Arquivo do mês: junho 2013

Os Carpinteiros

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Os Carpinteiros é mais um daqueles texto carregados de poesia do velejador, poeta e escritor Érico Amorim das Virgens, ex-Comodoro do Iate Clube do Natal, que tem o mar correndo nas veias. Sentar ao redor de uma mesa para um bom bate papo com Érico é uma grande felicidade para qualquer interlocutor e eu sou um desses felizardos. Érico, mais uma vez muito obrigado pela beleza do texto e também por presentear os leitores do Diário do Avoante.

OS CARPINTEIROS

Érico Amorim

Em tudo que é praia encontramos ele, o carpinteiro naval, o autor daquelas obras primas de curvas que flutuam. Ele está para a comunidade pesqueira assim como o médico está para a população de pequenas comunidades.

Isso em todo canto deste litoral brasileiro, principalmente aqui no nordeste onde a pesca artesanal ainda é a realidade de muitos. Quem no mundo já ouviu falar em Cururupu, lá ano fim do mundo, isto é, no fim do Maranhão, já na fronteira com o Pará? Pois bem, lá foi construída uma escuna enorme, de tamanho descomunal, talvez a maior já feita em todo Brasil. São os pastos de mestre Belo. E do rio Una, lá pelas fronteiras entre Pernambuco e Alagoas? É a terrinha de mestre Zuza. Seus barcos são de uma beleza que a gente não cansa de admirar. E assim a gente vai enumerando cada praia ou braço de rio com seu mestre carpinteiro naval.

Lá pelos idos de 1960 já ouvia falar nos carpinteiros de Barra do Cunhaú: mestre Júlio, seu filho Abel Soares e Capucho. Só muito tempo depois, pelos idos de 1984, conheci mestre Júlio, já com muitos janeiros a lhe pesar nos ombros, mas ainda com uma disposição e uma paciência invejáveis. Na ocasião, morando em Canguaretama, fazia lá em Barra do Cunhaú uma pequena embarcação para o Sr. Geraldo Calafange, ex-piloto particular do presidente Getúlio Vargas, e que veio gozar sua merecida aposentadoria naquele pacato recanto de nosso litoral. Continuar lendo

Esse também é de boa!

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Desde que começamos a navegar na Bahia, atracando o Avoante no antigo Centro Náutico da Bahia, escuto falar do Restaurante do Juarez, mas precisamente de um delicioso filé que é tradição da casa. Os comentários dos amigos era de que não existia nada igual e que era o melhor filé de Salvador. Me dava água na boca a descrição apetitosa daquele pedaço de carne crocante por fora e extremamente mal passado por dentro. Várias vezes passamos em frente, mas nossos horários nunca combinavam, e assim, o filé ia ficando para depois. Somos afeitos a conhecer tudo sobre a gastronomia dos lugares visitados e acho até que conhecemos quase tudo que faz fama na cozinha da capital baiana, mas o Filé do Juarez era uma tentação. Gostamos de repassar os nossos conhecimentos e por isso não achem que esse post é um daqueles famosos jabás, pois estamos falando aqui de filé. Pois bem, dia desses estávamos passando pela região do comércio, Cidade Baixa, por volta de 13 horas e lá estava o Juarez. Olhei para Lucia e perguntei: Vamos comer esse filé? Ela nem titubeou na resposta: Vamos! O restaurante está localizado no antigo Mercado do Ouro, e o nome é uma homenagem a um ex-garçom. A Casa é modesta e parece ter a mesma decoração desde de sua inauguração em 1955, tudo em um ambiente gostoso, limpo e original. o Filé do Juarez é o carro chefe do cardápio, que tem também outras deliciosas opções.

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O prato é realmente uma delicia em sua forma tradicional, alto e ao ponto, mas é servido também aberto e bem passado, ou mesmo meio a meio, que foi o que pedimos. Mas sinceramente, não tenho dúvida alguma em indicar o tradicional, alto e ao ponto, pois o sabor, no meu paladar, muda consideravelmente.

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Bem, essa é a nossa sugestão para quem é apreciador de uma boa mesa. A cozinha baiana não é feita apenas de moquecas, acarajé, caruru e outras delicias. 

