Arquivo do mês: agosto 2021

Da aldeia potiguar

 

JERIMUM

Sexta-feira, 27/08, presenteei o amigo e jornalista potiguar Luís  Antônio Felipe, Papinha, com um Kit de Acarajé, produzido por Lucia, que retribuiu com um jerimum e algumas macaxeiras, produzidos em sua fazenda nas porteiras da região do Mato Grande. Fiz o caminho de volta feliz com o presente e relembrando o moído da história que fez o povo potiguar ser chamado de Papa Jerimum e ao chegar no meu barraco, me apeguei com o livro Papo Jerimum, do escritor, poeta, músico e comedor de camarão Cleudo Freire, que envereda por curiosidades e riquezas do linguajar do povo das tribos de Poti: “O apelido papa jerimum, dado aos norte-riograndenses, vem de uma suposição que um tal presidente da província, num momento de aperreio, haveria pago ao funcionalismo público com jerimuns. Bem, eu não acredito em moeda-jerimum, mas que ela existe, existe!”  E como em um livro uma página puxa outra, cheguei no dicionário rimado com o palavreada falado nas entranhas do mapa do elefante, que o poeta poetou assim:

Cabra posudo é gabola
Otário é abigobel
O chato é galado
Puxa saco é xeleléu

Nêgo alto é galalau
Botão de som e tv é pitoco
Se é miúdo é pixototinho
Se for resto é catôco

Tudo que é bom é massa
É arretado, é primêra
Tudo que é ruim é peba
também pode ser reiêra

Moça nova é boyzinha
Mulher solteira é caritó
A galinha é inchirida
Lança perfume é loló

Ponta de cigarro é piúba
Bordel se chama berel
Longe
é a casa da mãe pantanha

é lá na casa do chapéu

Muita coisa é ruma
Se tá folgado é folote
Pouca coisa é um tico
Uma turma é um magote

O tímido é bisonho
Tá de fogo, tá melado
O surdo se diz môco
Quem tem sorte é cagado

Pedaço de pedra é xêxo
Ladrão pequeno é xexêro
O mesquinho é amarrado
Cabra safado é fulêro

Papo furado é aresia
Nêgo insistente é prisiaca
Se for pior se diz frechado
Catinga de suor é inhaca

Rir dos outros é mangar
Mexer os quartos é mengar
Quem observa tá só cubando
Faltar aula é gazear

Quem é pálido é impamelado
Quem é franzino é xôxo
O bobo se chama leso
O medroso se chama frôxo

Pernilongo é muriçoca
Chicote se chama acoite
Quem entra sem licença imbióca
Sinal de espanto é VOT’S

Tá com raiva, tá invocado
Vai sair diz “vou chegar”
Cabra sem dinheiro é liso
Dar um amasso é sarrar

Sujeira de olho é remela
Toca disco é radiola
Meleca se chama caraca
Peido se chama sola

Mancha de pancada é roncha
Briga pequena é arenga
Performance é munganga
Prostituta é mesmo quenga

Bola de gude é biloca
Fofoca é fuchico
Estouro é papôco
Cu aqui se chama furico

Razão & Ódio

lição de anatomia do dr. nicolas tulp 1632 rembrandt - museu mauritshuis, haia

A palavra fica com o Dr. Domicio Arruda com o texto postado no site Território Livre. Confesso que foi de caso pensado e não pedi autorização para copiar e aqui colar o textículo. Só tomara que o carão do autor seja brando.

Um ano e meio depois do desembarque, o inimigo ocupa todos os espaços e estudos, mas ainda é desconhecido.

Ninguém, incluídos academia e organismos multinacionais, tem respostas precisas para as perguntas que carrega, envoltas em mistérios e medo.

Faltam moderação e humildade para lidar com a tragédia sanitária que desnudou a precária capacidade de reação do mundo civilizado.

Sobram desencontros, retórica e polêmica.

As possíveis soluções, a partir do emprego de recursos materiais ilimitados, mostram-se insuficientes.

A falta de uma liderança global, afasta mais ainda o utópico entendimento e aumenta a distância entre ricos e pobres.

O extremismo das ideologias políticas, embota o pensamento sereno e inibe quem pode oferecer ideias razoáveis, menos traumáticas.

