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Cartas de Enxu 62

4 Abril (106)

Enxu Queimado/RN, 16 de abril de 2020

Eh, Doutor Cláudio, já vai longe aquele final de semana em que, em flotilha com o catamarã TikeTake, do casal Daniel (de saudosa memória) e Ângela Cheloni, adentramos o leito histórico do Rio Paraguaçu e ao avistarmos dois veleiros ancorados em um remanso do rio, Daniel apontou e disse: – Nelsão, vamos ancorar ali? Sem pestanejar, mudei o rumo e aproei a falésia que dava um chame acolhedor a pequena ancoragem. Passamos próximo a popa dos dois veleiros ancorados e jogamos ferro um pouco mais ao largo da margem. Pelo rádio, Daniel perguntou como era o nome do lugar e informei que o guia náutico, do Hélio Magalhães, indicava Enseada do Paraguaçu.

Nossos companheiros de flotilha desembarcaram e vieram até o Avoante saborear o almoço que Lucia acabava de preparar. Com a mesa posta no cockpit e bicando umas doses da mais pura cachaça mineira, avistamos mais um veleiro se aproximar da ancoragem, vindo do interior do rio, e jogar ferro ao lado dos outros dois veleiros e logo a comunidade cresceu com a chegada de mais dois veleiros. Comentamos que aquela ancoragem deveria ser boa, e era!

Após o almoço, desembarcamos e fomos explorar o pequeno povoado e cruzamos com um senhor que descia a trilha. Ele nos deu boas vindas, passou algumas informações sobre o lugar, falou de uma fonte onde poderíamos tomar banho e pegar água gratuitamente, apontou o veleiro em que estava, justamente o que avistamos chegar enquanto almoçávamos, e nos convidou para uma visita. Beleza, iremos mais tarde!

Pois e, Dr. Cláudio, enquanto assisto a chuva cair manhosa sobre as telhas dessa minha cabaninha de praia e avisto, sob a moldura do coqueiral, a velinha branca de um paquete que descansa sobre a duna, abri as frestas da janela da saudade e mergulhei nas águas abençoadas do Senhor do Bonfim, molhando os olhos, apressando o compasso do coração e avexando a alma com as boas lembranças da vida vivida.

Amigo, você que tantas dicas preciosas me deu sobre o mar da Bahia, que tanto carinho e atenção dispensou a mim e a Lucia, que nunca deixou de saber por onde navegávamos, corrigindo rotas, apontando desafios e sempre procurando saber se estávamos bem ou precisando de algo, que nos abriu as portas do Aratu Iate Clube, que nos apresentou a amigos especiais e que, assim como você e Anni, viraram irmãos de bem querer, que sempre abriu os braços e abrilhantou o rosto com o mais largo sorriso ao nos avistar. Agora lhe pergunto: – Quando você virá nos fazer uma visita, para pagar aquela que fizemos, em seu veleiro, na Enseada do Paraguaçu?

Venha, amigo, pois queremos rir com a alegria de Anni. Queremos saborear os bons papos sobre as coisas dos oceanos e lhe apresentar os segredos das águas e dunas dessa Enxu mais bela. Queremos lhe mostrar as cores dos alísios, que por aqui passam vexados, indicar o lugar para boas pescarias e quero ver você ensinar ao povo daqui a maestria do riscado de uma maravilhosa rota náutica, matéria que você é tampa de crush. Queremos que deguste uma panelada de escaldaréu na beira da praia, mas se preferir, Lucia prepara uma daquelas deliciosas moquecas, receita de Dona Aurora. Queremos festejar a amizade, a nossa amizade forjada com respingos de água salgada, sol e vento.

Cláudio Soares Dias, velejador arretado, só tomara que passe logo essa onda desavergonhada que nos pegou pelo través para que a vida e as boas amizades recomecem a circular livremente por aí. Sei que os tempos não estão fáceis e com a aproximação das chuvas invernosas dos juninos a vida não promete sossego, mas aprendemos no mar que os ventos mudam, e esse vai mudar. Apenas estamos navegando em orça apertada, com bordos sucessivos, mas o mar não está tão violento como se pinta. As ondas estão bem mais elevadas do que aquelas que estamos acostumados cruzar o oceano da Baía de Todos os Santos, porém, pelo caminhar das nuvens, estamos próximos da hora da viração e quando ela entrar, será só alegria e través folgado.

Caro amigo, o convite está feito e já, já vou ficar com o olho na estrada para ver se a poeira se alevanta com sua chegada. Vou pedir a Pedrinho para ir enamorando umas bicudas gordas e ficar pastorando as bichinhas para não irem para muito longe do pesqueiro, pois assim fica mais fácil dele colocar no anzol. Mas se preferir umas postas de Galo do Alto frito no dendê, vá falando que aqui tem só do bom. Lagosta não prometo não, pois o período é de defeso, mas quando entrar junho, eu boto fé.