A Super Lua

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Passei o dia de ontem, 22/06, praticamente sem pisar os pés em terra, a não ser por uma ida até a Coroa do Limo, em Itaparica, para catar chumbinhos, uns mariscos deliciosos. Não me embrenhei ontem pelas ruas da bela Ilha por dois motivos: Primeiro queria me desintoxicar dos meandros da cidade, já que passamos um bom tempo perambulando por Salvador, sofrendo horrores em engarrafamentos monstruosos e sem controle. Segundo, para matar a saudade dessa vidinha mais ou menos que é estar desamarrado de terra. Como não desci, também me abstive de ligar o computador para saber das coisas do mundo, se bem que a bordo do Avoante tenho internet. Mas ai é outra história. Soube hoje que a Lua maravilhosa que admirei e fotografei ontem era uma superlua, um fenômeno que deixa a Lua cheia maior e mais brilhante. E foi também o dia em que a Lua e a Terra estiveram mais próximos nesse ano de 2013. Para quem não viu e queria ter visto, acho bom anotar a próxima data que será em 10 de Agosto de 2014. 

E viva São João!

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São João Batista para o cristianismo foi quem anunciou a chegada de Jesus. Foi ele também que batizou muitos judeus, incluindo Jesus, as margens do Rio Jordão. João Batista era um profeta e pregador admirado pelos cristãos ortodoxos e era considerado um homem consagrado. Teve uma educação nazarita, que incluía em seus dogmas abster-se de bebidas alcoólicas, deixar o cabelo crescer e não tocar nos mortos. João Batista, ou São João, ao lado de São Pedro, São Paulo e Santo Antônio, faz a corrente dos Santos mais populares e por eles criou-se o termo festas juninas. As festas juninas são celebrações católicas que acontecem em várias partes do mundo e o Brasil tem no nordeste sua maior força de expressão e festejos. Elas são historicamente festas pagãs que celebram o solstício de verão, o menor dia do ano, mas que nas referências religiosas é a vitória da luz sobre a escuridão e por isso as fogueiras. E elas são acesas só por isso? Bem, diz a lenda que elas surgiram seguindo uma promessa de Izabel, Mãe de São João Batista, que acenderia uma fogueira sobre um monte para avisar a Maria, Mãe de Jesus, sobre o nascimento do menino João. E os balões e os fogos? Bem, isso são invenções dos portugueses e que por aqui ficaram até os dias de hoje. E a quadrilha? Acho melhor a gente parar por aqui para não começar a falar besteira. Mas não achem vocês que sou daqueles aprofundados nas coisas das religiões, apenas procuro saber o que me basta e para isso, muitas vezes recorro as ferramentas de pesquisas, hoje tão populares e fáceis, nessa grande rede mundial de comunicação, como foi o caso do Wikipédia nessa minha simplória pesquisa sobre São João.

Porém, toda essa iniciação na história do santo forrozeiro e justamente para falar da alegria que sempre tive com as festas juninas e em especial com o glorioso São João. É nesses tempos de fogueiras, fogos e balões no ar, que o brasileiro vive seus dias de maiores animações, para mim,  mais animação do que o Carnaval. É forró pra todo lado, muito milho, muita canjica, pamonha e bolos até da uma dor no pé bucho. Mas, lendo a história de vida de São João, com todos aqueles severos dogmas de fé, fico a me perguntar: O que será que ele deve estar pensando de toda essa forrozada e muito quentão espalhados por mei mundo de “arraiá”?. É viva São João!

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Nesse nosso mais um São João a bordo do Avoante, que ancoramos em frente a tranquilidade da Ilha de Itaparica, me vi envolvido por esse clima gostoso, com o cheiro de fogueira queimada, com o pipocar dos fogos e com algumas letras desse arremedo de forró que se escuta nas rádios hoje em dia. Mas tudo no mundo tem o novo e a gente tem que seguir com a maré e nunca contra ela. Porém, vou até o toca CD e ponho para tocar um “disco” cheinho de poesia em rítmo de forró, do mestre, poeta e cantador potiguares, Galvão Filho. E lá está dizendo: “…Se tu quiser eu invento um vento pra ventar o amor/Uma chuva bem chuvida pra chover pé de fulô, pra tu ficar cheirosa e vir dançar mais eu/Se tu quiser puemo um poema bem cheio de rima/Acendo a estrela mais bonita lá de cima e faço tudo que puder pra tu ficar mais eu…” Eita São João Menino!!!!

A Tempestade – Parte 1

Michael Gruchalski (1)A Tempestade, relato de uma velejada escrito pelo velejador Michael Gruchalski, dá continuidade a serie Conte sua história. É mais um daqueles relatos emocionantes, que nos transporta para dentro de um veleiro. Desde já agradeço ao Michael por presentear os leitores do Diário do Avoante com os textos.   

