O título de Caribe do Nordeste coube bem no portal de entrada da Praia de Barra do Cunhaú/RN, para mim, a mais bela praia do litoral do Rio Grande do Norte, dona de uma geografia que reúne os mais encantadores elementos da natureza que dão a paisagem um enquadramento perfeito, mar, rio, dunas, coqueiros, manguezais, mata, morro e uma cidadezinha praieira que se debruça sobre o cenário. Barra do Cunhaú está localizada a 85 quilômetros de Natal, e pertence ao município de Canguaretama.
É difícil não se apaixonar pela Barra, como carinhosamente batizam nativos e veranistas, porque a primeira moldura paisagística, de quem chega pela estrada, é de encher a vista e não tem como não querer registrá-la em fotografia. Ao cruzar o portal de entrada e seguindo pela estradinha que margeia o Rio Cunhaú, a sensação é de ter chegado a um bucólico e fascinante paraíso, daqueles vistos somente em filmes e sonhos. Mas o bucólico fica restrito a primeira impressão, porque a fileira de bares, a praça de eventos e a barulheira das músicas – músicas? –, que ecoam por lá, alteram o tom da sonata paradisíaca.
É envolvido nesse clima que me vejo todas as vezes que vou a Barra do Cunhaú e foi com brilho nos olhos e alegria na alma, que cheguei por lá dia 17/01, para conhecê-la por ângulos que jamais avistei e sentir o esplendor e a magia de suas entranhas, atendendo ao convite do casal Érico Amorim e Renata, proprietários de uma aconchegante cabaninha praiana no alto do morro, com uma privilegiada varandinha para dar conta dos ventos, das marés, do movimento das embarcações, tudo temperado com uma deliciosa pareia de cachaça com caju, e bons papos.
Na companhia do casal anfitrião e do casal Lindolfo Sales e Angelina, veranistas de outrora e conhecedores dos segredos daquelas paragens, atravessamos o rio, no paquete de Érico, e fomos nos refestelar no banho de águas claras, mornas e calmas da Praia da Restinga, na divisa da Barra com Baía Formosa. Na Restinga o visitante pode desfrutar de algumas redes armadas dentro d’água, fazer passeios de barcos, explorar a região em buggies, carros 4×4 ou fazer inclusive nada, bastando sentar na areia branquinha e apreciar a paisagem ou a perícia dos velejadores de kitsurf. Os ventos que sopram na Barra oferecem as melhores condições para a prática de esportes a vela. E foi nessa de fazer inclusive nada, que passamos o dia na Restinga, rindo dos causos e jogando conversa fora.
No dia seguinte embarcamos no veleiro Musa, um Delta 26, do comandante Érico, levantamos vela e tomamos o rumo do Meral, um recantinho enigmático, localizado a pouco mais de 2 milhas náuticas rio adentro e ponto de encontro dos rios Cunhaú e Curimataú, com apenas uma barraca de pescador que dá apoio aos visitantes, servindo deliciosas ostras, e só, assadas numa churrasqueira.
A navegação até o Meral me fez recordar as navegações pelos rios baianos, velas em cima, tranquila, silêncio total, ouvindo apenas o marulhar do casco do barco cortando água em um canal largo, com média de profundidade de 6 metros, e aqui, acolá, avistando uma canoa de pesca. Aliás, fizemos uma navegação como as dos velhos saveiros da Bahia, subimos o rio na maré de enchente e descemos na maré de vazante. Ó paí, pra que pressa?
A ancoragem no Meral tem 11 metros de profundidade e exatamente no encontro dos rios. A única dificuldade é rever o aprendizado de ancoragem em situação de luta entre correntes contrarias, de forças diferentes, e vento. Segundo informações de um barqueiro que ancorou próximo, os rios Cunhaú e Curimataú oferecem condições e profundidades para navegação “até mais para frente” e o fundo é lama e sem pedras.
Só não consegui distinguir com precisão a origem do nome Meral, alguns dizem que ali existem algumas locas que seriam habitat do peixe Mero, outros falam que é uma corruptela do nome Perau, declive brusco no fundo dos rios e oceanos, mas bem que poderia ser “merol”, palavra que alguns usam para definir a porção de bebidas a ser levada para um dia de praia e mar, porque ali, na paz dos anjos do rio e diante do braseiro recheado com ostras fresquinhas, a vontade de tomar umas é grande.
Diante da natureza em estado bruto, comentei: – Se o acesso a boca da barra fosse balizado ou cartografado e os velejadores cruzeiristas franceses, espanhóis e alemães descobrissem esse lugar, em cada curva ou igarapé desse rio, teria um veleiro ancorado, pois são eles quem mais conhecem e aproveitam o potencial náutico brasileiro.
Obrigado, Érico, Renata e Érico Filho, pela acolhida maravilhosa.
Nelson Mattos Filho