Arquivo do mês: outubro 2011

Kourou – Guiana Francesa

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As Iles du Salut foram ficando para trás e a vontade de ficar mais uns dias de sombra e água fresca, curtindo aquelas belezas, não passava de jeito nenhum. Mas, tínhamos que seguir viagem e ainda faltavam mais de 600 milhas para o nosso destino, Trinidad e Tobago porta de entrada para o Mar do Caribe e suas ilhas dos sonhos da grande maioria dos velejadores de cruzeiro do mundo.

Também não estávamos ali para fazer turismo, estávamos ajudando o amigo Eduardo Zanella a levar o catamarã Itusca até uma marina em Trinidad. Mas também, ninguém é de ferro e resistir a tanta beleza é quase impossível. Vimos o que tínhamos de ver, passeamos o que tínhamos de passear, conhecemos um pouco da história instigante que ainda paira no ar e tiramos muitas fotos para nunca esquecer. Agora era apenas saudades e boas recordações daquelas ilhas bem preservadas e cativantes.

Como o vento até aquela latitude não havia comparecido com firmeza para o trabalho, tivemos que usar o motor durante boa parte da viagem e como no mar não tem posto de combustível na esquina, tínhamos que sair em busca do líquido precioso que faz o motor se manter vivo. Nem sempre a vida é como a gente sonha, mas alguma coisa não estava certa com o clima por aquelas bandas. Com diesel acabando e o vento fraco, rumamos para o continente em direção a cidade de Kourou, onde a França mantém uma grande base de lançamento de foguetes e onde sabíamos que poderíamos encontrar combustível e alguns mantimentos que estavam acabando.

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Um acidente recorrente

O naufrágio do barco Imagination ocorrido no lago Paranoa em que morreram 9 pessoas, em maio de 2011, foi causado por manutenção precária. Pelo menos isso foi o que concluiu a perícia. O Laudo apontou ainda que o barco sofreu modificações logo após a vistoria da Marinha do Brasil.

 

Amanhã é dia de regata na Lagoa do Bonfim

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Para quem procura um programa especial para este Sábado, 29/10, a Lagoa do Bonfim no munícipio de Nísia Floresta/RN, vai ser palco de mais uma etapa do campeonato de vela. O evento organizado pela flotilha de velejadores do Bonfim, ancorada na sub-sede do Iate do Clube do Natal, tem realizado grandes competições e a de amanhã não deve fugir a regra e nem da raia. A regata terá início às 14 horas e logo após a competição, como é de costume, a turma vai se reunir num gostoso churrasco de adesão. Não fique em casa, vá ao Bonfim e tenha um Sábado festivo de alegria e competição num dos mais belos recantos do Rio Grande do Norte.

O encontro com um senhor do vento

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Ontem, 28/10, a noite no Iate Clube do Natal, ainda sob os ventos e animações da regata Fernando de Noronha/Natal, tivemos mais um bom evento para os amantes da vela. O encontro de velejadores acontece sempre as Quartas-Feiras e nessa que passou, 27/10, tive o prazer de fazer a apresentação das fotos e uns breves comentários sobre a nossa navegada até a ilha caribenha de Trinidad. Mas, como ainda tem muita gente boa ancorada no Potengi a espera da vontade de ir embora, uns para o Caribe e outros de volta para casa, todo dia é dia de encontro de velejadores e essa Quinta-Feira não foi diferente. Aproveitando a presença entre nós do velejador Kiko Pellicano, medalhista olímpico na olimpíada de Atlanta, e tripulante do Brasil 1 na regata volta ao mundo Volvo Ocean Race edição 2005, assistimos o filme Senhores do Vento, que conta como foi a participação brasileira na competição. Foi mais um grande encontro enriquecido pelos comentários de Kiko Pellicano, contando causos e situações vividas pela tripulação comandada pelo velejador Torben Grael e que não constam no filme e nem no livro Lobos do Mar e explicando cenas passadas na tela. Conversar com o Kiko, e escutar suas histórias recheadas de causos hilários e muita adrenalina, é um bom momento para aprender um pouco da história do esporte a vela. Ele como medalhista olímpico e grande velejador consagrado no mundo é um poço de histórias. Demos boas risadas na noite de Quinta-Feira e todos que compareceram ao encontro saíram felizes. Não posso deixar de agradecer ao velejador Kiko Pellicano pela humildade e presteza em atender o convite.      

