Chegamos ao final do relato do velejador baiano Sérgio Netto contando uma boa parte da história da Refeno que em 2014 completa 26 anos. Quem um dia já participou dessa que é a maior e mais instigante regata de oceano do Brasil, deve ter se reconhecido em algum momento dessa história que dividi em três partes. Para quem ainda não teve a alegria de realizar o sonho da velejada até a Ilha de Fernando de Noronha, competindo numa Refeno, fica o convite para não adiar o sonho, pois a XXVI Refeno larga do Marco Zero, na cidade do Recife, dia 27/09. Mais uma vez agradeço ao amigo Sergio Netto por proporcionar aos leitores do Diário do Avoante essa bela narrativa.
FERNANDO DE NORONHA E AS REFENO
A velejada para Rocas durante a noite foi tranquila, em asa-de-pombo com a mestra no primeiro rizo, genoa parcialmente enrolada, vento aparente 10 a 12 nós, piloto automático. Fizemos 68 milhas em 10 horas e de manhã cedo pegamos a poita do Delícia, o veleiro Farr 38 no qual Zeca fazia o apoio à ilha, ψ=3°50,78’S λ=33°31’W. O pessoal do Ibama foi a bordo e nos levou para terra no bote deles. A entrada da barreta é com onda e difícil para um caíque pequeno. O pessoal do Bola 7 que chegou meia hora depois não teve a nossa simpatia para conquistar o pessoal do Ibama e não desembarcou. O fundeadouro é aberto, desconfortável, e nos avisaram que à tardinha chegam os pássaros e fazem o maior barulho. Às 15 horas deixamos a amarração e saímos em orça apertada para Natal, 140 milhas para SSW.
Atracamos no píer do Iate Clube de Natal no início da tarde do dia 2 de outubro, lavamos o barco com água doce e fomos para uma amarração. Muito simpática a recepção do clube para o visitante. Marcio e Claudinha desembarcaram e voltaram de avião para Salvador. Pedro havia desembarcado em Noronha.
Dia seguinte era dia de eleição e passamos nos Correios para justificar a ausência eleitoral. Tínhamos alugado um bug ‘Selvagem’ e fomos para as praias do norte e as dunas de Genipabu.
No domingo dia 4 levantamos vela ao meio dia e seguimos 80 milhas para SSE, no contravento, até Cabedelo, onde nos esperava a tripulação do Cangaceiro, que levaram Vicka e Lizete para compras. O Pinauna estava molhando dentro pela gaiuta de proa e o inglês Ryan, dono de um estaleiro e do trimarã ‘Jeitinho’ atacou o problema. Este inglês diz que coisa difícil ele faz rápido, o impossível demora um pouco. Cabedelo, no estuário do Rio Paraíba, é um local bem protegido, bom para deixar o barco em caso de necessidade.
Dia 6 de outubro, quando o sol já havia passado o equador para fazer o verão do hemisfério sul há duas semanas, e o vento já havia rondado para nordeste, saímos a barra de Cabedelo às 10 horas, dobramos o Cabo Branco, no extremo oriental do Brasil, e a velejada para o sul-sudoeste ficou macia, com vento e corrente favoráveis. Mas à noite refrescou e deu trabalho; passamos direto por Recife chegando a Maceió dia 7 à tarde. São 200 milhas de João Pessoa a Maceió, e cheguei mole e resfriado. Vicka e Lizete desembarcaram e retornaram de avião para Salvador. Silvia pegou a Lena e a mim de carro e nos levou para jantar no Divina Gula.
Dia 8 Lena foi às compras para reabastecer o barco e eu fiquei a bordo descansando e me recuperando do resfriado. Dia 9 já estava bom e largamos ao amanhecer para o trecho final até Salvador, quase 300 milhas até o AIC, que fizemos em pouco mais de 48 horas. Este trecho com só duas pessoas a bordo foi um passeio, com pouca vela, sem pressa, curtindo o finalzinho das três semanas de férias. Navegamos bem longe de terra para não ter que nos preocupar com barcos de pesca sobre a plataforma continental. Quando acordei pela manhã do dia 10 vasculhei o horizonte de binóculo e vi um veleiro vindo pela popa, bem na nossa esteira, só com vela mestra e motor. Chamei no rádio mas ele não respondeu. O vento estava fraquíssimo e ele logo nos alcançou quando tomávamos o café da manhã no cockpit. Era o Suzy Dear, com Serginho Bittencourt, Thales Magno Baptista e mais dois tripulantes. Eles desligaram o motor e fomos derivando juntos, Serginho fazendo a maior festa. Fizeram fotos e já estavam com planos de abordar o Pinauna quando chegou um ventinho e começamos a nos afastar. Eles abriram a genoa mas naquele ventinho fraco o Pinauna foi orçando mais e deixando o Swan pesadão mais arribado para trás, de forma que em uma hora não nos víamos mais. Esse povo tem mania de viajar vendo terra, o que é um problema a ser tratado no psicólogo. Viajar longe de terra é mais seguro, mais confortável, fora das rotas de tráfego, você pode dormir à vontade e se chegar um temporal tem espaço suficiente para correr com o tempo até que ele passe.
Chegamos no AIC no domingo dia 11 de outubro pela manhã e Vicka, Liz e Pedro Bocca foram nos buscar, já com o filme da regata editado, com trilha sonora e tudo.
Daí levei quatro anos sem voltar a Noronha. Quando o Banorte deixou de ser o patrocinador oficial, pouco antes de quebrar, a regata passou a se chamar REFENO mantendo a numeração desde a organização primeira de Maurício em 1986. Continuar lendo →