Abraços, caro amigo, mas antes de colocar o ponto final, digo que o tempo hoje está bem chovido e a Lua minguante. Lucia manda um beijão para você e outro para Anni.

Nelson Mattos Filho

Votos renovados com o mar – IV

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Naveguei no mar da Bahia durante boa parte dos meus onze anos e cinco meses morando a bordo do Avoante e acho que tenho o direito de dizer que o mar do Senhor do Bonfim e seu séquito de Orixás é simplesmente fantástico, inebriante e que todos os elementos da natureza conspiram em favor do povo do mar, porém, existe sim um escabroso e indecifrável abandono das autoridades com aquele mundo tão fascinante. Não canso e jamais cansarei de afirmar que não existe no mundo um lugar melhor para navegar e curtir a vida de velejador cruzeirista, do que o mar cantado em verso e prosa por diversos compositores e escritores mundo afora, sem falar nos maiorais Amado e Caymmi. O mar azeitado de dendê, adocicado de cocadas, dourado com a crocância do acarajé e embebecido com o sabor inigualável do jenipapo, tem segredos e enredos infinitos, basta olhar para ele e ter a sensibilidade de pescar um pouco das essências que ali afloram. Escrevendo assim, muitos podem achar que sou mais um baiano bairrista, mas sou não, sou sim um apaixonado papa jerimum que tem o coração e duas belas joias, do melhor quilate, encravados no chão da filha de Oxum Mãe Menininha do Gantois.

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A noite corria alta e eu observava as sombras que dançavam sobre o manhoso Rio Paraguaçu. Das sombras ouvi ecos surdos de penosos lamentos do velho rio, denunciando a descortesia dos homens diante de sua grandeza e importância histórica. Dizem que os velhos reclamam de tudo e de todos, mas dizem também que a mocidade não gosta de ouvir verdades. Ouvindo aquele lamento surdo e quase inaudível, fechei os olhos e sonhei com as canoas de um tempo passado, carregadas de felizes e barulhentos Tupinambás. Como deve ter sido bom aqueles dias de índio de outrora, até o dia em que chegaram uns homens brancos, com vestimentas cravejadas de brilhantes e marcadas com o símbolo de uma cruz que a tudo proibia e condenava, e o que era bom se acabou.

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Dia claro, hora de levantar âncora e aproar o catamarã Tranquilidade para adentrar um pouco mais o Paraguaçu até o povoado de São Tiago do Iguape, uma lindeza de fundeadouro abençoado pela visão de mais uma belíssima igreja matriz debruçada sobre as águas. Jogamos âncora, porém, demoramos pouco, apenas o tempo de respirar o ar daquelas paragens e registrar mais uma vez nossa passagem por São Tiago, lugar que temos os bons amigos, Dona Calú, Seu Jarinho e o pescador Lito. Com a maré de vazante saímos do Paraguaçu para ancorar em Salinas da Margarida, outro fundeadouro bom demais da conta e onde passamos a noite.

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Se aproximava o dia da nossa despedida daquele mar de bondades e mais uma vez retornamos à Praia da Viração, que o comandante Flávio marcou em seu cardeninho de anotações como uma delícia de praia. Lucia, como sempre, preparou um almoço dos deuses e ficamos ali, olhando a paisagem e jogando conversa fora, como se o tempo não existisse, mas ele existe e tínhamos que seguir viagem. Para onde? Que tal ir até o Aratu Iate Clube para saborear aqueles pasteis fora de série? Boa ideia, vamos lá! Bem, os pasteis não degustamos, porque o Wilson estava fazendo manutenção no restaurante, porém, lá nos esperavam o Paulo e o Maurício, para festeja nossa estadia com uma rodada da mais gelada cerveja sob as cores do pôr do sol, que das varandas do Aratu é imbatível.

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Mais uma noite se passou e pela manhã voltamos para o local de nossa partida no Angra dos Veleiros, na Península de Itapagipe, bairro da Ribeira. Com as energias e os votos renovados no mar da Baía de Todos os Santos, festejamos a boa vida que tivemos naqueles sete dias a bordo do Tranquilidade, um modelo BV 43 construído pelo estaleiro maranhense Bate Vento. Como se diz na Bahia: Um barco da porra!

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No dia seguinte levamos o comandante Flávio e Gerana para um tour pela cidade de Salvador. Visitamos o Mercado Modelo, o Pelourinho, a Ponta de Humaitá, o Rio Vermelho, o Mercado do Rio Vermelho e o Farol da Barra. Turistar pela capital baiana é caminhar sobre a história de um Brasil mais encantador impossível. Apresentar aos amigos o mundo que tivemos a alegria de viver por tantos anos e que tantas alegrias nos trouxe, é para nós uma felicidade imensurável.