Os mesmos que se arvoram guardiões das verdades absolutas, não conseguem acionar a lanterna onisciente quando penetram no ambiente escuro das novas apresentações do vírus.

A variante delta, apenas uma entre muitas possíveis, transportou os sábios do Olimpo, do platô que pensavam ocupar, no ápice do cabedal dos conhecimentos científicos, para a planície da ignorância rasteira.

Mutações rápidas parem cepas batizadas em outras letras gregas, surpreendem e põem sob suspeita, a confiança na imunização, como destino final da jornada de sofrimento.

A superproteção almejada não é garantida, quando se percebe obsoleto, tudo que se sabe antes de detectada cada nova mudança.

Houvesse mais empatia para se lidar com a situação, ainda muito longe de controlada, seria mais razoável a aceitação de posicionamentos céticos.

Não seriam julgados pelos tribunais da inquisição midiática, aqueles que lembram que o pico e recorde de contaminação, na primeira onda, antes do vacinado inicial, também caíram para os mesmos índices observados agora, às vésperas das terceiras doses.

Poderia ser aberta uma discussão honesta sobre a imunidade naturalmente adquirida, prazos de validade e limitações dos imunizantes experimentais.

Seguindo orientação da Organização Mundial da Saúde, o limite da idade mínima para vacinação esperaria conclusões sobre suspeitos prejuízos à fertilidade das crianças e adolescentes.

A moderação substituiria o extremismo na flexibilização das medidas restritivas.

Ninguém seria acusado de ameaça terrorista, nem de vigilante fascista, por conta do uso de máscaras em ambientes abertos.

A mesma sociedade que abomina preconceitos e clama igualdades, defende com todos os rigores da sanha punitiva, os passaportes vacinais, apartheid tão cruel quanto o que segregava pela cor da pele.

Se as vacinas que antes anunciavam, completamente eficazes quando atingissem 60% da população, não forem capazes de permitir o convívio com a minoria dos que não a aceitam por razões pessoais, é de se temer o risco da volta dos campos de concentração e das câmaras de gás, para os refratários, obscurantistas não vacinados.

Enquanto o tempo não concluir sua aula magistral, só nos resta afastar a misologia, este ódio instado contra o raciocínio lógico, e seguir os conselhos do bom senso:

Proteja-se, vacine-se; mas se adoecer, cuide-se enquanto é tempo.

Prisiaca

MENSSAGEM

E assim nasceu a expressão: “Afiiidirapariga!!”

Das coisas assim sei lá

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Confesso que não sei quem é o autor da imagem, mas ela navega para lá é para cá nos oceanos internéticos e sempre que a reencontro, em rumos cruzados, me vejo navegando em sonhos e lembrando das palavras do espanhol, Carlos, marido de Magdalena, que aportou em Natal, em 2009, no veleiro Prati, história contada aqui na postagem, De quem ama o mar:  “Nelson, o que aconteceu para não haver nenhum barco e nenhum velejador a esperar o Cisne Branco?”. Eh, amigo Carlos, tento, mas não consigo entender a relação do brasileiro com o mar!

Aviso aos navegantes

ondas 21 A Capitania dos Portos do RN anuncia, para o final de semana, ventos avexados, acima de 60 km/h, e mar de faroeste no litoral potiguar e orienta que as embarcações de pequeno porte se mantenham no porto. Aos afoitos e aos comandantes de embarcações maiores, que precisam se fazer ao mar, a orientação é que observem os procedimentos de segurança, confira detalhadamente os equipamentos e materiais de salvatagem e se apeguem com um anjo protetor,  porque mar não tem cabelo. Porém, olhando a animação do gráfico do CPTEC/INPE o alerta é válido para todo litoral brasileiro. Quem avisa amigo é!

O Marco

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Conheci a Praia do Marco no início dos anos 90 sem saber nada da sua história, a não ser o “relatório” que me foi passado na varanda da mercearia/bar de Dona Tita, em Enxu Queimado, que era uma praia bonita, em estado bruto, com algumas casas e que por lá reinava um pretenso mandatário, brado que só a mulesta dos cachorros, com um nome que caia bem com sua fama de mau, Doutor Guerra, e bastava alguém sussurrar seu nome a boca pequena para fazer tremer o chão da praia. Tinha mãe que quando queria botar ordem na meninada travessa, ameaçava: Ei, cambada de fiidumaégua, se não parar de teimosia vou chamar doutor Guerra, viu! Era um santo remédio.