A TEMPESTADE

A PERDA DO LEME – Parte 1

O vento voltou em forma de brisa, soprando leve. Refrescante. De seis a oito nós, força três, vindo do azul do oceano, do nordeste e entrando no cockpit pela alheta de popa. Pontual, como seria de esperar naquele inicio de tarde de primavera. O barco navegava comportado, rumo sul/sudoeste subindo e descendo docemente as ondas longas e calmas. Nosso motor zurrava a meia força, pouco acima da marcha lenta para o hélice não exceder o fluxo da pressão desejado sobre a lâmina do leme de fortuna submerso a meia água. O timoneiro sentia sua vibração debaixo do tênis molhado enquanto cumpria o seu turno.

Um artista do trapézio, esse nosso timoneiro. Os braços abertos, de pé, curvo e procurando equilíbrio, pendurado no ar. Literalmente pendurado. Preso pelo mosquetão do cinto de segurança peitoral e o engate rápido da adriça da mestra que levava ao topo do mastro. Bastante inclinado para frente, usando todo o seu peso para adicionar o máximo de pressão, com a perna esquerda, sobre os dois tubos e as duas tábuas amarrados entre si com cabinhos. O pé direito cambaleante solto no ar fornecia o equilíbrio necessário. A água azul profundo, passado debaixo. Aquele era o nosso homem. Homem-cana de leme. Leme de fortuna. Meio engenhoca, meio humano.

Tínhamos perdido o leme do barco na madrugada daquele dia. Por volta das duas e meia da manhã. Inexplicavelmente. Ele se desfez sem aviso e sem ruído. Desintegrou-se como magia. Sumiu nas profundezas do oceano deixando à mostra somente a espinha e as três costelas de inox, agora nuas, impossibilitadas da função de prender as duas abas de fibra ao eixo maciço. Horas de aflição. Dúvidas. E, só no fim da manhã, a solução. Suada, pensada. Entre goles de coca-cola e fatias de abacaxi, bem ácidas, para espantar o enjoo que teimava em voltar de hora em hora, a falta de vento e o calor infernal daquela manhã.

A solução, meia solução, única, veio com o passar das horas, devagarinho. Dois tubos de alumínio dos remos do bote auxiliar, sem as pás de plástico, amarrados um ao outro por alguns metros de cabinho seis milímetros. Conjunto robusto o bastante para não ceder com o peso de uma pessoa. Forte o suficiente para não folgar os cabinhos com a vibração das tábuas que compunham o leme deitado pela parte externa do espelho de popa. No cockpit, pela parte interna, preso aos remos unidos, para dar mais estabilidade, um prolongador. Um pedaço com um metro e meio do tubo oco do pau de spinnaker , de alumínio, serrado a sangue, suor e lágrimas. Tínhamos um arco de serra sim: sem serras. Portanto, serrado com uma lima grotesca, milímetro a milímetro. O arranjo terminava com pontas dos dois remos enfiados nele para dar prolongamento suficiente e suportar o manejo.

Lá fora, mais abaixo, dois pranchões de madeira de dez milímetros de espessura por

dois metros de dez de comprimento, retirados dos beliches laterais do paineiro do salão central. Amarrados entre si com muitos e muitos metros de cabo. Furados na base da chave de fenda, alavanca e marreta e, no inicio com, uma pua manual enferrujada e duas brocas finas que não suportaram o esforço. Felizmente, ou infelizmente, eram tábuas de cedro naval, duras de furar, porém confiáveis. Ao final da tarefa tínhamos semi- destruído o nosso veleiro. Seu interior era a visão do inferno. Com o ventre à mostra. Seu exterior, a visão do caos.

O relato emocionante de uma travessia

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“Era para ser uma viagem sem muitas novidades, a não ser, o fato de que a faríamos no sentido contrário ao da quase totalidade dos velejadores. Pois não estaríamos vindo de Cabo Verde para Natal/RN, a favor das correntes e dos ventos, mas indo de Natal para Cabo Verde (CV), com esses elementos todos na cara.
A tripulação era o Jorge, um português dono do barco, e eu. Ele com mais de 40 anos de experiência em delivery e eu com muita vontade de aprender. O barco, um veleiro modelo clássico de 28 pés, construído na Inglaterra, chamado Oliver.”

