Das conjunturas

mapserv sexta feira

– Vamos combinar assim: Quando as coisas do tempo estiverem sob as ordens do El Niño, teremos menos chuva e quando La Niña assumir o comando do pedaço, teremos mais chuva, Ok? –  Não! – Como assim não? Pois é, é complicado alinhar as ideais quando queremos dar pitacos na queda-de-braço entre o casalzinho andino, porque basta um olhar atravessado, entre as partes, para o clima do planetinha azul virar de ponta cabeça e endoidar o cabeção da galera que cuida das coisas do tempo. Desde julho de 2023 que a nossa vida é regida pela batuta do El Niño e desde lá caminhamos como a cantora Simone, sem saber como será o amanhã. Alias, a única regra que bate com o manual de instrução do menino andino é o calor de lascar moleira que assola as terras de Pindorama de cabo a rabo, porque o demais está tão embaralhado que mais parece jogo de quebra-cabeça e por mais que os cientistas do tempo se reúnam, por mais que tentem falar uma linguagem inteligível, mais as nuvens e os ventos se danam em demostrar o contrário. A nota conjunta do INPE/INMET, em julho de 2023, apostava que   “…as previsões dos modelos climáticos globais indicam mais de 90% de probabilidade de que o de El Niño continue a se manifestar pelo menos até o final do ano. Quanto a sua intensidade, os modelos sugerem a sua continuidade com intensidade moderada, podendo atingir a categoria de intensidade forte.” Já estamos no final de abril de 2024 e o que assistimos é a “criaturinha” mandando ver no reboliço, despejando chuva adoidado pelos sertões nordestinos e fazendo a festa de um povo. O que ficou acordado na última quinta-feira, (25), na Reunião de Análise Climática e Prognóstico para o Rio Grande do Norte, coordenada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (EMPARN), em conjunto com especialistas de todos os centros de meteorologia do Nordeste, é que no meu torrão natal, os meses de maio, junho e julho serão de chuva acima da média e o litoral potiguar será o mais chovido. Ah, e que La Ninã já está com a mala de travessuras prontinha para entrar em cena. Bem, vamos aguardar a próxima nota de conjuntura, mas enquanto isso, o que mostra o gráfico dos satélites do CPTEC/INPE é que o final de semana, pelo Nordeste, será chuvoroso. 


Moído da Lua Rosa

IMG_0026

Numa quarta-feira de início de abril, após uma terça-feira de muita chuva em Natal/RN, fui a uma loja de material de construção e enquanto estava sendo atendido na recepção, chegou um rapaz e comentou com a mocinha que me atendia: “Tu já visse uma coisa dessa, ontem foi chuva em banda de lata e hoje esse sol de torar. Pense num governo fuleira, sabe nem controlar o tempo!”  A atendente levantou a vista para mim, fez cara de riso e respondi sem olhar para ele: – É um governo fuleira mesmo! Rimos, eu e a moça. O rapaz ficou sério, deu um tempo lendo um papel que trazia na mão e saiu de fininho.

Bem, acho que até hoje o rapaz anda bronqueado com o governo, porque ultimamente, pelo Rio Grande do Norte, o sol, a chuva e o calor andam num peleja que só vendo, e pelo que se vê nas previsões, a pisadinha é a mesma Brasil afora.

E para quem não está amuado com a chuva e o sol, e gosta de apreciar os espetáculos da natureza, hoje, 23/04, é dia de Lua Cheia Rosa, mas ninguém precisa ficar desapontado, e muito menos botar culpa em quem não  deve, se ao observar a Lua Cheia desta terça-feira não notar tonalidades rosa, porque, segundo o site NSC Total, o nome da Lua cheia do mês de abril  foi dado pelos povos nativos do Hemisfério Norte, que relacionavam a época do ano ao desabrochar das flores por conta do início da primavera naquela parte do planeta e algumas dessas flores possuíam a cor rosa.

Não há progresso sem ordem

1713808920674 (2)

Durante minha visita ao Açude Marechal Dutra, Gargalheiras, no município de Acari, em 05 de abril de 2024, primeiros dias do esperado sangramento, que não acontecia desde 2011, fiquei apreensivo ao ver a quantidade de adultos e crianças se banhando sobre as pedras que ficam ao pé da imensa parede do sangradouro, com 26 metros de altura. Um mundão de água de natureza praticamente incontrolável, ainda mais diante das chuvas que caiam sobre a região.

