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Charter no Avoante

14519673_1437890319558392_4923049957171586231_nBem, acho que não é mais novidade que o Avoante não é mais nosso e que estamos cumprindo um retiro voluntário em um ranchinho de praia no litoral norte do Rio Grande do Norte, porém, o Jandir Junior, o novo comandante do Avoante, continua oferendo charter e passeio pela Baía de Todos os Santos, um dos mais lindos e fascinantes lugares do mundo, a bordo desse veleiro que é só alegria e aconchego. Quer saber mais? Ligue para o Jandir, (71)99123-3973 / (71)98774-0461, e faça sua reserva.  

O catamarã de velocidade – VI

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Depois da noite bem dormida na ancoragem em frente à cidade de Cairu/BA, acordamos cedinho para aproveitar a maré de enchente e seguir até o distrito de Canavieirinhas. Navegar até o povoado das famosas ostras criadas em cativeiro era uma vontade que alimentávamos há anos, mas o alinhamento dos astros não permitia que acontecesse. Quando o comandante Flávio me delegou a tarefa de montar o roteiro do catamarã Tranquilidade entre Natal/RN e o litoral baiano, inclui o destino sem pestanejar. Até porque, o comandante queria conhecer lugarejos pitorescos e que fugisse dos roteiros tradicionais.

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No começo da viagem, quando ainda estávamos na Barrinha dos Marcos/PE, meu computador queimou a placa e fiquei sem poder acessar o planejamento e consequentemente conferir a rota e os waypoints marcados. Algumas rotas já estavam inseridas no chart plotter do barco e também em meu GPS portátil. Mas como sabia que muita coisa seria alterada, como foi, em várias oportunidades, preferi incluir a cada parada a rota seguinte. Por precaução, costumo anotar em uma agenda os roteiros, mas infelizmente o percurso entre Cairu e Canavieirinhas não anotei.

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Quando da nossa ancoragem em Itaparica, remexendo papeis do barco, encontrei o guia náutico produzido pelo antigo Centro Náutico da Bahia e que teve a mão do navegador Davi Perroni. Entrei em contato com ele sobre a rota, pois confio cegamente em suas informações, e ele alertou que eu prestasse atenção no datum do GPS, porque as rotas do Guia estavam em Córrego Alegre. Datum é o modelo matemático utilizado para produzir mapas e cartas náuticas. Datums diferentes podem provocar erros de até mil metros de distância. No momento em que eu estava fazendo as correções o Davi telefonou dizendo que havia enviado um email já com tudo pronto. Amigo faz assim!

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O canal entre as duas cidadezinhas é estreito, raso em algumas partes e merece atenção redobrada até para quem tem um pouquinho de experiência. Como diz um amigo: “Não aceita desaforos e muito menos egos inflados”. Seguindo a rota que me foi enviada, observei que a profundidade média gira em torno de 5 metros, porém, na parte mais larga do rio, além de sinuoso, o traçado passa por profundidades de 3,5 metros na maré cheia. Deve ser navegado com o GPS em zoom elevado e com confiança no que foi traçado. Ao menor sinal de indecisão o barco pode ser jogado sobre um banco de areia.

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A ancoragem em Canavieirinhas é outro ponto crítico e já fez muita gente boa ficar em maus lençóis. Em frente à cidadezinha existe um enorme banco de areia, que descobre na maré baixa, e a ancoragem é feita em pouco mais de 2 metros de profundidade. Apesar de toda essa dificuldade, navegar cercado pelo vasto e vibrante manguezal é de uma beleza sem tamanho. E foi envolvido nesse clima de êxtase que cruzamos aquelas águas com segurança e alegria. O nosso comandante, que desejava um passeio assim, ria de orelha a orelha e não parava de lembrar a frase dita por nosso amigo de que “praia é tudo igual”. Lembramos também de Geraldo e Myltson que desembarcaram em Itaparica e perderam o melhor da viagem. São navegadas assim que fazem o diferencial da vela de cruzeiro e precisamos estar com o espírito em paz para vivenciá-las em toda plenitude.

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Navegar em pequenos canais e ancorar em pequenos povoados ribeirinhos, interagindo com os habitantes do lugar é um prêmio para a alma do cruzeirista. Eu mesmo não troco por nada. Falei sobre isso no texto que dá início a essa série que termina aqui e que dei o título de “Um sonho a mais”, mas acrescento que sonhos, vontades e interesses são diversos. Por isso, quando me perguntam qual o número de tripulantes ideal para uma viagem de cruzeiro, respondo que não existe número e sim afinamento. Um cavaquinho tem quatro cordas e nem por isso é mais fácil de ser tocado, ainda mais se alguma estiver desafinada.

