que me fez lembrar desse assunto foi uma placa, na beira da rodagem, em que está escrito “queremos água”. A placa está desbotada e até já perdeu um pedaço de sua estrutura, porém, a água ainda está por chegar em algum dia qualquer do futuro. O que na verdade norteia essa escrita, segue no rastro de uma notícia vinda lá das terras geladas da Suécia, e os esgotos ianques e a água tupiniquim que não sai da promessa, apenas se entranharam nos punhos da rede.

O Reino da Suécia, que vem a ser o terceiro maior país da União Europeia, em área. Considerado um dos mais socialmente justos no mundo atual e com uma população de mais 9 milhões de habitantes, onde a grande maioria não acredita em nenhum deus. O país está classificado como a quarta economia mais competitiva do mundo e tem nas hidroelétricas, madeira e minério de ferro a base de sua economia, visando principalmente o comércio exterior. A Suécia é uma potência. Pois bem, a cidade sueca de Kiruna, considerado o maior município do mundo, com 20.000m² de área, e que cresceu em torno de uma gigantesca mina produtora de minério de ferro, decidiu que precisa mudar de lugar para não ser tragada pela terra.

A mineradora estatal LKAB, avisou a prefeitura que a extração de ferro iria se estender por baixo da cidade e era arriscado que tudo viesse abaixo. Nesse interim, a empresa se comprometeu a transferir, literalmente, a cidade para outro lugar com um ousado, e nunca tentado, projeto de engenharia. Depois de muito quiproquó e dezenas de acordos entre população, governo e mineradora, foi batido o martelo e a cidade vai ser transferida para um terreno localizado a pouco mais de 3 quilômetros de distância e longe dos buracos da mina. A transferência deve ser dada por encerrada daqui uns 30 anos, mas os engenheiros apostam no sucesso da empreitada. Primeiramente vão levar o centro da cidade inteiro e depois vai o restante, mas de uma coisa é certa, até 2050 o que era superfície será um buraco só, pois as máquinas da mina não param de moer e quem quiser que saia de cima.

Isso é o tipo de notícia que a gente lê e escuta e fica matutando com os botões: – Homi, isso será verdade ou delírio do mundo das pranchetas? – Como danado vão pegar um prédio pelo sovaco e plantar ele em outro terreiro? Mas tudo está escrito nas páginas online do site Planeta Sustentável e eu li com meus olhos que a terra a de comer. – Ei, taí um movimento que eu queria assistir de perto! Fico imaginando o arranca rabo se uma proposta dessa fosse em algum recantinho das terras brasilis. – Seu menino, ia ser tanto arranca rabo, tanto ônibus queimado, tanta greve no meio do mundo, tanto bofete trocado entre polícia e manifestantes, que no fim, a turma do abafa abraçaria todo mundo e o projeto era engavetado como se ele nunca tivesse existido. A mineradora que fosse cavar buraco nos infernos.

Tomará que o sono chegue logo!

Nelson Mattos Filho

XXVIII REFENO. É amanha!

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É amanhã, sábado, 24/09, precisamente às 11 horas da manhã, a largada da XXVIII REFENO, Regata Recife/Fernando de Noronha, e quem quiser acompanhar ao vivo, basta se adiantar e marcar presença na Praça do Marco Zero, Centro do Recife, logo cedinho, porque as largadas da Refeno sempre viram festa e o povo comparece em grande número. Como foi dito aqui anteriormente, a previsão é de uma prova em mar de almirante e vento Leste/Sueste, em torno dos 15 nós de velocidade. O quadro acima, copiado do CPTEC/INPE, mostra como serão as condições da ancoragem na ilha maravilha, mar azul, vento gostoso e tomara que os golfinhos de Noronha marquem presença no Porto do Santo Antônio, passeando entre os barcos para conhecer a flotilha. Vale lembrar aos tripulantes mais afoitos, que é terminantemente proibido ficar na água quando aparecem golfinhos e aqueles que insistem, podem se meter em sérias complicações com os órgãos ambientais. 

O enjoo

sup0040Quando me perguntam sobre o que fazer para evitar o enjoo no mar, costumo responder que Lucia tem PHD na causa e por isso acho melhor a pergunta ser feita diretamente a ela, porque nos cinco primeiros anos de nossa vida a bordo do Avoante ela enfrentou o problema corajosamente e apesar de enjoar horrores, nunca desistiu de velejar. Nas nossas primeiras navegadas até a ilha de Fernando de Noronha, participando da Refeno, Lucia só enjoava duas vezes: Uma para ir, outra para voltar. O problema foi sendo contornado, porém, nunca exterminado, e assim vivemos 11 anos e 5 meses a bordo. – E se eu também enjoo? – Claro que sim! Pois bem, tempos atrás li um artigo no site Popa.com.br, assinado pela Dra. Claudia Barth, que até hoje vejo como o mais completo e realista sobre o tema. Sem pedir licença ao Danilo Chagas Ribeiro, copiei e colei aqui. Tomará ser perdoado!