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Os nossos anfitriões do Tranquilidade voltaram para Natal e nós ficamos mais um dia para ver as duas joias que citei lá em cima. Nelsinho e Amanda, o melhor de toda essa viagem, em dezembro de 2016, foi poder mais uma vez abraçá-los e beijá-los. Que o Senhor do Bonfim sempre os proteja.

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P_20161214_102809“Nessa cidade todo mundo é de Oxum/…Toda essa gente irradia magia/…eu vou navegar, nas ondas do mar, eu vou navegar…”

Nelson Mattos Filho/Velejador

Votos renovados com o mar – III

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Na página anterior desse relato estávamos com o catamarã Tranquilidade ancorado em frente a Praia de Mutá, uma gostosa baía no canal interno da Ilha de Itaparica, e prontos para degustar umas garrafas de Muvuca, Saruaba, Tribufu e Retada, produtos da cervejaria ED3, de nomes bem abaianados e que levam prazer aos amantes de uma boa loura gelada. Tive o prazer de experimentar algumas garrafas das ditas cervejas logo no início da produção, no veleiro Guma, do casal Davi e Vera Hermida, e essa prova deixou um gosto de quero mais, porém, o tempo passou, mas a vontade não. Quando o comandante Flávio nos convidou para o passeio no Tranquilidade, no início de dezembro de 2016, disse que eu incluísse no roteiro a visita a cervejaria de Mutá, o que fiz mais do que depressa. E lá estávamos nós, desembarcando para a visita.

P_20161208_182654A ED3 teve início com o sonho de três casais, entre eles Almir e Simone, que queriam produzir cerveja para desfrute da família, que não é pequena, e do time dos amigos, que é maior ainda, porém, o que era sonho de bons bebedores, virou um excelente negócio, pois a cerveja logo no primeiro gole deixava no ar o sabor do sucesso. Hoje o maquinário cresceu, o galpão aumentou, mas o que continua o mesmo é o sabor das cervas e a acolhida maravilhosa com que os proprietários recebem os visitantes, com direito a roda de samba, bons papos e tudo mais. O difícil é querer deixar o galpão e voltar para o barco, mas depois que deixamos vazias algumas dezenas de garrafas, foi o que fizemos e ainda trazendo na garupa algumas caixas para festejar num futuro próximo. A direção da cervejaria está em vias de fato para colocar a praia de Mutá no roteiro turístico náutico da Bahia e com certeza os visitantes saíram encantados e bem animados.

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Após uma noite das mais tranquilas, acordamos cedo, levantamos âncora e prosseguimos em nosso roteiro pela Baía de Todos os Santos. Voltamos a Itaparica para reabastecer os tanques com água e rumamos para a praia de Loreto, outro fundeadouro inigualável, por trás da Ilha do Frade, e onde a vida a bordo é mais gostosa. Loreto estava coalhada de veleiros de amigos, que tomara não vejam essa minha declaração, pois ficarei com um débito impagável por não tê-los visitado, contudo, antes de receber a primeira cobrança, peço perdão pela falta grave e prometo não cometer outra, pois todos eles moram em nossos corações.

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O comandante Flávio e Gerana ficaram fascinados por Loreto e no dia seguinte, quando seguimos viagem, disseram que voltariam o mais breve possível, porque nunca imaginaram que ali existisse um lugar tão lindo e com uma natureza tão exuberante. Na verdade quando tracei o roteiro queria mesmo visitar lugares que sempre me acolheram bem, porque era o meu reencontro, depois de cinco meses afastado, com um mar que amo de paixão.

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De Loreto rumamos para a Praia da Viração, vizinho a Ponta de Nossa Senhora, do lado sul da Ilha do Frade. A Viração é de uma lindeza sem igual e para muitos é o Caribe na Bahia, com águas cristalinas, onde se avista a âncora no fundo do mar, e uma faixa de areias brancas emoldurada por uma mata em estado praticamente nativo. Viração é uma APA e como todas, tem regras que regulam sua visitação, porém, ainda se pode ver alguns deslizes da nossa falta de educação ambiental. A praia recentemente recebeu alguns créditos a mais de fama, por ter sido destino de constantes banhos de mar da presidente Dilma, em suas férias na capital baiana. A praia é linda sim, mas pouco frequentada pelos velejadores.