Este ano o Gargalheiras em seis dias saiu praticamente do zero e atingiu sua carga máxima, de mais de 44.000.000 de metros cúbicos. Numa velocidade, segundo contam, jamais alcançada. As pessoas que tomavam banho naquele momento estavam em perigo real de sofrerem acidente ou até mesmo perderem a vida.

Ao retornar para a cidade, começo da noite, cruzei a área do mirante e observei que seis soldados da Polícia Militar, assim como alguns fiscais da prefeitura, do Igarn (Instituto de Gestão de Águas do Estado do Rio Grande do Norte) e membros do poder municipal e estadual, conversavam alegremente e ninguém estava atento ao que se passava lá embaixo. Claro que devemos levar em consideração que aquele era um momento de grande euforia para todos, mas não justifica o descaso com a vida.

No dia seguinte soube que algumas trilhas haviam sido vedadas, inclusive a que usei, porém, pelas imagens divulgadas nas mídias sociais, tudo continuava na mesma e vários vídeos de pessoas caminhando sobre o topo da barragem e até mergulhando no açude foram divulgados.

Hoje, 22/04, a Tribuna do Norte divulgou um vídeo em que é possível ver um grupo de pessoas tomando banho abaixo da parede do sangradouro e em dado momento um homem tenta caminhar sobre a pedra, escorrega e é levado pela correnteza. Os relatos dizem que o homem foi resgatado sem maiores gravidades.

Cenas assim são vistas em todas as regiões por onde açudes e barragens sangram devido as boas chuvas que abençoam o Rio Grande do Norte. O poder público precisa ficar alerta e agir com o rigor que a boa norma de segurança exige. As pessoas não podem, nos dias atuais, conviver com perigos e situações vexatórias do arco da velha como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Cada vez mais vemos tribunais exigido o fiel cumprimento de leis, normas e princípios como se fosse a última fronteira para o país alcançar a perfeição de sua autoridade. E tudo sentenciado com uma cara de seriedade de meter medo. Já passou o tempo de aprendermos que placas de sinalização, advertências, leis e normas precisam ser obedecidas sob penas de sofrermos os rigores por elas estabelecidos. Mas, não é preciso cara feia, atropelo as leis e muito menos ameaças veladas, basta que se cumpra o que está determinado sem que se coloque uma vírgula a mais.

Na hora em que burlo os avisos de proibição e decido caminhar sobre a parede de uma barragem, em seu volume máximo, ou tomar banho abaixo de um sangradouro, posso estar colocando alguém em risco, principalmente equipes de resgate, caso aconteça um acidente. Não precisamos de mimos, precisamos sim sermos cobrados para assumirmos as responsabilidades das nossas faltas.

Pois bem, segundo matéria na Tribuna do Norte, o Comandante do quartel do Corpo de Bombeiros, em Currais Novos, tenente Tertuliano, responsável pelo atendimento a Acari, diz que há um patrulhamento ordinário e que aos sábados, domingos e feriados duas guarnições atuam para prevenção e orientação à população, em parceria com a Prefeitura de Acari. Foram fixadas placas de advertências com áreas de risco e até fitas zebradas em áreas onde não é recomendado o banho, mas a população não tem respeitado. “Sempre que estamos lá retiramos as pessoas que teimam em passar para a área de risco. A água ali é bem forte e pode arrastar uma pessoa muito fácil. Informamos o pessoal, orientando. Já teve casos de saltarem com nossa presença. Fizemos advertências incisivas, mas no fim de tarde e até à noite há pessoas que fazem saltos próximos ao sangradouro”.

São coisas assim que afogam a esperança, mas que não ofuscam o brilho e a beleza do Gargalheiras em uma exibição colossal.

Nelson Mattos Filho

O papel oculto da Via Láctea na mitologia egípcia

REPRESENTAÇÃO DA DEUA DO CÉU, NUT

Representação da deusa do céu, Nut, coberta de estrelas, sustentada por seu pai, Shu, e arqueada sobre Geb, seu irmão e deus da Terra )Foto: E. A. Wallis Budge, The Gods of the Egyptians, Vol. 2 (Methuen & Co., 1904))

O povo egípcio se maravilhava já na Antiguidade com os mistérios do cosmos. Eles idolatravam o Sol, a Lua e os planetas, divindades celestiais que influenciavam nas suas concepções de vida e morte. A construção das majestosas pirâmides e as pinturas de Rá, o deus do Sol, navegando pelo céu no seu barco solar são apenas alguns dos muitos exemplos do profundo respeito que eles sentiam pelos astros.