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Canavieirinha foi o prêmio maior dessa nossa velejada a bordo do Tranquilidade e que aqui está relatado com o título O catamarã de velocidade. O título pode não corresponder com tudo o que aqui foi dito e não corresponde mesmo, porém, é uma pequena alusão aqueles que entram a bordo de um veleiro e em vez de curtirem a velejada, se preocupam apenas em correr regatas contra eles mesmos e não apreciam o sabor de uma gostosa e despreocupada navegada.

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Essa foi sim uma velejada maravilhosa e mais uma vez agradeço ao comandante Flávio Alcides pelo convite, aos companheiros de tripulação Geraldo Dantas, Myltson Assunção e Paulo Guedes, pela amizade e a minha esposa Lucia, pelo astral sempre elevado e que me enche de coragem para enfrentar os mares navegados.

Nelson Mattos Filho/Velejador

Retrato de um passeio pela Baía de Aratu – II

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O tom elevado, um pouco puxado para o raivoso e deixando de lado a necessária parcimônia, que encerrei a primeira parte desse retrato, foi apenas um grito ao vento de um escrevinhador diante ao descaso da história de um povo, porém, espero não ter que meter os pés pelas palavras na sequencia desse relato, em que tento apenas mostrar um pouco de uma região magistralmente bela e que me deixou feliz em ter navegado num fim de tarde de verão.

A Baía de Aratu, foco maior desse retrato, é um mundo cercado por pequenos e grandes municípios, conglomerados empresariais, grandes portos, uma BR movimentadíssima e grandes extensões de terras prontas para serem invadidas por grupos de sem terras, sem tetos e afins, porque esse é o destino reservado às terras que se prestam ao longo de gerações a uma quase infinita especulação imobiliária. Basta alguém armar uma tenda e o que era especulação vira fumaça e peleja nas barras dos tribunais. Mas calma aí, que dessa vez não mudarei o rumo de nossa prosa! Isso foi só um cochilo. Será?

A carcaça largada a míngua do velho navio Maragojipe ficou para trás e logo surgiu uma pequena enseadinha convidativa para jogar âncora e apreciar o mundo. Por lá estava ancorado um veleirinho o que fez brilhar os olhos de Lucia, pois ela adora lugares assim. Dizem que o local é gostoso durante o dia, mas que o pernoite não oferece segurança, porém, ninguém soube informar se já ocorreram problemas. É a velha máxima da histeria coletiva que abafa sonhos e vontades.

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O comandante Fróes acelerou a lanchinha Panela e mais uma enseada surgiu denunciando uma verdadeira e descontrolada invasão de suas margens por bares, biroscas e casas feitas de restos de madeira e papelão. O lixo se estendia pela praia e famílias inteiras se divertiam ao som de músicas saídas de vários paredões ao mesmo tempo. Aquele já é um pedaço de território sem dono, sem controle e sem lei. Agora vai alguém querer fazer um empreendimento náutico ou simplesmente um píer para atracação? Seu menino, o bicho pega e pega bonito! Acelera Seu Fróes!

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Ao lado da praia invadida está fincada a Belov Engenharia, pertencente ao velejador Aleixo Belov, onde foi construído o veleiro transoceânico Fraternidade. Em frente ao estaleiro estão adormecidas diversas embarcações e chatas de serviços, numa visão que incomoda e que dá uma dimensão da crise em que vive o setor petrolífero brasileiro.

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Um pouco mais adiante avistamos uma ponte ferroviária cruzando a baía, mas antes de cruzá-la, no grande lago que se desnudou, avistamos vários locais onde se pode jogar ancora para bons momentos a bordo. O Fróes informou que outrora existiu uma regata até ali e que era batizada de Volta da Galinha. O porquê do nome e porque acabou não se sabe, mas devia ser uma boa diversão diante de uma bela paisagem.

A ponte magistral não mais recebe o peso dos vagões das locomotivas, porque, assim como o velho Maragojipe e outros tantos bens abandonados do patrimônio público, foi condenada a morte pelos arautos do progresso.

A história da ponte é extensão da Estrada de Ferro da Bahia ao São Francisco, que começou em 1852, com um Decreto Imperial, e foi a primeira a ser construída na Bahia e a quinta no Brasil. O canteiro de obras inicial foi instalado em 1858 no bairro da Calçada e a primeira seção foi inaugurada em junho de 1860, entre Jequitaia e Aratu. Ainda em 1860, no mês de setembro – porque aquele tempo trem andava ligeiro -, os vagões circularam na segunda seção, entre Aratu e Rio Joanes. Em 1861 inauguraram a terceira seção, entre Rio Joanes e Feira Velha, atual Dias d’Ávila. A quarta etapa veio em 1862, entre Feira Velha e Pitanga e por último, em 1863, a quinta seção entre Pitanga e Alagoinhas.