Ajustando as velas

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Se você acha que morar a bordo de um veleiro é viver a vida apenas olhando o vento, o mar, se intitular blogueiro e passar a contar histórias a torto e a direito, você pode até ter suas razões para pensar assim, mas a coisa não é bem como você imagina. Eu mesmo ultimamente ando meio sem tempo. Pode rir, porque essa é a mais pura verdade. Se bem que, essa falta de tempo eu mesmo saio procurando por ai. Aqui nesse blog tenho andado atropelado para dar conta de todos os assuntos que queria postar, pois os “compromissos sociais” estão a cada dia se multiplicando e o Avoante ainda está passando por uma grande manutenção. Quando isso acontece, a nossa capacidade criativa para escrever fica relacionada ao medidor etílico e ao cansaço, mas mesmo assim vou a luta e aprumo as velas para o dia seguinte. O problema é que os assuntos vão se acumulando e quando vejo, o arquivo está lotado. Todo esse blá blá blá é apenas para dizer que vou, mais uma vez, me prometer a trabalhar com afinco para deixar você atualizado do cotidiano e das notícias que navegam diante dessa nossa vida de cruzeirista de carteirinha. Assuntos não faltam, alguns deles recheados de doses de humor, outros saborosos como um “Osso de Dinossauro” servido no afamado Bar do Cobra Choca, nas vielas de um humilde bairro da capital potiguar. Tem ainda a nossa visita a um grande navio de guerra com a tripulação armada até os dentes e mais um oceano de coisas trazidas pela força dos ventos e correntes marinhas. Agora vou ajustar as velas e colocar o barco para navegar entre letras, fotos e causos.   

Volvo Ocean Race 2011/2012 – Vai começar a brincadeira

Com uma regata de porto começa neste Sábado mais uma edição da Volvo Ocean Race, a maior regata de volta ao mundo e que foi vencida pelo brasileiro Torben Grael na última edição. Serão nove meses passando pelos cinco continentes e com seis equipes disputando na raça o troféu. É uma prova de coragem e perícia para os 66 tripulantes envolvidos na disputa, 11 em cada barco, onde qualquer descuido pode ser pago com a vida. Ondas gigantes, icebergs, baleias, ventos fortes, chuva, frio, sol e muito mais está no trajeto dessa regata que encanta é o máximo para velejadores de todo o mundo. Nada se compara a Volvo Ocean Race. Mais uma vez o Brasil vai sediar uma etapa da VOR e a cidade escolhida foi a catarinense Itajaí.

Furacão. Agora é a vez do Rina

Mais um Furacão avança pelo Mar do Caribe. Dessa vez é o Rina, o quinto furacão a espalhar destruição entre as ilhas caribenhas e os EUA. Já se sabe que o Rina tem ventos acima de 175 quilometros por hora e por enquanto ainda é considerado de categoria dois.

Uma boa terra

Terra Caída

Artigo publicado em Janeiro de 2010 no Jornal Tribuna do Norte, coluna Diário do Avoante.

Toma Burro! Essa frase para quem conhece o povoado de Terra Caída no município de Indiaroba/SE é bastante familiar. Faz lembrar o impagável Zé de Teca, uma figura folclórica, amiga e cheia de boas histórias para contar.

Zé de Teca de vez em quando, ou quase sempre, esta aprontando uma boa, para alegria dos que tem o prazer de conviver com ele.

Sentar numa roda de bate papo e escutar Zé contar suas estripulias, quando da gravação da novela Tieta, é um deleite de alegria e diversão. Ele fala com naturalidade e numa intimidade tão aguçada da atriz Sonia Braga, a bela morena que encarnou Tieta na novela global, até parece que tudo aconteceu ontem à noite.

Zé de Teca, o italiano Burro, como ele mesmo gosta de se autodenominar, flanava com muita naturalidade no sete de filmagem e em todos os eventos sociais em que compareciam os artistas e sua musa super star.

A esposa de Zé, Dona Regina, que ele batizou de Regina Duarte, para não fugir da linha global, de tanto ouvir os seus relatos de paixões com atrizes e outras afamadas, já não esboça nenhuma reação de ciúme. Para ela Zé é um menino grande, um bode velho que escapou das dunas brancas de Mangue Seco e hoje faz sua festa particular em Terra Caída.