Curiosamente, a Via Láctea, a galáxia que abriga o planeta Terra e o Sistema Solar, parecia não ter desempenhado um papel proeminente na cosmologia egípcia. No entanto, pesquisas recentes sugerem que a nossa morada no universo pode ter sido mais importante para o Egito Antigo do que se pensava até então.

De acordo com um estudo do astrofísico Or Graur, publicado no Journal of Astronomical History and Heritage, a Via Láctea, que seria muito mais visível naquela época sem a poluição luminosa moderna, estaria de certa forma associada a Nut, a antiga deusa egípcia do céu.

Segundo a pesquisa, Nut então não somente representava o caminho para o além-mundo, como já se sabe, mas também exercia o papel importante de guiar os pássaros em sua migração anual. Essa descoberta abre novas interpretações sobre o seu significado na mitologia egípcia.

Nut é frequentemente retratada em textos antigos como uma mulher adornada com estrelas, curvada sobre a terra, protegendo seu irmão Geb, o deus da Terra, das águas caóticas do abismo. A cada amanhecer, Nut dá origem ao Sol, e, a cada anoitecer, o engole, reiniciando o ciclo de vida no dia seguinte.

Ainda que a Via Láctea mude a sua posição no céu, movendo-se de leste para oeste no verão e de norte para sul no inverno – o que coloca em dúvida a ideia de que Nut representava a galáxia – a nova pesquisa descobriu, após consultar numerosos papiros funerários encontrados em tumbas egípcias antigas, representações de Nut com os braços estendidos em ângulos que coincidem com essas variações celestiais.

Usando simulações astronômicas modernas, Graur observou que, no inverno, a Via Láctea parece fazer o traçado dos braços estendidos de Nut, enquanto no verão segue a sua espinha dorsal. Isso sugere uma relação simbólica entre a deusa e a nossa galáxia, embora o astrofísico esclareça: “Não acredito que a Via Láctea seja Nut, isto é, uma manifestação dela. Em vez disso, penso que a Via Láctea ajudou os antigos egípcios a verem Nut cumprindo sua função celestial.”

O estudo também explorou como diferentes culturas interpretam a Via Láctea, e encontrou semelhanças no seu papel como ponte entre a vida terrestre e a vida após a morte, bem como rota para migrações de aves, semelhante a tradições registradas na América do Norte, América Central, Finlândia e no Báltico.

De acordo com a pesquisa, essas analogias reforçam a ideia de que Nut tinha um papel essencial na orientação das almas e dos pássaros, semelhante à forma como outras culturas viam a Via Láctea como um caminho de espíritos. “Esse trabalho é um início empolgante para um projeto maior para catalogar e estudar a mitologia multicultural da Via Láctea”, disse o astrofísico.

Embora seja astrofísico e não egiptólogo, Graur interessou-se por Nut enquanto pesquisava para um livro sobre galáxias. “Minha pesquisa mostra como a combinação de disciplinas pode oferecer novas perspectivas sobre crenças antigas e destaca como a astronomia conecta a humanidade entre culturas, geografia e tempo”, afirmou.

Além do aspecto mitológico, os egípcios se destacaram pela sofisticação astronômica. Eles eram capazes de catalogar estrelas, traçar constelações e monitorar os movimentos de entidades celestes como o Sol e a Lua. Eles também foram pioneiros no desenvolvimento de um calendário de 365 dias, demonstrando sua compreensão avançada do cosmos para sua época.

