Enxu Queimado/RN, 08 de janeiro de 2020
Olá, comandante dos mares de Iemanjá e dos oceanos em que navegam as Naus das boas amizades, embaladas por ondas de afagos, risos, bons papos e temperadas com o néctar colhido nos mais puros canaviais das terras banhadas pelo belo Rio Cunhaú, “água de mulher” segundo o alfabeto tupi, que guarda no fundo do seu leito bons arquivos da história da nação dos potiguares.
Velejador, como vão os aprendizados, colhidos do alto da colina em sua aguçada observação, sobre o suave voo das velas que riscam as águas e dão ar de fascinação a Praia de Barra do Cunhaú? Para não perder a vez: Ergamos um brinde! Saúde!
Amigo, respondendo sua pergunta, feita nos primeiros passos deste ano que marca rumo ao futuro, sobre como estavam soprando os ventos nas bandas por onde o vento faz a curva, digo que sopram faceiros, preguiçosos e mornos vindos das paragens do Norte. Daí, lembro que o poeta arriscou falação e disse, enquanto jurava mentiras em sua caminhada solitária, que os ventos do Norte não movem moinhos e ainda bem que ele assumiu os pecados, pois se tivesse deitado o corpo sob o frescor das palhas do coqueiral dessa Enxu mais bela, veria outros segredos. Mas antes da correção dos incautos, vou dizer que a arte tem interpretações diversas e segundo se conta a boca pequena, os arrodeios do poeta de sangue latino contava a história do sofrimento de um povo, o que não é o caso desse aprendiz de escrevinhador que tenta ser o que não é e da varandinha dessa cabaninha de praia, olha para os modernosos e gigantescos catadores de vento, da eólica, apontados para os ventos que vem do Polo de riba e se arvora a desmiolar o juízo em palavreado amalucado e tomara ter respondido sua pergunta.
Érico, tenho andado meio disperso nos escritos, mas não é por falta de assunto, pois nesse povoado praia o que mais tem é assunto para assuntar. Porém, essa tal de rede social é bicho tinhoso para nos meter em caminhos tortuosos e ainda por cima é danada em nos enganchar em bate-boca e o pior, com gente que nem conhecemos nem mais gordo, nem mais magro, mas um tal de logaritmo afirma que somos amigos desde de criancinha e quando damos por fé, entre uma vírgula e um ponto, lá vai a “amizade” para o beleléu. Pois bem, a gente fica passando o dedo, para cima e para baixo, na telinha e nem percebe que o tempo passou e com ele as ideias dos escritos.
Comandante, a virada do ano por aqui foi na paz que sempre se deu e atesto que nem precisava das tais bandas que se apresentaram com repertório de nem sei o que dizer. Nas festas de Ano Novo, o largo da beira mar, uma pracinha de apetitosa areia branca, vira um grande salão de abraços, apertos de mão, declarações de amizades, crianças brincando despreocupadas, adultos em largos sorrisos e tendo as ondas do mar como testemunha e a Senhora dos Navegantes como fiel guardiã. As badaladas da meia noite são festejadas ao som do pipocar de fogos, que este ano disseram que foi pra mais de 13 minutos. Se foi ou se não foi não dou por certo, pois sempre me atrapalho com as bolhinhas do espumante e daí já viu, né! Juro que queria saber quem danado inventou essa história de beber champanhe em virada de ano. Se era para fazer espuma e esparramar pelo chão, bastava uma Brahma, num é não?
Mas a festança começa mesmo é pela manhã com a tradicional regata de fim de ano e este ano, para não fugir à regra e nem do costume da gozação, o barco de Pedrinho, com ele no governo, chegou em derradeiro. O pior, sempre que estou por aqui ele me convida para fazer parte da tripulação e até já gastei todo o rol das desculpas, mas por enquanto vou me livrando do mico, ou melhor, do burro, pois quem chega por último, ou comete a maior barbeiragem, tem que passear em meio a turma montado num burrico. Meu amigo Pedrinho, no comando do Brasil 1, não perde uma viagem!
Caro amigo, Érico Amorim das Virgens, naquele dia em que você perguntou sobre os ventos que estavam soprando por aqui, juro que imaginei que havia chegado a hora de ver a Musa jogando o ferro no portinho de Enxu e até pedi a Lucia que preparasse uma moqueca das boas e arrochasse na farinha do pirão, pois logo, logo você riscaria o horizonte, mas foi só a vontade, porque fiquei sabendo que seu belo paquete mais uma vez havia desbravado a brava barra do Cunhaú e naquele momento descansava feliz diante da estonteante paisagem que cerca as terras dos Santos Mártires. Porém, não esqueça que me deve uma visita, se bem que te devo bem mais do que uma, mas conta é assim mesmo, quando a gente deve dá preguiça de lembrar!
Amigo, deixa eu te contar um segredo: Ganhei uma garrafa de Samanaú envelhecida, presente de minha irmã Margareth, que vive me acenando, mas nem dou cabimento a ela. Que tal vir aqui para tirar essa história a limpo?
Grande abraço.
Nelson Mattos Filho