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Da Praia da Viração aproamos o Rio Paraguaçu e fomos jogar âncora em frente ao povoado de São Francisco do Paraguaçu e seu Convento enigmático. Era hora do pôr do sol e abrimos um vinho para comemorar o dia que se ia e festeja a noite que tomava espaço. Entre um gole e outro com o líquido de Baco, fiquei matutando nas várias visitas que fiz aquele rio histórico e nas páginas do Diário que preenchi denunciando o descaso existente em tão belo cenário. Tudo continua na mesma, ou pior, mais maltratado ainda. Durante nossa velejada vespertina não encontramos nenhum veleiro, apesar de sido em período de um longo feriadão. Se o Paraguaçu fosse em um país europeu, americano do norte ou mesmo em alguns países orientais, garanto que seria tratado com toda importância e zelo que merece. Infelizmente tratamos nossas riquezas naturais da mesma forma como tratamos todo o restante de nossas causas, sem o mínimo de interesse em ver os bons resultados. Temos leis para tudo e para todo gosto, mas nenhuma serve além de sua escrita. São feitas apenas com o intuito de acalmar ânimos e nada mais, pois em suas entranhas, propositalmente, faltam princípios.

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O Convento de São Francisco do Paraguaçu, assim como a grande maioria dos monumentos as margens do Rio Paraguaçu, está sob os domínios da lei do patrimônio histórico, acho que seria melhor que não estivesse.

E a noite cobriu o rio!

Nelson Mattos Filho/Velejador

De volta a São Tiago do Iguape

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Vai completar um ano que estivemos em São Tiago do Iguape pelo primeira vez, foi no começo de julho de 2015, e nesse, 17/06/2016, retornamos ao pequeno distrito, que pertence ao município de Cachoeira/BA, para Lucia aprender os segredos para produzir o famoso camarão defumado, iguaria que dá ao acarajé e ao abará um toque de sabor mais do que especial. Antes de entrar na seara da culinária, vou comentar um pouco do que vi um ano depois. Para começo de conversa dessa vez não fomos de barco e sim de carro pelas estradas da vida. Para chegar lá é fácil e nem é preciso pedir ajuda aos duendes do google maps. Partindo de Salvador, pela BR 324, em direção a Feira de Santana, segue por mais ou menos 45 quilômetros até encontrar a indicação para o município de Santo Amaro da Purificação. De Santo Amaro segue pela estrada para Cachoeira e 1 quilômetro após o posto da Polícia Rodoviária Estadual, vira a esquerda – ao lado de duas palmeiras – e depois é só seguir em frente. A estrada termina em São Francisco do Paraguaçu, porém, São Tiago do Iguape fica 6 quilômetros antes.

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Achei a cidadezinha de Iguape bem mais bucólica do que há um ano, talvez porque naquele tempo estivesse se preparando para a sua festa maior em homenagem ao padroeiro. Como dessa vez cheguei com mais de quinze dias de antecedência, a tranquilidade reinava na praça. Enquanto Lucia entrava na aula de defumação com a professora Dona Calú, eu peguei a máquina fotográfica e fui dar uma caminhada até a beira do mar, pois é nele que eu me acho.

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Revi a bela igreja, fotografei canoas, apontei a lente para o rio, conversei com alguns pescadores que chegavam da lida e notei a existência de um pequeno canteiro de obras que soube se tratar da construção de um píer público para embarque e desembarque.

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Será verdade ou será mais uma obra para azeitar as eleições municipais que se aproximam?

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De volta a mercearia de Dona Calú e Seu Jarinho me aboletei numa cadeira e fui prosear com os locais, numa prosa boa, divertida e regada com cerveja gelada e acompanhamento de camarão defumado e amendoim cozido. Entre uma conversa e outra Seu Jarinho disse assim: “…aqui tinham muitos barcos a pano que navegavam até Água de Menino, levando e trazendo mercadoria, mas a chegada do motor nos barcos,  em vez de contribuir acabou com tudo”. Disse ainda que o pai era proprietário do Saveiro Macapá, doou a embarcação para o mestre, esse para o filho e anos depois, em péssimo estado, o Macapá encalhou em um banco de areia e foi abandonado para o sempre. Hoje a frota de Iguape se resume a poucas canoas de tronco, outras de fibra e todas movidas a motor. Uma pena, mas é assim!

20160617_122920Enquanto o bate papo corria solto lá fora, Lucia dava seguimento aos seus estudos e o quando o vento batia, chegava até nós o cheiro do camarão sendo envolvido pela fumaça. Mais conversa, mais causos, mais risos e assim a aula terminou, o almoço foi servido – moqueca de siri – e podemos provar o resultado dos ensinos. A aluna foi aprovada com nota máxima. Pense num camarão defumado que ficou bom!

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Muitos baianos, e não baianos, hão de dizer que essa conversa de camarão defumado em acarajé é balela e tem até quem afirme que o bom mesmo é o camarão cozido. É difícil se chegar a uma unanimidade em matéria de acarajé, ainda mais em um Estado que tem um tabuleiro em cada esquina e onde cada freguês é fiel a sua baiana de preferência. Eu já bati meia Salvador em busca do melhor acarajé e confesso que gostei de quase todos. Alguns vem recheados com camarão cozido, outros com o defumado e para mim o mais saboroso é o segundo, além de ser o tradicional.