COPIADO DO SITE CLIMATEMPO. TEXTO DE JOSÉLIA PEGORIM

Energia limpa, mas nem tanto

1 Janeiro Fevereiro (103)

Certo dia, deitado sob a sombra de uma barraca de pescadores debruçada sobre o “beiço” da praia de Serafim/RN, um paraíso encantador entre as praias de Enxu Queimado e São Bento do Norte, ouvindo o ronco surdo e constante dos geradores eólicos plantados sobre as dunas, me perguntei se haveria estudo para saber se aquele som sem fim, ou mesmo se a existência de um possível campo magnético, criado pelas turbina, afetaria a saúde das comunidades em torno dos parques eólicos. Os dias se seguiram e em mesas de bate-papos, regadas com cervejas geladas, onde os problemas do mundo são resolvidos e esquecidos quando passam os efeitos do álcool, conversei com engenheiros, técnicos e médicos, mas nenhum tinha opinião formada, e se tinham, preferiram deixar o assunto ingrato para a próximo rodada de bate-papo. Recentemente vi que a 1ª Vara de Currais Novos/RN, condenou uma empresa de energia eólica a indenizar um morador da zona rural da Serra de Santana, no Seridó potiguar, em R$ 50 mil. O autor alegou que, em razão da construção e funcionamento do conjunto de torres eólicas acerca de 200 metros de distância de sua residência, seu imóvel residencial passou a apresentar trincas, fissuras e rachões, bem como que o barulho constante provocado pela rotação do aerogerador tem causado danos morais diretos à sua pessoa. O juiz, Marcos Vinícius Pereira Júnior, pediu uma perícia técnica  que comprovou os danos e verificou que os sons provenientes das máquinas do parque eólico gerenciado pela empresa geram incômodos na vizinhança. O juiz registrou que fez inspeção judicial no local, constatou os danos e diante da conduta ilícita da ré, destacou “que os ruídos sonoros produzidos pelo funcionamento das torres de energia eólica captados na residência do autor são superiores ao permitido pela NBR 10.151 e pela Lei Estadual nº 6.621/94, gerando incômodo sonoro contínuo ao autor e sua família, especialmente no período de repouso noturno”. Destacando também que o artigo 1º da referida Lei, que trata sobre o controle da poluição sonora em todo o Estado do Rio Grande do Norte, estabelece limites aos níveis sonoros: “É vedado perturbar a tranquilidade e o bem estar da comunidade norte-riograndense com ruídos, vibrações, sons excessivos ou incômodos de qualquer natureza emitidos por qualquer forma em que contrariem os níveis máximos fixados nesta Lei.” Pronto, acho que encontrei a resposta para minha observação!

Fonte: Blog do Xerife

As 10 músicas do século XX mais ouvidas nas plataformas de streaming

10. Com quatro músicas neste top 10, a banda Queen é o destaque da lista, mostrando uma grande popularidade do grupo que era liderado por Freddie Mercury. A primeira faixa a aparecer na lista é “Under Pressure”, lançada no ano de 1981 em parceria com o cantor David Bowie.
Reproduções: 967.323.424
9. Outro sucesso dos anos 1980, este hit da banda The Police liderou a parada musical dos Estados Unidos durante oito semanas, após o lançamento em 1983, ficando também no topo da parada britânica por quatro semanas.
Reproduções: 968.787.362
8. Presente no álbum de estreia do Guns N’ Roses, de 1987, este clássico contribuiu para a ascensão do grupo liderado por Axl Rose e foi incluído na trilha sonora de vários filmes. Seu clipe foi o primeiro de música dos anos 1980 a alcançar 1 bilhão de visualizações no YouTube.
Reproduções: 1.016.139.764
7. Uma das músicas mais conhecidas da banda de rock Toto, “Africa” também ultrapassou a marca de 1 bilhão de reproduções no streaming, de acordo com o levantamento atual. Lançada em 1982, ela ganhou regravações de diferentes artistas e deu origem a um meme famoso após ser tocada em um episódio de South Park.
Reproduções: 1.056.934.875
6. Clássico dos anos 1990, “Smells” alcançou o topo da parada em vários países, entre 1991 e 1992, ajudando a impulsionar a carreira do Nirvana. Vale destacar, também, o videoclipe da canção, um dos mais populares na programação da MTV.
Reproduções: 1.060.541.401
5. Single que acumulou mais de 7 milhões de cópias vendidas, “Another One Bites The Dust” é outra música antiga que continua a fazer sucesso no streaming. Ela faz parte do álbum The Game, de 1980.
Reproduções: 1.093.847.818
4. A famosa música do Journey foi lançada em 1981 e foi considerada “a maior canção de todos os tempos” pela Forbes, além de ter sido utilizada para encorajar pacientes que se recuperavam da Covid-19 no início da pandemia.
Reproduções: 1.124.255.045
3. Apontada por pesquisadores britânicos como a “música mais feliz da história”, ela estreou em 1979 e desde então vem trazendo felicidade para milhões de pessoas em todo o mundo.
Reproduções: 1.135.371.550
2. Maior sucesso do Oasis, “Wonderwall” estreou em 1995 chegando aos primeiros lugares das paradas da Inglaterra e dos EUA, além de tornar o Oasis famoso em todo o mundo. Mesmo assim, o guitarrista e vocalista Noel Gallagher, responsável pela composição, não a coloca entre as suas favoritas do grupo.
Reproduções: 1.219.309.375
1. Chegamos ao topo do ranking das músicas do século XX mais reproduzidas no streaming com outra canção na voz de Freddie Mercury. “Bohemian Rhapsody” foi lançada em 1975 e não era apreciada pelos executivos da indústria musical, que acabaram errando feio em suas apostas.
Reproduções: 1.587.856.824