Assim começa o relato da travessia Natal/Cabo Verde, feito pelo velejador Antônio Carpes, o gaúcho mais potiguar do Brasil. O que era para ser uma tranquila navegada pelo Oceano Atlântico acabou sendo uma lição de vida que deve marcar para sempre a vida do Antônio, inclusive com uma demonstração sem sentido de abuso de autoridade por parte de alguns oficiais da imigração de Cabo Verde, fato noticiado aqui no Diário do Avoante em dois posts, Notícia preocupante e O Sol voltou a brilhar para Antônio. Viva!, e que gerou uma enorme onda de solidariedade e apoio. Agora saiba como tudo aconteceu acessando o blog Papo de Velejador, editado pelo gaúcho de alma boa e muito bom de papo.

Foi assim o fim de semana

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Nem tanto o Céu, nem tanto a Terra, mas foi olhando cenas e paisagens como essa que passamos o final de semana, em que o País nem esperava que tivesse um amargo, mas extremamente esperançoso, início de semana.   

São Felix, a Ponte e o charuto

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Em nossa excursão rodoviária pelas cidades do Recôncavo Baiano, assim como aconteceu com Cachoeira, passamos na maior pressa do mundo também por São Felix, que dividem meio a meio um pedacinho do Rio Paraguaçu. Alias, um belo pedaço. Mas não tínhamos como deixar de ir até São Felix, pois atravessar a ponte que liga as duas cidades é a tentação de qualquer turista.

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Batizada de Ponte Imperial Dom Pedro II, ela e de uma beleza e conservação ímpar, nesse nosso Brasil tão escandalosamente propenso ao abandono das coisas públicas. Atravessar seus 365 metros de extensão e escutar o barulho do piso metálico é uma emoção, ainda mais sabendo que aquele amontoado de ferro inglês resiste ao tempo desde 1885.

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Sobre a sua história existem várias versões e acho que acredito em todas. Porém, uma que me chegou aos ouvidos dias depois de ter ido até lá e ter cruzado a ponte nos dois sentidos, já que tinha mesmo que voltar, me intrigou e fiquei simpático a ela. Se é verdade eu não sei, mas se for boato eu também vou colaborar dando andamento a ele. Dizem que a Ponte foi um presente de Dom Pedro II ao povo de Cachoeira e São Felix, por essas duas cidades terem enviado o maior número de combatentes a Guerra do Paraguai, o maior conflito armado internacional da América do Sul. O Rei para agradecer a bravura dos valentes baianos não mediu esforços em ligar as duas cidades definitivamente.

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Mas São Felix é linda que só vendo e nós passamos batido nessa primeira visita. Não conhecemos quase nadica de nada, mas saímos de lá super satisfeitos e pronto para discutir quase tudo sobre charutos. Quase tudo!

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Charutos? Pois é, botamos o olho em cima dessa fachada belíssima, vimos que estava aberta e fomos entrando como quem não quer nada, pensando que lá dentro funcionasse apenas um museu.

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Logo na entrada deparamos com essa cena, que tomamos até um susto, porém, numa segunda olhada vimos que se tratava de uma obra de arte premiada. Passa cada coisa na cabeça de um artista que nem Deus dúvida! Uns passos mais adiante, ainda abestalhados com a grandeza do espaço, vimos uma escada e subimos. Pronto, lá estava o coração daquele belo prédio.

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Estávamos caminhando entre baianas e mesas de produção da fabrica de charutos Dannemann, uma das melhores do mundo, conhecendo seus segredos, curiosidades, números e apreciando seus aromas. “Fumar charuto é para quem tem tempo”. O nosso tempo já estava esgotado, pois pretendíamos pegar a estrada de volta ainda com o Sol iluminando o mundo. Mas curiosidade é um bichinho danado de bom, e quando Fabiola, nossa cicerone por naquele mundinho de folhas de tabaco, disse que podíamos experimentar os charutos e até fazer uso dos conhecimentos de um sommelier para tal, os olhos de Lucia brilharam de alegria e ela nem pestanejou para exclamar: Eu quero!

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A partir daí esquecemos a promessa de voltar ainda com o Sol caminhando no Céu e fomos escutar e seguir os excelentes ensinamentos de Luiz Cezar Araújo, sommelier de charutos da Dannemann, degustando um delicioso Panatela, charuto leve, que se fuma rápido e que cai muito bem para dois pretensos iniciantes na arte. “Charuto não se fuma, se degusta”. Aprendemos como acender, a não tragar, a distinguir as várias fases do charuto, o  porque de se manter a cinza longa, porque ele apaga insistentemente e até a não levantar e sair rápido. Aprendemos também que charuto não combina com toda bebida. Com vinho nem pensar! Passamos quase duas horas nesse aprendizado gostoso, aromático e muito interessante.