E por falar em travessura, nossa primeira ida ao Marco, eu e Lucia, foi na companhia de Rapadura, um menino virado num traque, da praia de Enxu, que se aboletou no banco traseiro do nosso fusquinha e disse: “- Bora que levo vocês até lá!”. Rapadura, devia ter uns 10 anos de idade, moreninho, cheio de ginga, criado solto na buraqueira, risonho, com os dedos dos pés carregados de bicho de pé e dotado de uma lábia de fazer inveja a vendedor de rede. Bons tempos, mas o tempo passou…

Passamos o dia na praia na mais tradicional farofada, nada soubemos da riqueza histórica ali fincada e muito menos que naqueles dias idos o Rio Grande do Norte estaria completando 490 anos. Do nosso “acampamento” a beira mar, avistamos uma igrejinha, algumas cruzes fincadas nas areias do adro e uma esquisita coluna de pedra. Voltamos a Enxu no finalzinho da tarde, aproveitando o início da maré de vazante.

Na cervejinha da noite, no bar de Dona Tita, alguém perguntou se tínhamos conhecido a pousada, em construção, de Seu Betinho e se visitamos a Pedra do Marco. – Não! – Pois voltem lá amanhã! E foi o que fizemos. Da pousada vimos apenas uma construção em andamento e seguimos em frente. Paramos na sombra de uma barraca – a única do lugar – pedimos uma cerveja e ficamos felizes por ela ser servida quase fria, e entabulamos um papo com o proprietário, Manoel Matias, que de pronto nos ofereceu um terreno que o filho, Evaristo, marido de Dona Margarida, estava vendendo. Tudo assim, pei puf e saímos de lá como felizes proprietários de um terreno no paraíso.

– E o papel da escritura? – Aqui tem isso não! – E o doutor Guerra? – Faz muita zuada, mas aqui quem manda é nós! – E a pedra do Marco? – Fica bem ali na frente da igrejinha! – Seu Manoel, e a história dela o senhor sabe? – Essa que está aí é outra, a original uns homens sabidos levaram embora. Dizem que foram uns portugueses que deixaram aí, mas quem sabe tudo é Dona Tânia, mulher de Seu Betinho, da pousada. – Ela está aí? – Tá não. Vem vez por outra. Quem tá aí é ele e nem sei prumode ainda não veio aqui hoje. Anda para lá e para cá num buggy vermelho e gosta de prosear e tomar umas cervejinhas. Pere lá que ele bate já aqui.

Como o homem do buggy vermelho não apareceu, pagamos a conta e fomos conhecer a pedra tão falada, a pequena capelinha e o cemitério de anjinhos. Tudo meio largado no tempo e sem nenhum sinal de que ali estaria a réplica de um Marco que poderia determinar o fio da meada da história brasileira. Antes de retornar a Enxu, demos mais uma olhada no terreno recém comprado, rabiscamos no juízo o plano para construir uma cabaninha e os rabiscos renderam mais de quinze anos bem aproveitados e bem vividos sob a sombra da paz e da alegria que, acho eu, todo paraíso deve de ter. – E o doutor? – Pois é, depois de alguns arremedos de batalhas, selamos a paz!

Nas conversas com Dona Tânia, incansável baluarte na luta pela valorização do lugar e pela releitura dos contos do Descobrimento, conheci boa parte dos segredos por ali chantados e fui apresentado a fascinante história do Marco de Touros, história essa que o desmazelo dos homens transformou em um conto triste de palavras jogadas ao vento.

Ao ver a imagem que ilustra esse texto, retratada em 1962, 461 anos depois que o Marco foi chantado, postada pelo poeta, escritor e historiador Eduardo Alexandre Garcia, Dunga, em sua página no facebook, e olhando para as imagens atuais do local e prestando atenção no rosário de promessas anunciadas pelas bocas de fone dos palanqueiros, fico entristecido e consciente que perdemos a Nau do tempo. O alarido é o mesmo de sempre e vem desde que os navegadores das armas do rei e da Cruz de Cristo desembarcaram na praia para tomar de conta, fincaram uma pedra, arengaram com os nativos e pegaram descendo.