Copiado do site Mega Curioso

Papo de índio

VELHO INDIO

Num caminhar despreocupado nos aceiros sombreados da tribo dos Pajeús, avistei o velho índio de voz mansa, olhar cansado e, na boca, um cachimbinho da paz carcomido pelo tempo soltando fumaça em formas de mensagens.

De lá de onde estava, acocorado ao pé de uma frondosa figueira, acenou e falou: “- Se achegue, homem do mar, pois faz tempo que não levamos uma prosa.” Sem me deixar tomar fôlego, foi logo dizendo: “ – Tá feia a coisa pros lados dos caras-pálidas, num é, homem do mar?” Sem saber o que responder, até porque não tinha certeza se alguém bisbilhotava nossa conversa, e para não ser pego nos tratos de um distrato do fim do mundo, apenas balancei a cabeça sem dar intenção que seria sim nem não. O velho índio apenas sorriu pelo canto da boca.

Ele deu longa baforada no cachimbinho da paz e após contemplativos minutos de silêncio entremeados de tosses, falou: “ – Semana passada, ao abrir o pano da oca, com o sol nascendo no horizonte, resolvi dar uma caminhada até as redondezas da tribo do cacique “comedor de camarão”, para rever a belezura do encontro do rio com o mar e me inteirar das novidades da província. Após desjejuar com uma cuia de cuscuz e uma caneca de chá de erva seca, que colhi na horta do pajé, Olho de Brasa, vesti os panos de bunda, amarrei uma tira de embira na cabeça, prendi nela uma pena de urubu, calcei as alpercatas de couro e parti no rumo da venta. Homem do mar, juro por Tupã que quase me perdi quando subi a ladeira do Baldo e me deparei como um esquisito de dar arrepio na testa. Num tinha um pé de alva viva na rua da Frente. Olhei de uma banda a outra, olhei pra riba, mirei a frente, a ré e nada de ver um trisco de gente. Me perguntei se era feriado dos mortos, pois as portas das biroscas estavam todas cerradas, mas ao olhar para sol e sentir o cheiro do vento e da terra molhada, vi que era não, pois era Outono brabo e chuvoroso. Mais uns passos, com o pé atrás e olhos aboticados, prestei atenção que tinha num cara pálida sentado sozinho numa cadeira vermelha, entretido nuns inscritos e lambendo os beiços quando goleava um copo de cerveja espumosa. Passei de fininho e nem dei tempo para o caboco me notar e se ele me viu fez que num viu. Virei as esquerdas numa rua deserta que nem repartição em véspera de feriado e dei de cara com o velho galo no alto da torre dos capuchinhos. Pense num galo durador! O penoso deu boas vindas e perguntou o que eu fazia perdido naquele breu de nada. Respondi que nada não, pois estava indo pros lado do mar e dei um até mais ver. Me animei quando vi a torre da Matriz, e pensei: O povo deve de tá tudinho ali, envolvido em rezas e folguedos como nos tempos de outrora. Mas que nada, nem folguedo, nem reza e nem padre confessor. Dei conta de um mói de menino, no largo de Seu André, catando umas pedrinhas que nem sei se era coisa de valor, só sei que tinha deles de olhos vidrados na contagem. Desci ladeira abaixo, passei em frente à casa de Mestre Luís, sem ver ninguém para acenar, cruzei o largo destruído onde antes existiu praça bonita e avistei a casa de espetáculos de Seu Alberto, que até parece que deram uma caiada, mas achei meio desfalecida. Apertei o passo na alpercata para chegar no portinho de Seu Tavares e tentar pegar a próxima lancha para a praia da igrejinha de pedra, mas uns curumins que pescavam tainha por ali disseram que tinha lancha mais não. Avistei uma canoa abandonada com um remo, embarquei, atravessei o rio na força da vazante e encalhei no cemitério dos gringos, que nem tinha mais catacumba e nem alma penada. Sentei no sombreado de um cajueiro pra refrescar o couro, comi uns cajus doces que nem mel, botei um fuminho no cachimbo e fiquei ali matutando naquela viagem estranha e acho até que pesquei um sono. Levantei de um pulo, botei os pés na trilha e subi o morro da tribo do comedor de camarão. Por entre as moitas do manguezal mais ralo do que caldo de batata, dei por fé que alguns guerreiros me observavam, camuflados pela lama do rio como se fossem uns cão. Como estava sem meu arco e minha flecha certeira, porém, munido com uma machadinha que comprei no Mercado da Seis, lugar que vez por vez passo para comer picado de porco, galinha torrada, acompanhado de umas doses de “cauim”, preparado pelo cacique Bum-Bum e dar umas pernadas no batuque do bambelô de mestre Guedes, num deixei o medo me pegar, pois quem toma “cauim” fica afoito e sem medo de cara feia. Continuei subindo o morro, cercado pela tribo dos cão e numa parada de resfôlego, mirei o céu e avistei o risco de um foguetão de Caramuru vindo dos lados das barreiras vermelhas, por trás do careca, seguido de perto, num pega, num pega, por uma vassoura montada por um bruxo de capa preta, com cara de pouco amigos, carregando a tiracolo um porco pai de chiqueiro, e gritando aos quatro ventos: Fuxiqueiro da mulesta, vou botar tu no xilindró, seu fela de uma xexéu! De longe vi que era peleja endiabrada, pois o bruxo soltava fogo pela venta. Achei que tinha ouvido o eco de uma risada vindo do foguetão de Caramuru, que subia disparado no rumo do infinito das estrelas, mas quando olhei para trás vi o cacique comedor de camarão, rindo alto, com uma caneca de cauim em cada mão: Tá vendo malassombro, guerreiro dos Pajéus? Que o traz para essas paragens? Tome aqui um trago que essa é da reserva de Bum-Bum e certificado por Seu Severino da avenida dez! Ficamos por ali num parlamentário de lero, cauim e cachimbada por mais de tempo. Foi uma viagem estranha, homem do mar, foi uma viagem estranha!