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Mas antes de ir embora, ainda participamos do projeto Adote uma Árvore, uma iniciativa para reflorestar a região da Mata Fina, uma das áreas mais ameaçadas de extinção em todo Brasil. Para participar do projeto, apresentado por Daiane e Fabiola, bastou apenas preenchermos um cupom com nossos dados e depositar em uma urna. A Dannemann se compromete a plantar uma arvore e enviar ao nosso endereço um certificado informando a espécie plantada, em nosso nome, e informações do desenvolvimento da mesma.

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Como vocês viram, de São Felix não conhecemos nada, mas em compensação saímos quase mestres no produto final da folha do tabaco. E sabe de uma coisa: Estou quase achando que charuto cubano só tem fama.  

   

A Baía de Camamu agora tem um anjo da guarda

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Essa jóia rara, de especial lapidação, que faz pose ao lado de Lucia, foi uma das nossas primeiras paixões na Baía de Camamu. Com ela aprendemos o sentido de caminhar pela vida a passos lentos e não apenas deixar a vida passar. Onília Ventura, a primeira dama da Ilha de Campinho, uma alma da mais valiosa estirpe e que para nós foi um dos Marcos daquelas pedaço incrivelmente belo de natureza, ao lado de sua irmã Aurora, agora vai nos guiar lá do alto. Onília de idade indefinida, mas que os familiares e amigos acreditam que tinha mais de 100 anos, deu um sorriso para vida e partiu dia 02 de Junho de 2013, nos deixando apenas com a saudade invadindo o coração. Eu sempre perguntei aos amigos que iam a Camamu se haviam conhecido Onília e Aurora. Quando a resposta era negativa eu dizia: Então você não foi a Camamu! Vou continuar perguntando, mas agora somente se conheceram Aurora, o outro Marco. Vá em paz amiga e saiba que nunca esqueceremos o seu sorriso, sua alegria e seu jeito manso de viver e falar.

Em nosso giro pelo Recôncavo Baiano chegamos em Cachoeira

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O nosso giro pelos caminhos do Recôncavo Baiano era para ser em várias partes e aproveitando tudo o que as cidades tivessem para mostrar. Mas, como em tudo na vida, fomos tentados a absorver a síndrome do jaquísmo e seguimos em frente nos iludindo e tentando economizar tempo, porém, ficando em dívidas com nossos conhecimentos. Foi assim que depois de conhecer um pouco sobre a histórica Santo Amaro da Purificação, resolvemos seguir por mais 38 quilômetros e chegar até a heroica cidade de Cachoeira, que teve importante papel na história das lutas pela independência do Brasil.

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Na sede de atalhar passamos por cima da história de Cachoeira, mas sem antes fazer alguns registros fotográficos do lugar que, segundo os anúncios oficiais, é o município baiano que mais preserva o patrimônio histórico e cultural. E tudo indica ser uma verdade.

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Da velha Ponte de Ferro Dom Pedro II, inaugurada em 07 de Julho de 1865 e que até hoje está em uso, ligando Cachoeira a vizinha São Felix, passeado na história por belos e preservados casarões, e chegando diante da imponente Igreja de Nossa Senhora do Monte, nota-se claramente que Cachoeira tenta preservar sua identidade.

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Cachoeira, situada as margens do Rio Paraguaçu e com seu título nobre de Cidade Monumento Nacional, merece uma nova visita e sem a pressa que não precisávamos ter tido. Sua rica história que passeia serelepe entre todas as religiões, mas que tem nas religiões afro e no catolicismo sua maior força, eleva ainda mais sua importância. A história ainda conta que seu povoamento é atribuído ao português Diogo Alvares Correia, mais conhecido como Caramuru, mas os índios tapuios, os mesmos que habitavam Santo Amaro, marcaram presença nos idos anos 1000. Assim como em Santo Amaro, os tapuios foram expulsos pelos tupinambás, que parece ter sido os terrores da região. Cachoeira é isso: Cidade Heroica, Monumento Nacional e histórica. Caminhar em suas ruas é reviver um pouco do Brasil que já se foi.