É muito difícil alguém por aquelas bandas não conhecer ou mesmo não saber alguma coisa sobre ele. Ficar amigo de Zé é muito fácil, basta que a pessoa goste de brincar, escutar histórias e acompanhá-lo em uma rodada de sapeca temperada com 51. Toma Burro!

Relatar suas aventuras com Sônia Braga é o maior prêmio para esse apaixonado pela vida. Difícil é saber até onde vai à imaginação do homem e qual a fronteira da verdade nesse relacionamento recheado de boas intenções com umas pitadas de amor platônico.

Numa das muitas festas que giraram em volta da filmagem e que Zé de Teca compareceu ao lado de sua musa morena, eles foram montados numa carroça puxada por um burro. Na festa tinha comida e bebida para dar de comer a um verdadeiro batalhão. Zé não agüentava mais comer nem beber coisa nenhuma. Seu estado etílico era de fazer inveja a muito boêmio apaixonado. Mas, ele solidário com o burrico da carroça e incentivado por Sônia Braga, juntou o que podia de bolo, torta, salgados e refrigerante, colocou tudo no mais fino prato de louça é foi dar de comer e beber ao burro. Enquanto o burro comia, ele e sua bela atriz deitaram na grama e ficaram um bom tempo olhando as estrelas. Quando acordaram, a festa já tinha terminado, o burro os observava de longe e não existia mais ninguém para contar a história, somente ele, Sônia e o burro. Mas, ele jura de pés juntos que nada de mais aconteceu fora à contagem das estrelas.

Quando terminou a gravação da novela, Sônia Braga quis levar Zé de Teca com ela, mas ele muito apaixonado por sua Regina Duarte, deixou que a bela morena partisse para nunca mais vê-la.

Certa vez um filho dele caiu da canoa quando pescava em alto mar e desapareceu nas profundezas do oceano. Dona Regina vendo o filho ser levado pelo mar, chorou uma semana seguida e Zé sempre dizia que ela não se desesperasse a toa, pois um dia ele votaria. Uma semana depois apareceu um tubarão em frente à Terra Caída e para surpresa de todos em cima do bicho, cavalgando alegremente, estava o filho de Zé.

Ele contou que quando afundou no mar o tubarão o pegou no lombo e saiu com ele numa viagem pela Bahia, Rio de Janeiro e outros Estados do sul. Quando ele já estava sem fôlego o tubarão deu meia volta e trouxe-o de volta. Toma Burro!

O Avoante já entrou três vezes na Barra de Estância e lá dentro, sempre faço o rumo do povoado de Terra Caída. Sigo em busca das histórias fantásticas do grande Zé de Teca, dos massunins da Ilha da Sogra, das sapecas na brasa e do calor humano de um povo bom.

Estamos prestes a sair novamente de Natal e uma das paradas oficiais do Avoante será novamente a tranquilidade dominante daquela ancoragem e dos aromas trazidos pelos ventos. Terra fértil, muito verde, muito peixe, muito crustáceo, muito calor humano e muita alegria.

Tomar banho de rio no pôr-do-sol e esperar a revoada de pássaros de volta aos ninhos. Tudo isso é Terra Caída e tudo isso é bem Brasil, mundo apaixonante e abençoado pela natureza.

Nelson Mattos Filho/Velejador

Baleia jubarte consegue voltar ao mar

A baleia jubarte que havia encalhado na praia de Upanema, na cidade de Areia Branca, litoral norte do Rio Grande do Norte, conseguiu voltar ao mar com a ajuda de 200 voluntários e Biólogos.

 

As Iles du Salut

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Conversando com um indiano que mora há muitos anos na Guiana Francesa, casado com uma brasileira, e que encontramos por acaso em frente a um orelhão na cidade de Kourou, ele nos falou que se Iles du Salut fosse no Brasil aquilo seria um lugar alegre com muitas pessoas se divertindo, organizado e sem nenhum problema. Fiquei olhando para ele e tentando descobrir até onde vai à imaginação do ser humano.

