Os que apostam que o Rio Grande do Norte não tem história interessante a ser contada podem jogar mais fichas sobre a mesa e sair contando vitória, porque o que se fez e o que se faz, com fatos, monumentos e personagens históricos, não permite outra leitura. – Duvida? – Pois então bote um par de alpercatas nos pés e saia batendo pernas pelas veredas potiguares e tire a prova dos nove. Se quiser traçar um rumo comece pelo começo, indo até a Praia do Marco, onde foi chantado o Marco de Posse, em 1501. Em seguida vá até o Cabo de São Roque, litoral do munícipio de Barra do Maxaranguape e de lá pegue descendo até se deparar com as grossas paredes do Forte dos Reis Magos, na foz do Rio Potengi, em plena capital potiguar. – E depois? – Depois, se você não ficar entristecido com o que viu, passe em qualquer banca de revista e compre um roteiro turístico de bolso e vá em frente com muita fé, pois se tiver fé de menos você desiste no meio do caminho. Os acostamentos dos caminhos que tentam contar a história das terras de Poti são lastimosos.
Dia desses fui a praia de Muriú, litoral Norte, e após uma noitada de bons papos e vinhos, na casa de um amigo, pela manhã retornei a Enxu Queimado, porém, em vez de pegar a BR 101 até o município de Touros, seguir para São Miguel do Gostoso e de lá trafegar no arremedo de estrada vicinal até Enxu, decidi seguir pela antiga estrada que liga Muriú a sede do município de Ceará Mirim, pegar a BR 406 até João Câmara, e de lá seguir pela RN 120 até Pedra Grande e daí mais uma vez me indignar nos 11 quilômetros de descaso que é a estrada entre Pedra Grande e Enxu. Aliás, se a estradinha de Enxu recebesse apenas uma lasquinha das verbas públicas que ultimamente vem sendo gasto com festas e shows, se não desse para asfaltar, chegaria bem perto disso.
Pois bem, voltemos ao Vale do Ceará Mirim. Havia anos que não andava naquela estrada que outrora serviu de único acesso a bela praia de Muriú e que sempre me encantou, devido a beleza dos engenhos e pelo magistral casario que engendrava a cena canavieira em um mundo emoldurado por uma áurea de fascínio e lamentos de uma riqueza histórica que, já naquele tempo, pedia socorro para não ser esquecida em algum recanto do futuro, e foi.
Dos grandes engenhos praticamente nada restou e a história agoniza em meio ao abandono e escombros fantasmagóricos. Placas enferrujadas indicam a existência de um certo Caminho dos Engenhos, roteiro turístico do Governo do Estado, mas diante do que está posto, duvido muito que ainda exista algum documento da criação ou mesmo que normatize o tal programa. Ora, se o Marco de Touros, o Cabo de São Roque, a Fortaleza dos Reis Magos, pedra fundamental da capital potiguar, estão jogados ao deus dará, imagine uns engenhos de cana de açúcar, símbolos da aristocracia, localizados em um município interiorano de médio porte!
Com muita justeza e propriedade alguém ira alegar que não foi apenas o Rio Grande do Norte que jogou a história na lata do lixo. Claro que não, porque isso é um mal que sempre se viu em toda parte desse Brasil desvairado e eternamente mergulhado no caos, mas apesar de tudo fiquei feliz, mesmo diante da desilusão, em voltar a trafegar pela velha estrada de Muriú, que pelo estado em que se encontra, parece ter recebido recentemente uma fina camada de lama asfáltica, porém, esqueceram os acostamentos e a sinalização, e indicarei o caminho para todos que queiram saber um pouco mais sobre o esquecido Rio Grande do Norte, um Estado lindo, mas tão cruelmente maltratado e dilacerado pelos seus governantes.
Nelson Mattos Filho