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Em 2015 Lucia fez um curso de acarajé e abará, no Senac do Pelourinho, e faz as iguarias para baiano nenhum botar defeito, mas faltava aprender a defumar o camarão, o que não tem muitos segredos, porque ela quer fazer em Natal/RN e lá não vende esse tipo de camarão, ou se vende nunca encontramos. Sabendo ela que os que eram defumados em Iguape eram os mais deliciosos, se prometeu que aprenderia a fazer e pediu ajuda a Dona Calu que se prontificou a ensinar.

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Pronto, agora o tabuleiro de Lucia está completo, em breve vamos tirar a prova dos nove e para quem não tiver a alegria de provar, postarei a fotos aqui para deixar muita gente com água na boca. Me aguarde!     

Sabe de uma coisa?

6 Junho (274)

Na página desse Diário que teve o título, O Grande Mar V, falei da situação de abandono que se encontram os rios brasileiros, que só em lembrar me deixa estarrecido. Escrevi o texto, que segue essa introdução, enquanto o Avoante navegava devagarinho as águas do Rio Paraguaçu e meus olhos procuravam vestígios de algum píer público. Não me queiram mal, porque foram palavras saídas do fundo do coração e que muitos podem até achar que são levianas.

Eu e todo navegante somos culpados, porque ficamos calados e inertes diante do descaso. Fazemos parte, junto às populações envolvidas, dos que seriam beneficiados e não estamos nem ai, pois fazemos de conta que não temos nada com isso. Um píer em boas condições de uso representa melhorias, atrai turismo, investimentos e desenvolvimento. Sem o píer todos perdem. É difícil entender isso? Acho que não!

Navegantes, clubes náuticos e população precisam levantar essa bandeira e partir para a luta. Cobrar ações, apresentar denuncias, mostrar para as pessoas o que elas estão perdendo, o quanto às cidades e povoados estão perdendo.

Sempre falei que o Brasil vive de costa para suas águas. Temos um litoral quase sem fim e dotado de infinita beleza. Do mar, o brasileiro curte apenas as praias e, assim mesmo, em dia de Sol. Dos rios, nem isso, pois nem conseguimos mantê-los limpos e despoluídos.

Temos um dos maiores e mais desejados rio do mundo, o Amazonas, e não sabemos e nem podemos aproveitá-lo livremente para a navegação amadora. Não existe apoio para isso, não existe segurança, não existem roteiros e nem guias náuticos confiáveis. Muito menos o interesse de alguma alma boa para fazer isso acontecer. Hoje navegando no baiano Paraguaçu, fico com esse grito preso na garganta. Quanto desperdício! Quanto descaso com a coisa pública! Quanta falta de visão das autoridades!

A Bahia tem sua história intrinsecamente ligada ao mar e das águas surgiram grandes personagens de sua história, navegando em belos saveiros e canoas de tronco. Tudo isso está sendo jogado no lixo como se não fosse nada. Como se não representasse nada. Parece até que querem apagar a história de um povo. O que é isso gente?

Não se comete uma desfeita sem que se pague um preço por ela. A história é inclemente com os malfeitores e usurpadores dos bens públicos. Como é também com quem se cala, se ajoelha, se acovarda e aplaude o descaso alheio.

O Paraguaçu ainda está vivo, porém, entristecido e com um jeitão de um velho abandonado. Não se abandona um velho a própria sorte, porque isso é um crime irreparável. O que vamos dizer as gerações futuras? Será que vamos deixar apenas que os livros contém como era? Que velhas e desbotadas fotografias denunciem o que deixamos para trás? Culpar a quem se os culpados somos nós mesmos.

Aqueles que têm a felicidade de viajar pelo velho continente, pelos EUA ou algum país que valoriza rios e mares, retornam contando maravilhas do que viram por lá. A França com seus canais sendo navegados por confortáveis embarcações. A Espanha com suas belas marinas e portos modernosos. A Croácia com suas águas cristalinas e apetitosas. Os EUA com sua instigante intracoastal waterway. A Turquia, a Grécia, Portugal, Itália, o Mediterrâneo. Tudo lindo, tudo preservado e acenando para o turista. No Brasil temos tudo isso embaixo de nosso nariz e viramos o rosto, porque não queremos cobrar, não sabemos exigir, não queremos enxergar.

Ficamos boquiabertos diante das manchetes dos jornais, quando estes flagram o descaso, a poluição, a destruição dos rios, a corrupção desvairada e no segundo seguinte, esquecemos tudo, pois ficamos conformamos, achando que sempre foi assim e assim será para o sempre.