Plagiando o poeta Mário Quintana: “…Quando se vê passaram 520 anos!…”

Nelson Mattos Filho

Aviso aos navegantes

ONDAS Para quem pretende se fazer ao mar no final de semana, 13 a 15 de agosto, é bom ficar de olhos bem abertos na previsão do tempo, principalmente na evolução das ondas. O gráfico do CPTEC/INPE mostra que vem mais um reboliço  por aí levantando ondas de mais de 2 metros. Tá dado o recado!      

Chame o gato

GATO (2)

Dia desses dei boas risadas ao escutar o comediante Zé Lezin contar a piada de um gato que chafurdou a vida de Miro, o apoquentado dono da casa onde o gato montou banca como se dono fosse.

A piada do gato é antiga, sim senhor, mas aprendi que não existe piada velha, porque ela sempre se renova quando contada por um comediante temperado na casca do alho, e cá pra nós, posso escutar a mesma piada mil vezes que sempre dou boas gargalhadas.

Na peleja de Miro com o gato lembrei de uma antiga ajudante da casa de Ceminha, minha mãe, que certa vez contou que estava estafada, pois o final de semana em sua casa havia sido de luta com uma ruma de gatos.

– Como assim Dona Rosa? – Dona Iracema, minha casa estava ficando entupida de gatos, que vinham de todo o bairro e não queriam mais ir embora. Nesse final de semana, meu marido se invocou, pegou um saco de estopa de 60 quilos, botou os gatos tudo dentro, colocou o saco no bagageiro da bicicleta e foi jogar os bichanos lá em Macaíba, município da Grande Natal.

– Isso foi na tarde de sexta-feira, pois a senhora acredita que do sábado para o domingo os gatos voltaram tudinho? – E foi? – Pois foi. Tudo esfomeado, com sede, estropiados, uns mancando, outros arrastando a pata e os que não conseguiam andar, foram trazidos nas costas pelos outros. Dona Iracema, parece coisa de mentira, mas foi verdade!

Rapaz, os causos de Dona Rosa são contados com tanto esmero e tanta seriedade que é melhor acreditar para depois dar um generoso desconto e boas gargalhadas como digestivo.

Como tudo no bairro de Rosa acontece no final de semana, numa segunda-feira ela chegou contando a minha sobrinha Roseani que a morte tinha dado trabalho na rua em que ela mora, pois foi uma murrinha de morrer gente, que quando deram por fé, doze tinham batido as botas. – Virgem Maria, de quê? – De tudo, de tudo. Foi tanta da gente que num dava nem tempo de esperar para enterrar. O povo era deixando um morto no cemitério e correndo de volta para pegar outro que já estava pronto e assim foi o dia todo de correria para lá e para cá. Chega fiquei com as pernas bambas.

Outra vez, contou a Grace, minha irmã, que havia sido chamada para preparar um defunto em uma casa da vizinhança, porque o homem estava todo sujo e ninguém teve coragem de fazer o serviço. Ela tirou o defunto da cama, colocou nas costas e levou para o banheiro. Como não tinha cadeira, ela aprumou o corpo em pé, abriu o chuveiro e quando começou a passar o sabonete, o corpo escorregou de seus braços, danou-se no chão e deu um peido tão alto que todo mundo correu para ver o que danado tinha acontecido, mas nem conseguiram chegar na porta do banheiro com a podrura. – Dona Grace, pense num peido fedorento, mas eu não esmoreci e deixei o defunto bem limpinho e cheiroso.

Numa bela manhã, enquanto efetuava a faxina da casa, coisa que fazia como ninguém, ela entoava o hino religioso, Eu Sou o Pão do Céu, quando chegou na parte do refrão Ceminha deu risada e perguntou: – Dona Rosa, essa letra está certa? – Está, Dona Iracema, a gente canta todo dia na igreja! E assim continuou: “…esse é meu corpo, tomaz comeu/esse é meu sangue, tomaz bebeu…”.