Enjoo não tem cura. Previna-se!

Claudia Barth*

07 Jul 2005
O enjoo marítimo, também conhecido como cinetose, doença do movimento ou náusea do mar é uma situação muito frequente a bordo e acomete até os mais experientes navegadores. É um fenômeno fisiológico, uma reação natural do organismo às variações rápidas e constantes de posição. Caracteriza-se por sintomas como sudorese, palidez, salivação, náuseas, tonturas, cefaleia (dor de cabeça), fadiga e vômitos. Até o momento, não existe tratamento definitivo para este problema.

Causas do Enjoo Marítimo
As variações de posição do corpo, quando navegando, estimulam receptores sensoriais localizados no labirinto vestibular (localiza-se no ouvido interno e dá a noção de movimento linear e angular e de orientação no espaço), nas retinas dos olhos e nos músculos e articulações (sensibilidade proprioceptiva). Estes dados sensoriais misturados são enviados ao cerebelo, tronco cerebral e cérebro, que tentam coordená-los. Estas estruturas procuram fazer os ajustamentos posturais e provocam a sensação de vertigem.

A conexão destes impulsos nervosos com o nervo vago é a responsável pelos sintomas característicos do enjoo marítimo: palidez, sudorese, salivação, náuseas e vômitos.
Descobriu-se que o medo ou a ansiedade podem baixar o limiar para o desenvolvimento destes sintomas. Este limiar também pode aumentar, como, por exemplo, nas situações em que há poucos tripulantes a bordo. Nestes casos, não há tempo para enjoar, mesmo com mar agitado, o que reforça o componente psicológico. Entretanto, alguns indivíduos parecem ser predispostos ao enjoo desde a infância.

Classificação
Podemos classificar os indivíduos que sofrem de enjoo marítimo de acordo com o limiar de sensibilidade:

-Indivíduos altamente suscetíveis ao problema: são os “mareados”. O mareado pede para morrer, fica jogado no chão e, se alguém pisar em cima, ele nem reclama.
Certa vez, numa travessia de Rio Grande a Florianópolis, um tripulante do veleiro Orion II ficou mareado por dois dias consecutivos, sem alívio dos sintomas por um só momento. O infeliz não aguentava mais aquela tortura, pedia para morrer, queria se jogar no mar. O Comandante Egon, vendo a gravidade da situação, não teve dúvidas. Mandou a tripulação amarrá-lo no mastro da mezena, já que ele era grande e forte. Ficou ali por um bom tempo, até se acalmar.

-Indivíduos que apresentam sintomas em condições especiais: são os “nauseados” ou “enjoados”. O nauseado continua trabalhando e em pouco tempo está bom.

-Indivíduos que apresentam sintomas somente em situações extremas: são os “resistentes”.

O Comandante Ferrugem conta uma situação tragicômica em que um tripulante mareado levou um balde para o beliche, para o caso de alguma emergência. Não deu outra, teve de usar o balde. O detalhe é que esse balde não tinha fundo. Era o balde de passar balão, utilizado como se fosse um cano, para colocar os atilhos que prendem o balão.

Como Prevenir o Enjoo:
A prevenção deve ser feita na véspera do passeio:
-Tentar dormir as horas de sono de que o organismo necessita.
-Não fazer uso de bebidas alcoólicas.
-Evitar gorduras, cafeína e excessos alimentares.
-Nunca embarcar de estômago vazio.

O enjoo deve ser prevenido antes do aparecimento dos primeiros sintomas. Quando eles aparecem, pouco pode ser feito. Estes podem ser atenuados com as seguintes “dicas”:
-Evitar o interior do barco (cabine). Permanecer no convés, em local arejado.
-Não deixar a cabeça acompanhar o movimento do barco. Tentar mantê-la fixa, olhando o horizonte ou outro ponto de referência que esteja fixo (objeto na costa, outro barco ao longe, etc.).
-Manter-se preferencialmente na popa do barco e longe do cheiro de combustível. Numa embarcação maior, procurar uma área de menor movimento, geralmente no meio do barco e permanecer no nível mais baixo possível.
-Evitar esforçar-se exageradamente quando estiver navegando. Procurar ocupar-se com atividades leves e conversas de bordo.
-Evitar ler as cartas náuticas ou olhar o GPS.
-Evitar o fumo e manter-se longe de quem está fumando.
-Respirar fundo e lentamente.
-Evitar sentir frio.
-Comer bolachas de água e sal e beber água ou coca-cola.
-Aplicar compressas geladas sobre os olhos e no pescoço.

Medicação Contra Enjoo
A principal ação das drogas usadas na profilaxia e tratamento do enjoo marítimo é, basicamente, a sedação. Elas diminuem a atividade do sistema nervoso central (SNC), agindo diretamente sobre ele, ou diminuindo os impulsos nervosos que chegam até ele.