Num sei se pelo cansaço da lida ou se pela sombra refestelante, só sei que quando abri os olhos estava escorado no tronco da figueira vindo de sono pesado. Olhei de lado e nem sinal do velho índio. Avistei uma senhora sentada numa cadeira de balanço sobre a calçada, me aproximei e perguntei: A senhora viu para que lado foi o índio que estava ali comigo? Ela deu uma gargalhada é falou: O senhor dormiu que roncou!

Nelson Mattos Filho

Eu vi o mar sangrar

GARGALHEIRAS 2024

Num passado distante andei bastante pelas estradas e veredas do Seridó potiguar, região linda de encantos mil, a começar pela magnânima e enigmática paisagem da Serra de Santana, mas nessas andanças nunca tive o prazer de conhecer o açude Marechal Dutra, o famoso Gargalheiras, no município de Acari/RN, suas sangrias, cantadas em verso, prosa e poesia, e me encantar com a magia do véu de noiva escorrendo pela monumental parede de 26 metros de altura, com um ronco mitológico de Titã.

A visita sempre ficava para a próxima, a próxima foi passando, os tempos mudaram e fui levado para longe daquelas paragens que sempre me encantaram, mas a “promessa da próxima” nunca foi esquecida.

Neste 2024, regido pela luta birrenta e abençoada de duas crianças andinas, El Niño e La Niña, a segunda maravilha de Acari, porque a primeira é a Basílica Menor de Nossa Senhora da Guia, revive seus momentos de glória e reassume o lugar, que lhe é de direito, no rol da fama.