E assim, sempre que vou a uma missa e o coral começa a entoar esse hino, me pego cantando a versão de Dona Rosa, e de soslaio dou risadas com a cara de espanto dos vizinhos de banco.

– E o gato de Zé Lezin? Pois é, depois de três tentativas de dar fim ao gato, que para desespero de Miro sempre retornava para casa antes dele chegar. Numa noite ele amarrou um pano tapando os olhos do gato, sacudiu o bichano dentro de quatro sacos de estopa preta, deu um nó de porco na boca de cada saco, embarcou no fusca e saiu de ré dando cavalos de pau, entrando em rua, saindo de rua e depois de duas horas correndo desembestado pela cidade, deixou o embrulho em um terreno baldio. Lá para uma hora da madrugada, ligou para casa, a mulher atendeu e ele disse com voz grave: “Tonha, é Miro, passe o telefone para o gato que eu estou perdido”

Nelson Mattos Filho

Coisa de danação

ESCULTURA ERÓTICA

Desde que o homem foi criado que existe presepada no mundo, pois se não é verdade que viemos do macaco, pelo menos herdamos o gene.

Não existe bichinhos mais presepeiros do que os primatas. Lembro das estripulias dos macaquinhos que formavam uma colônia existente na Lagoa Manoel Felipe, rebatizada Cidade da Criança, em Natal/RN. Os macacos do belo recanto potiguar não podiam ver os sapiens se aproximando de suas jaulas que logo iniciavam uma alegre sessão erótica-educativa, deixando pais com faces avermelhadas e crianças curiosas para saber e ver detalhes. Por ordem da moral e dos bons costumes, foram expulsos, para tristeza da meninada que se divertia e não tirava a atenção da aula de conhecimentos.

Pois bem, nem nos tempos das fogueiras da inquisição e das leis das escrituras levadas ao pé da letra da razão, temperadas pela tenebrosa fúria de sacerdotes endiabrados armados com vara de bater em pecador, o homem deixou de lado a face crítica carregada de humor, porque se não fosse assim, estaria condenando a humanidade a deixar de lado o livre agir, pensar e aprontar.

Arvorado não se sabe em que, por qual razão e apostando que a penitencia terrena jamais lhe seria aplicada, porque o tribunal do tempo pintaria sua falta com as cores do humor, um escultor sacro encarregado de ornamentar a Igreja de Todos os Santos, em Hereford/Inglaterra, construída no ano de 1.200, mandou ver na criação arteira.

Há muito que não se realiza missas e celebrações na velha igreja medieval e o local tem servido apenas como atração turística. Foi pensando na turistada que os administradores resolveram incrementar o ambiente com uma modernosa cafeteria, com iluminação que desse vulto aos traçados arquitetônicos e destacasse a perfeição das obras de artes e foi aí que o tal escultor-pecador foi descoberto.

Um cliente, atento e bisbilhoteiro, ao levar a xícara de café a boca quase engasga ao perceber que sobre uma das peças em destaque existia muito menos das coisas do sagrado e muito mais das coisas das tentações, pois lá estava a figura de um homem, com paramentos sacerdotais, numa posição erótica e com os possuídos escancaradamente a mostra.

Os peritos que atestam das coisas de antanho ainda não têm certeza se a escultura foi feita no período da construção ou na reforma acontecida há 800 anos, mas apostam que a obra só não foi descoberta antes por estar camuflada em local de pouca iluminação e após a reforma, para implantar a cafeteria, todos os detalhes foram valorizados, e valorizados até demais.

A imagem do achado bizarro varou o mundo nas asas das mídias sociais, carregado dos mais diversos e não somente divertidos comentários, pois sempre têm aqueles que se vestem com uma toga de juiz e saem por aí arrotando manifestos, querendo reescrever a história de acordo com os ditames de uma cartilha amalucada e queimando a língua no fogaréu da hipocrisia.

– O que eu acho? – Acho que o velho e sacana escultor foi perdoado e oito séculos depois teve sua obra coroada com a graça de Deus e o riso de todos os santos. Quantos aos ingênuos símios da Cidade da Criança, foram castigados por afrontarem almas e olhares que em tudo enxergam perversão.

Um viva aos anarquistas!

Nelson Mattos Filho

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Hagar, sempre horrível

hagar