Nós navegadores desse Brasil imenso, perdemos tempo em debater os últimos lançamentos da indústria eletrônica. Desperdiçamos sonhos em busca de barcos maiores. Confabulamos em intermináveis, e sem futuro, bate papos sob os palhoções dos clubes. Digladiamo-nos para alcançar o poder dentro das associações náuticas e esquecemos o que realmente precisamos. Será que perdemos o norte, ou será que a navegação pura e simples não é a nossa praia?

É com tristeza que olho hoje para as águas do velho Paraguaçu e vejo nelas o reflexo de todos os rios brasileiros. Todos mal amados e esquecidos. Todos precisando de apenas um afago para sair da lama em que se encontram metidos.

Somos todos culpados! Infelizmente!

Nelson Mattos Filho/Velejador

A Fortaleza dos Reis Magos e a incompetência

FORTE DOS REIS MAGOS

Nas postagens – divididas nos cinco capítulos de O Grande Mar – sobre o Rio Paraguaçu e sua bela Baía do Iguape, falei sobre o abandono de monumentos históricos e todos eles sobre a guarda da Lei do IPHAN, que deveria protegê-los. Infelizmente a Lei parece ser apenas coisa – como diz o ditado – para inglês ver, porque o que mais se ver por ai são prédios jogados a própria sorte diante das agruras do tempo. Infelizmente o abandono não se restringe apenas as antigas construções, pois a nossa cultura popular, dotada de tanta beleza e também “acobertada” pelo IPHAN, está dilacerada e sendo disputada na tapa, aos berros e nos chiliques dos fantasiosos e emplumados gestores. Tomem ciência cambada de incompetentes deslumbrados! Hoje lendo uma matéria do jornalista Yuno Silva, nas páginas do jornal potiguar Tribuna do Norte, vejo com tristeza que uma das mais belas construções militares do Brasil colônia, marco da cidade do Natal, cartão postal mais retratado de uma cidade que foi berço do grande Luís da Câmara Cascudo, está jogado aos ratos. Ratos no sentido amplo e irrestrito. O que é isso gente! Botem suas barbas de molho e a ideologia no saco e vão procurar uma lavagem de roupa, porque de cultura e patrimônio público vocês não entendem nada.

O grande mar – IV

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A Baía do Iguape é um mundo de água cercado por um vasto manguezal. Em suas margens se debruçam o município de Maragojipe e os povoados de Nagé, São Francisco do Paraguaçu, São Tiago do Iguape e outras povoações menores, além de pequenas ilhas, entre elas a do Francês, que divide o rio ao meio, e do Coelho, que tem um fundeadouro maravilhoso. A baía é rica em várias espécies de peixes, moluscos e mariscos, entre eles se destaca o camarão.

Iguape é uma RESEX – Reserva Extrativista Federal, com 10.082,45 hectares, ligada ao ICMbio. Grande parcela da população vem de origem quilombola e sobrevive da pesca artesanal, cultura do fumo e agricultura familiar.

A navegação no Rio Paraguaçu não oferece grandes perigos, mas é indicado estudar bem a carta náutica e seguir com atenção os waypoints demarcados. O problema maior são as redes de pesca que não são poucas, mas nada que um bom comandante não resolva. Continuar lendo

O grande mar – III

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A primeira vez que desejamos navegar até São Tiago do Iguape foi em 2009, mas naquele ano as chuvas, os ventos e o frio nos fizeram retornar de São Francisco do Paraguaçu, cinco milhas náuticas antes, e deixamos a oportunidade passar adiante, porém, o desejo nunca passou.

No começo de 2015 o amigo e velejador baiano Haroldo Quadros falou assim: – Nelson, você escreve maravilhas sobre a Baía de Todos os Santos, mais até do que muitos baianos. Você precisa escrever sobre a Baía do Iguape e todas as cidades banhadas por ela, pois ali está a verdadeira história da Bahia. Confesso que fiquei lisonjeado com as palavras do amigo, mas fiquei corado quando ele me colocou acima de “muitos baianos”. Deve ter sido piada!

Ele me fez retornar até 2009, o desejo aflorou novamente e dessa vez, com força total. Vou a Iguape, faça sol ou faça chuva!

Com as fogueiras sendo armadas em frente às casas nas ruas da Ribeira, soltamos as amarras que prendiam o Avoante ao píer do Angra dos Veleiros e debaixo de uma chuva forte subi as velas e aproei a Ilha de Itaparica, onde comemoramos o São João. De lá, tomamos o rumo de Salinas da Margarida para festejar o outro santo junino, o poderoso São Pedro. Os dois santos forrozeiros mandaram ver nas chuvas e estas castigaram Salvador e as cidades do Recôncavo Baiano durante todo o período festivo. Entre uma chuva e outra fomos ficando em Salinas, curtindo a velha e boa preguiça que sempre bate na gente nos dias de chuva e frio.

Numa manhã nublada, quando já descambava para seis dias de ancoragem em Salinas, suspendi a âncora, icei as velas e aproei a foz do Paraguaçu. Pronto, estava novamente no rumo de Iguape e onde os amigos diziam ter camarão em banda de lata.