Com capacidade de armazenar 44.000.000 metros cúbicos de água, o mais belo açude do Rio Grande do Norte, em menos de uma semana saiu do ostracismo em que se encontrava, com pouco mais de 10% da sua capacidade, para as manchetes dos jornais do Brasil e do mundo, que a cada dia contavam e festejavam centímetro a centímetro sua evolução, criando uma expectativa jamais vista. Como bem disse uma moradora de Acari, ao meu lado, enquanto observava com lágrimas nos olhos o sangrador com lâmina d’água de 32 centímetros: “ – Isso sim é benção, em seis dias saímos da tristeza de um chão queimado, para a alegria da fartura!”

Sexta-Feira Santa, 29/03, uma semana antes, diante das notícias que davam conta que Rio Acauã, que abastece o Gargalheiras, estava descendo com uma cheia histórica, um amigo comentou que era esperança infundada, porque diante das grandes barragens e novos reservatórios construídos ao longo do caminho das águas, não tinha como o açude chegar nem a metade de sua capacidade. Quis questionar sua desesperança, mas ao mirar as nuvens que caminhavam pesadamente no céu do Alecrim, no rumo das terras do interior, me calei, tomei mais uma dose de cachaça e pensei: “Eis um homem de pouca fé!”

Na noite da quarta-feira, 03/04, diante da vigília e das preces dos acarienses, os primeiros filetes de águas, após 13 anos, “choraram” sobre o paredão e começaram a pipocar os primeiros fogos em comemoração e na tarde da quinta-feira, 04/04, o Gargalheiras já vasava com lâmina d’água de 11 centímetros, amanhecendo a sexta-feira, 05/04, com 20 centímetros, findado a tarde com mais 31 centímetros.

E estávamos lá, eu e Lucia, a convite do casal amigo/irmão Beto Medeiros, ou Beto de Bianor, e Gringa, que nos acolheu com muito carinho, derramando sobre nós a maior das atenções. Para falar um pouco sobre Beto, basta dizer que o considero meu primeiro amigo, amizade que perdura pelos 62 anos de nossas vidas, sem nenhum ranço e nenhuma nódoa.

Abobalhado diante de tanta beleza, assistindo todo o esplendor e poderio que a mãe Natureza pode proporcionar, não pude impedir que algumas lágrimas rolassem pelas encostas do meu rosto. O ronco surdo e ensurdecedor que aquele mundão d’água fazia ecoar pela cordilheira deixava todos ali extasiados. Era o urro de uma fera que se via livre das amarras de correntes e agora corria solta e feliz pelos campos do Senhor.

A “promessa da próxima” está paga e posso até acreditar que os deuses da natureza, mexendo os pauzinhos, sempre trabalharam para que fosse nesses tempos de agora. Do qual aprendi a ler a Natureza com os ensinamentos que me foram repassados pelo grande Senhor dos Mares e seu maravilhoso séquito de encantados. – E o Gargalheiras é um mar? – É, e dos mais lindos!

Lá na frente, posso olhar para trás e dizer a meus netos que vi o açude Gargalheiras, o mais belo dos belos, localizado em Acari, a cidade mais limpa do Brasil, abençoada por Nossa Senhora da Guia, sangrar em sua força máxima, vestindo um véu, que se esparramava pelo costado da sua imensa parede, enfeitado com os mais raros e caros brilhantes do mundo.

VIVA Gargalheiras! VIVA Nossa Senhora da Guia! VIVA Nosso Senhor Jesus Cristo!

Nelson Mattos Filho

Histórias que se repetem

SANTA CRUZ 1981

SANTA CRUZ 1981

LAJES


“Quase todos os 150 municípios do Rio Grande do Norte ficaram sem luz por causa das chuvas que caem há 22 dias e provocaram enchentes que arrobaram 104 barragens e açudes. Quatro pessoas morreram e 3 mil ficaram desabrigadas. O Governador Lavoisier Maia decretou emergência em todo o Estado, que ficou ilhado com a queda de barreiras nas rodovias BR 101, BR 304 e BR 226”

O escrito que abre esse texto não é mentira de 1º de Abril, é o retrato fiel de um recorte de página de jornal, de 1981, copiado do site Tok de História, que escarafunchei na noite de ontem, 31/03, ao ver as traumáticas cenas da enchente que castigaram a cidade de Lajes/RN, na tarde do Domingo de Páscoa, causando a interdição total da BR 304, que liga Natal a Fortaleza, devido a derrubada de uma ponte pela força das águas de um açude estourado.