As drogas de escolha são os anti-histamínicos, sendo o Dramin o mais usado, na forma de comprimidos ou injetável. Normalmente é receitado meia a uma hora antes de entrar no barco e repetido uma hora depois do início da viagem. Seus efeitos colaterais são sonolência, boca seca, e, em alguns casos, alterações visuais (visão turva, diplopia), dentre outros. Seus efeitos variam de indivíduo para indivíduo e duram de seis a oito horas. A sonolência em certos casos pode ser benéfica. Em outros, pode provocar acidentes, pois prejudica a atividade do paciente, tornando sua mente embotada e diminuindo a atividade reflexa.

Atualmente, está sendo comercializada livremente na Europa, Estados Unidos, Canadá e Austrália a meclizina (Meclin), um anti-histamínico que promove menor grau de sonolência porque atua mais especificamente no labirinto, diminuindo sua irritabilidade. Seu efeito dura vinte e quatro horas e tem sido a droga de escolha das grandes companhias de cruzeiros marítimos internacionais.

Outros medicamentos usados contra o enjoo são os anticolinérgicos (escopolamina), a metoclopramida (Plasil) e a ondansetrona (Setronax, Nausedron, Zofran). O uso da escopolamina é pouco frequente atualmente, já a metoclopramida é bastante utilizada. Além de agir diretamente no SNC, ela relaxa o piloro, acelerando o esvaziamento gástrico. Sua dose é de 10 mg de seis em seis horas. A ondansetrona diminui a atividade vagal e também atua a nível de SNC, sendo mais usada no controle dos enjoos provocados pela quimioterapia e pós-operatório. A dose usual é de 4 a 8mg de oito em oito horas. A metoclopramida e a ondansetrona também são usadas na forma injetável.

IMPORTANTE: Todo medicamento possui efeitos colaterais. As informações contidas nas bulas dos medicamentos devem ser lidas com atenção antes da sua administração. Consulte seu médico sobre os medicamentos aqui citados.

Curiosidade:
-Tapar um dos olhos pode ser útil. Antigamente, os piratas usavam este recurso, não por falta de um dos olhos, mas sim para evitar o enjoo.

Conclusão:
Andar de barco, na maioria das vezes, é um grande prazer, mas não para quem enjoa. Apesar de todos os progressos da ciência, ainda não foi encontrado um tratamento verdadeiramente eficaz contra este mal. Prevenir é ainda o melhor remédio. Para quem é altamente suscetível ao problema, aqui vai o conselho do Mestre Geraldo Knippling: “Existe um remédio infalível e 100% eficaz: basta sentar-se embaixo de uma árvore”.

Agradecimentos:
Meus agradecimentos aos Doutores Remo Farina Júnior (Cirurgião Plástico e Professor de Anatomia da Faculdade de Medicina da PUCRS) e José Antônio Trindade (Anestesista) e aos Comandantes Geraldo Knippling, Eduardo Hofmeister “Ferrugem” e Danilo Chagas Ribeiro, que, com suas contribuições, ajudaram na elaboração deste trabalho.
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(*) A Dra. Claudia Barth, cirurgiã plástica, é Capitã Amadora. De família com tradição marinheira, é associada ao Veleiros do Sul, Porto Alegre.

Notícias do espaço

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Taí um assunto para bater papo em mesa de bar: Essa imagem é do laboratório espacial chinês Tiangong-1, que está perdido no espaço e até o final de 2017 se espatifará sem nenhum controle sobre a Terra. Se você acha que estou fazendo terrorismo, pode tirar o cavalinho da chuva e começar a olhar de vez em quando para cima, para não levar um peteleco no meio do quengo. O Palácio Celeste foi lançado em 2011 para servir de estudos para a construção de uma grande estação espacial com vários módulos. Três naves, a primeira delas não tripulada, foram lançadas para testar o encaixe com a estação laboratório e tiveram sucesso na empreitada. A terceira, com três taikonautas,  ficou 15 dias acoplada a estação. Após cumprir o objetivo, o Palácio Celeste foi abandonado como lixo espacial, até que recentemente, rastreadores amadores de satélites alertaram que a estação estava perdida e sem comunicação com os centros de controle, mas o alerta não foi levado em consideração. Agora, durante uma coletiva, a preocupação dos amadores foi confirmada pelo vice-presidente do escritório de engenharia espacial da China, Wu Ping, que afirma que não só Tiangong-1 está sem controle, como eles não sabem nem quando, nem onde e nem quais seriam as consequências do seu retorno desgovernado a Terra. – É sempre assim, os caras gastam uma grana infinita para chafurdar no espaço com uns brinquedinhos esquisitos e no final, quem quiser que saia de baixo quando o bicho descamba lá de cima! Mas, como diria um estatístico, não vamos nos avexar e nem perder o sono, pois para tudo existe a teoria da probabilidade. Fonte: Veja.com