A ideia inicial era ancorar em algum lugar ao longo do rio, mas a velejada estava tão boa, com o Avoante navegando na estonteante velocidade de média de 2 nós, que as ideias foram mudando, os locais planejados foram ficando para trás e quando o sol se preparou para ir embora, numa curva do rio, surgiu as torres da Igreja e logo estávamos jogando âncora em frente ao povoado, com a noite tomando forma em meio ao lusco-fusco. Foi uma noite tranquila e de belos sonhos.

Quando o dia amanheceu e botei a cabeça para fora do barco, me deparei com a canoa Carolina de onde o pescador gritava: – Gringo, camarão? Olhei para os lados e como não havia outro barco na ancoragem, deduzi que o gringo era eu mesmo. – Quero, pode chegar!

Foi ai que conheci Seu Lito, um pescador boa praça e que nos adotou como amigos logo de cara. Compramos o camarão, mas como não tínhamos gelo, ele se ofereceu para levar para sua casa e guardar no freezer. Beleza! Ele ensinou o endereço e combinamos que pegaríamos no dia seguinte.

Como a maré estava baixa, esperamos ela subir para poder desembarcar. Como assim? O desembarque é o ponto franco em Iguape e em todas as cidades que margeiam o Paraguaçu, porque a lama espessa que se deposita no fundo torna o desembarque um tremendo desconforto.

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Infelizmente a visão dos administradores não permite que eles enxerguem o apoio a navegação como um bem maior para incentivar o turismo e o desenvolvimento das cidades. No passado existia sim um píer para embarque e desembarque, mas o que restou dele virou escombros abandonados que enfeiam a paisagem.

A maré subiu e desembarcamos. Precisávamos comprar gás de cozinha e água mineral, o que foi resolvido na primeira mercearia em que Lucia parou e bem próximo ao porto. Em seguida saímos em busca de Dona Calú e Seu Jarinho, proprietários de um pequeno comércio de bar e mercearia. Eles foram recomendados por alguns velejadores baianos que outrora estiveram por lá. Seu Lito nos informou que há muitos anos não ancora por ali veleiros com bandeira brasileira e por isso ele achou que éramos gringos.

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Como Dona Calu e Seu Jarinho são mais conhecidos no povoado do que farinha, não foi difícil achá-los. Do primeiro interlocutor já recebemos as coordenadas: – No primeiro pé de amendoeira que encontrarem na praça a mercearia deles é na frente. E era mesmo! O casal é uma simpatia e logo que fizemos as apresentações viramos amigos de longas datas. Eita povo bom!

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É esse carinho espontâneo e a simplicidade que me encanta.

Nelson Mattos Filho/Velejador

O grande mar – II

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A igrejinha está lá, imperiosa e debruçada sobre as margens do rio como um marco de imponência. A primeira construção, obra dos jesuítas, data de 1555 e por ai se vão 460 anos. Devido a sua importância recebeu em 1608, sanção canônica de Matriz. Se o resultado da obra nos dias de hoje é de deslumbramento, fico imaginando como terá sido a reação dos índios e fieis quando se deparam com aquele monumento sagrado em meio à paisagem cercada de mata e água. Claro que, pela ousadia do desbravamento e costumes da época, ao barro foram acrescidos muito sangue e suor, mas dizem que para tudo tem o outro lado da moeda. Mas não é o homem um eterno senhor da razão quando quer justificar crueldades?

A igreja foi construída nas terras de Antônio Lopes Ulhoa, senhor do engenho São Domingos e Cavalheiro da Ordem de São Tiago de Compostela, e por trás dela foi se formando um pequeno povoado que chegou a ter grande importância para a economia baiana. Em 1783, com a expulsão dos jesuítas do Brasil, por ordem do Marques de Pombal, a igrejinha foi arruinada para ser reerguida logo depois, mas a vida no povoado seguiu em frente.

Entre o abandono da primeira igrejinha e o surgimento da segunda, o povoado foi perdendo sua força e hoje não passa de um pequeno distrito do município de Cachoeira, com pouco mais de 3 mil habitantes, que sobrevivem principalmente da pesca artesanal e das aposentadorias do INSS.

O comércio e pequeno, talvez possa dizer que seja mínimo, onde podemos encontrar o básico. Um posto de saúde, escola pública, correio, delegacia, uma praça e um povo acolhedor e atencioso com o visitante. As ruas e vielas seguem um desenho muito parecido com a velha Itaparica, onde todas terminam na praça. Esse é o cenário dos dias atuais e que não deve fugir muito do que era vislumbrado há mais de 400. Mas sinceramente, achei fantástico.