Em meio a desacordos de garantias e comprometimentos nebulosos entre empresários e burocratas, em 1935 o presidente Getúlio Vargas transferiu o patrimônio da ferrovia para a Viação Férrea Federal Leste Brasileiro e a partir daí os trens saíram dos trilhos e a história é contada apenas pelos lampejos nas lembranças de velhos e saudosos passageiros. O patrimônio público abandonado continua nos passando na cara o descaso com que os homens do poder tratam o dinheiro arrecadado pelos impostos. A ponte de Mapele e os trilhos abandonados não deixam a mentira ter pernas longas e escancaram o descaso com que tratamos o transporte público.

Rapaz, juro que eu queria tomar outro rumo nessa prosa, mas os dedos coçam e a consciência martela o juízo. Prometo novas cores na próxima página desse retrato.

Nelson Mattos Filho/Velejador

Um passeio em família

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Tivemos a alegria de receber a bordo durante a Semana Santa os sobrinhos Gilmar, Grace, Giulia e Giovana, que vieram de Brasília para uns bordos pelos canais da Baía de Tinharé, que tem o Morro de São Paulo como um dos destinos mais desejados pelos turistas que chegam a Bahia. Foram quatros dias de alegria e que teve início em Salvador, dia 24/03, quando a família embarcou para uma velejada gostosa até a Gamboa do Morro, que serviu de base para nosso passeio. Sempre ancoramos na Gamboa, porque a ancoragem em frente a vila de Morro de São Paulo não é das mais favoráveis devido ao grande número de embarcações de transporte e passeio que ancoram por lá e não respeitam os limites de velocidade próximo as ancoragens. Aliás, a falta de educação náutica por parte de comandantes de lanchas, motos aquáticas e embarcações de transporte é um tema recorrente e que passa incrivelmente despercebido diante do nariz das autoridades marítimas. 

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A velejada de Salvador a Morro – como a região é batizada pelo povo do mar – é simplesmente fantástica, desde que feita em época certa e seja observada as condições meteorológicas. São 30 milhas náuticas de mar aberto, vento brando e mar de almirante, onde invariavelmente podemos fisgar um peixinho para alegria da tripulação. Alguém há de perguntar:  – E o tempo de velejada? – Bem, tudo vai ficar por conta do vento e do mar, mas normalmente é feita na média de 6 horas de barra a barra. Porém, temos que levar em conta o porto de saída. Se a saída for da Baía de Aratu, onde se localiza o Aratu Iate Clube, a marina Aratu e a marina Ocema, acrescente ao tempo de velejada umas quatros horas, porque a distância até a Barra de Salvador é em torno de 15 milhas. Uma milha náutica equivale a 1,852Km. Chegamos ao Morro no comecinho da noite da quinta-feira, 24/03, com maré de vazante e Lua cheia.

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Na Sexta-Feira da Paixão navegamos até a cidade de Cairu, mas não desembarcamos. Primeiro que Lucia serviu uma deliciosa moqueca de peixe com camarão seco defumado, que degustamos ancorado em frente a bela cidade histórica. Não é fazendo inveja, mas a moqueca estava de-lí-ci-o-sa. O segundo motivo foi que a tripulação iria fazer o passeio, no dia seguinte, em volta da ilha de Tinharé, a bordo de uma lancha rápida e uma das paradas era justamente em Cairu. Diante disso, e com o sabor da moqueca perfumando o paladar, levantamos âncora e retornamos a Gamboa do Morro, numa navegada ao pôr do sol e diante de uma paisagem de encantar o olhar dos mais exigentes.

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No Sábado de Aleluia, como a tripulação foi fazer o passeio de volta a ilha, demos uma arrumada no Avoante e desembarcamos para prosear com os amigos que estavam na ancoragem e ficamos jogando conversa fora, regada com umas cervejinhas geladas, até que o sol se pôr.

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A noite mais uma vez Lucia mandou ver nas panelas e serviu Conchilhone de Bacalhau, que nem é preciso dizer que estava ótimo, e foi mais uma noite de bons papos no cockpit.

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No domingo, 27/03, pela manhã, os sobrinhos embarcaram no catamarã Gamboa do Morro e retornaram a Salvador, para pegar o voo de volta a Brasília. Às 11h30min, levantamos âncora, abrimos as velas do Avoante e aproamos o rumo de Salvador, onde chegamos no Aratu Iate Clube às 23horas e 30minutos. Doze horas de uma velejada maravilhosa e que tivemos a alegria de dar carona a um pássaro oceânico que pousou na borda do nosso botinho de apoio e ficou até o começo da manhã da segunda-feira. Porém, o mais gostoso de todo esse passeio foi ver a felicidade de Gilmar em ter mostrado as filhas, Giulia e Giovana, um mundo em que a simplicidade e a interação permanente com os elementos da natureza transformam vidas e torna a alma do homem livre para sonhar e desbravar novos horizontes.