Há exatamente 43 anos o Rio Grande do Norte praticamente parou e a cidade de Santa Cruz/RN, castigada pelas chuvas e pelo rompimento da barragem do município de Campo Redondo, registrou uma das mais tristes páginas da sua história. Naquela época a cidade contabilizou seis mortos, 1.044 casas destruídas e a derrubada da ponte da BR 226, que faz a ligação da região do Seridó com a capital.

A tragédia de Santa Cruz, como ficou conhecida, só não foi maior porque teve a mão abençoada de uma heroína, a telefonista do município de Campo Redondo, Maria de Fátima da Silva, que ao saber que a barragem que abastecia a cidade estava para romper, se apressou em fazer contato com o prefeito de Santa Cruz para que este mandasse esvaziar a cidade que estaria no caminho da enxurrada. Foram momentos de agonia e até de descrença de alguns que achavam que a notícia era mais uma brincadeira do Dia da Mentira, mas a atitude e agilidade da telefonista salvou milhares de vidas.

Estive em Santa Cruz, a caminho de Caicó, dois dias após a tragédia e o que vi foram cenas de devastação, de guerra, como se a cidade tivesse sido bombardeada. Como não havia desvio possível a ser feito, o ônibus parou dois quilômetros antes da ponte destruída, atravessamos o rio Trairi numa balsa do Exército, embarcamos em outro ônibus, entupido de passageiros, e seguimos viagem. Tive que ir em pé até Currais Novos e achando bom, pois se não fosse assim, teria que esperar o próximo ônibus quem ninguém sabia se teria, e não teve.

O que vejo hoje nas imagens que chegam pelos noticiários e mídias sociais me entristecem, não pela fúria da natureza, mas pela desfaçatez das autoridades em querer justificar o injustificável. Diante das recentes chuvas estamos revivendo o passado, porque nunca nos preparamos para o futuro e jamais aprenderemos com as lições. Basta pouco menos de 100mm de chuva para estarmos diante do caos, da tragédia, sofrendo com inundações de vias públicas, açudes e barragens estourados, estradas e pontes destruídas, deslizamento de morros, comunidades ilhadas, mortes e traumas.

Não existe planejamento, não existe prevenção, não existe serviço de manutenção, não existe ordem e muito menos progresso. Só existe a desordem, falas com vozes empostadas e demagogia barata ao anunciar determinações e cifras de milhões. Palavras que se esvaem ao vento quando se desligam os microfones.

Com as chuvas que este ano castigam o Rio Grande do Norte, o Governo do Estado foi pego sem capa, sem guarda-chuva, sem galocha, sem helicóptero, sem saber as condições de segurança dos açudes e barragens e com estradas que cortam o Estado praticamente destruídas. O ministro dos transportes já anunciou que a ponte na BR 304, na altura de Lajes, será reconstruída em tempo recorde. Se for o mesmo tempo recorde da reconstrução de um trecho da BR 101 que corta Alagoas, terra do ministro e do qual foi governador, que foi destruída há mais de dois anos e até hoje não foi concluída, e o tempo recorde da manutenção, que se arrasta, da Ponte de Igapó, em Natal, está tudo lascado.

Passaram-se 43 anos e infelizmente fica a sensação que paramos no tempo.

Nelson Mattos Filho

Porto solidão

procissão nossa senhora da apresentação (5)

A FIERN (Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte) apresentará os potenciais de carga do Estado na Intermodal South América – maior feira de logística, tecnologia, transporte de carga e comércio exterior do continente,  que acontece de 05 a 07 de março, em São Paulo, com o objetivo de atrair empresas para operação de cabotagem no Porto de Natal. Torço para que o esforço da FIERN seja recompensado, porque há muito o velho porto do Potengi, outrora considerado estratégico, vive sob as sombras de um lusco-fusco lúgubre. Sempre falei que o Brasil é administrado de costas para o mar e tudo indica que a raiz desse mal foi fincada nas areias alvas das dunas potiguares.

“As cidades precisam de mares.
Todas, garantem os mais antigos. Todas precisam de seus mares.
Profundos mares.
Polos, poros, pelos.
Infinitos pulmões sugando ventanias e aragens.
Tempestades cálidas e caóticas. Ábregos e calmarias.
As cidades transpiram por seus mares.
Suor grosso. Salgado. Úmido.
Imensa lágrima despencando do olho do mundo.”

Trecho do poema,  Há mares, do poeta alagoano Fernando Alexandre Guimarães Silva