Nos tempos áureos, ou de políticas governamentais comprometidas com o bem de tudo e de todos, existia um pequeno navio de passageiros que fazia a linha passando por lá, depois de navegar outras cidades do Recôncavo, e retornava a capital num vai e vem gostoso. Os tempos eram outros, a vida mais simples e acho até que o povo era mais feliz.

A velha Matriz sobreviveu às agruras do tempo, porém, em 2013 recebeu a visita dos amigos do alheio que profanaram suas dependências e afanaram sete imagens do séquito de santos que compunham seu altar. Restou solitária a imagem do padroeiro São Tiago, que devido ao peso e tamanho não pôde ser levada. Era noite de festa na cidadezinha e ninguém se deu conta de uma caminhonete sorrateira estacionada numa viela escura. O crime deve ter sido encomendado e abençoado por algum filho da peste e até hoje resta o disse me disse e a saudade dolorosa das imagens dos santinhos.

A Matriz continua precisando de atenção e acho até que ela seja tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Pela Lei do tombamento, os prédios que merecem tal reconhecimento são aqueles de grande valor histórico, artístico e cultural. Só não entendo o porquê de a Lei ser tão conivente com o estado de ruinas, alguns vergonhosos, em que se encontram a grande maioria dos prédios tombados. Mas deixa ver.

Bem, antes de sair da linha, estava falando sobre São Tiago do Iguape, uma encantadora cidadezinha na margem do Rio Paraguaçu, onde ancorei o Avoante depois de navegar 36 milhas partindo de Salvador. Iguape na língua tupi quer dizer: Lugar existente no seio d’água. Navegar até lá representou uma das grandes alegrias que tive em todos esses anos de morador de veleiro.

Ancoragem tranquila, silenciosa e deliciosamente abençoada pela beleza arquitetônica da velha Matriz, que não cansei de admirar e fotografar. Cheguei ao ponto de acordar e levantar no meio da madrugada, já que o Avoante estava ancorado em frente, para retratar a sombra da igreja refletida no espelho da água.

Sinceramente não consigo entender as causas que levaram importantes cidades do passado a ficarem estupidamente abandonadas à própria sorte. Os livros de história se esmeram em relatar os fatos, mas as peças não se encaixam em minha cabeça de vento. Qual o padrão que seguimos? Padrão europeu? Ou será o americano? Será ideológico? Sei lá! Fazemos tudo tão confuso que aposto um doce como ninguém sabe realmente responder.

Vivemos sempre na fase do entre, sem aprender com os erros do passado para um dia tentar desanuviar o futuro. Dizem que somos assim mesmo e assim brincamos de ser feliz. Dizem até que somos o país do futuro. Pense num futuro distante!

Ah! O nome da Igreja? Matriz de São Tiago do Iguape. Uma lindeza que só vendo.

Nelson Mattos Filho/Velejador

O grande mar – I

6 Junho (129)

O slogan é ufanista sim senhor, mas dificilmente encontraremos algum nativo, por mais cético que ele seja, para assinar embaixo de uma contestação: Bahia, terra mãe do Brasil! E quem sou eu para dizer o contrário.

Sempre que adentro as históricas águas do Rio Paraguaçu, me vejo diante de um cenário deslumbrante, entrecortado por alguns clarões que demonstram a sanha dos desmandos produzidos pelos caras pálidas. Queria mesmo saber se na língua tupi existe uma palavrinha para substituir a expressão “besta quadrada”. Se existir, deve ser um baita palavrão, pois o povo índio é bom em resumir palavras abreviando os pormenores.

O Paraguaçu – grande mar na linguagem tupi – é uma imensa estante de uma biblioteca a céu aberto, recheada de livros imaginários, mas que narram em poemas uma história fascinante.

Nesses dez anos morando a bordo do Avoante, em que a Bahia foi o meu porto mais constante – tanto que ainda não consegui atravessar sua fronteira navegável, porque ainda não conheço tudo o que desejei conhecer – naveguei umas poucas vezes as águas do velho rio e sempre fui tomado por uma professoral entidade saída dos arquivos recônditos da história, que me faz ver com tristeza os rumos maledicentes que as coisas tomaram.

Contam a boca pequena que a área de mata que cerca a rio Paraguaçu já disputou pareia com a floresta amazônica. Se a afirmação é verdade eu não sei, mas um dia alguém escreveu sobre isso e olhando em minha volta, do cockpit do Avoante, não duvido mesmo. É muita mata ainda em estado bruto!

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Algumas traquinagens foram cometidas no passado e o presente nos mostra que os traquinos continuam em franca atividade. As margens do Paraguaçu ainda conservam muito da sua beleza, talvez até mais do que os defensores do progresso a todo custo desejassem que fosse, porém, por trás dos montes e longe dos olhos dos navegantes, a desfaçatez do homem paira sobre a poeira de uma devastação galopante. Continuar lendo