Fiquei imaginando a cara de felicidade dos milhares de náufragos, traficantes, degredados e espertalhões que cruzaram esse atlântico velho de guerra, em busca de um mundo verde e fascinante, e que alguém, em alguma taberna enfumaçada, já havia comentado que existia além mar. No mínimo o comentário era esse: “Vamos lá que o negocio é bom. Tem uns indiozinhos metidos a bestas, umas indiazinhas arrumadas e os caciques se vendem por qualquer promessa ou presentinho barato!” Será? Mas vamos deixar isso para lá, pois os ventos e as correntes já espantaram esses perigos de nossas praias. Restaram a nossa fama festeira, futebolista e alegre.

Quando desembarcamos na Ile Royale, a maior e onde se localiza a administração do arquipélago da Iles du Salut, não pude deixar de perceber a quantidade de pessoas estendidas na grama descansando, dormindo, conversando ou apenas deixando o tempo passar. Não apareceu ninguém para ditar normas e nem exigir, sob ameaças, o cumprimento das Leis de preservação ambiental. Tudo já estava ali muito claro sem fiscais, sem fiscais dos fiscais, sem ONGs para fiscalizar os fiscais, sem fiscais para fiscalizar ONGs e sem a balbúrdia de fazer que se fiscaliza para não fiscalizar nada. Não pude deixar de comparar com uma ilha distante em que não se pode nada, que nas entrelinhas se pode tudo e que está longe de receber o selo de preservada.

Iles du Salut tem um passado sombrio e tenebroso como tem muitos lugares que já serviu de prisão ao longo dos tempos. Dos horrores dos tempos de grades e ferros restaram celas abandonadas e ruínas preservadas dos prédios que abrigavam condenados. Ao longo do passeio entre trilhas e celas ainda é possível ouvir sussurros abafados da história encravada em suas pedras, misturada entre uma espessa vegetação de mata amazônica, capivaras, araras coloridas e uma vasta fauna oriunda da floresta.

Na Ilha Royale um albergue restaurante recebe o visitante usando toda a frieza originada e ensinada nas melhores escolas francesas. Deve ser por isso que o nosso amigo indiano se recente. Um museu, seguindo o ritual dos melhores museus europeus, conta em detalhes tudo o que o tempo tenta esquecer e a história não da permissão. Livros, quadros e documentos são guardados por uma brasileira nascida sob a sombra da floresta amazônica do Amapá. “– De onde você é?” “ – Sou do Brasil” “ – Eu também!” Que mundinho pequeno!

Levantamos âncora da Royale e fomos ancorar na Ilha Saint Joseph. Longe? Não! Tão próximo que poderíamos ir a nado, mas queríamos um bom abrigo para nosso churrasco de comemoração da chegada. Royale era bom, mas Saint Joseph parecia melhor. Brasileiro é festeiro!

Churrasco, caipirinha, cerveja gelada, música e alegria, afinal estávamos comemorando uma travessia de 7 dias apenas de céu e mar e nossa primeira velejada internacional.

O dia seguinte foi para explorar a Ilha de Saint Joseph, suas praias perfeitas para piquenique e belas paisagens cercadas de coqueirais. Um antigo e bem preservado cemitério, de frente para a Ilha do Diabo, espalha no ar ainda mais beleza e tranquilidade, não é a toa que ao lado do seu muro de pedra se encontra o mais gostoso ponto dos adeptos do piquenique. Redes armadas entre as arvores compõe a cena ideal para a frase “Sombra e água fresca”. Um dia eu ainda vou armar a minha em meio aquela paz.

O mundo turístico de hoje conhece pouco das Iles du Salut, mas se lembra do filme Papillon e suas cenas macabras, cercadas de tubarões ferozes e traições, onde uma história verídica é contada e expos ao mundo a inexpugnável Ilha do Diabo, um lugar onde nunca ninguém tinha conseguindo escapar. Se no passado era impossível sair da Ilha do Diabo hoje em dia é proibido desembarcar em suas terras. Ela está fechada a visitação pública, mas avistá-la de longe já é um bom troféu para os visitantes.

Ficamos encantados e fascinados por estar ali e se fosse possível, ficaríamos um bom período curtindo toda aquela história, mas tínhamos que seguir viagem e ainda teríamos que dar um pulinho no continente na cidade de Kourou, Guiana Francesa. Velas em cima e seguimos viagem!

Nelson Mattos Filho/Velejador