No mês de abril de 2013 aticei os leitores com a postagem Conte sua história, em que abria espaço para que cada um contasse como chegou ao mar ou relatasse experiências vividas no reino de Netuno. Foi aí que começou a série A Tempestade, que infelizmente o autor nos deixou a ver navios em meio ao mar de Aracaju, não colocando um ponto final na peleja. Na crônica O Noroeste, em que conto meu atribulado encontro com esse vento descarado que sacode o mar da Bahia, o leitor Cicero Carlos Farias – que posa para a posteridade ao lado da esposa na imagem acima – comentou meu quiproquó e disse que tinha uma boa história para contar sobre um arranca rabo que teve no mar de Pernambuco a bordo de uma jangada e não titubeou em enviar o relato, que li num fôlego só – as vezes quase faltando. Parabéns Cicero e obrigado por dividir sua aventura com nossos leitores.
Um Dia de Aventuras no Mar
Cicero Carlos Farias
Após algum tempo vivendo no litoral, me apaixonei pelo mar e pelo prazer que ele pode nos proporcionar. Já sendo um bom nadador, haja vista que nasci e fui criado em regiões ribeirinhas, procurei me aperfeiçoar também no mar e até mesmo enveredei na arte do mergulho de apneia, o que sempre admirei por achar que o respeito à natureza: corais e animais marinhos. Muito embora o meu mergulho seja sempre por esporte, algumas vezes caçava um único peixe para levar para a minha esposa Simone, mesmo porque toda semana eu tinha um dia para ir ao mar para fazer o mesmo. Escolhendo a hora de acordo com a maré de minha preferência, a maré de quadratura, maré resultante do desalinhamento entre os astros: Sol, Lua e Terra, também chamada de maré morta ou baixa mar, podendo assim aproveitar o mar numa maior calmaria. Após alguns anos sem uma jangada e acostumado a nadar, evidentemente equipado com nadadeira, faca, mascara, respirador, além da arma de caça submarina, da praia até a barreira de arrecifes, resolvi fazer uma pequena e boa jangada, e assim a fiz e pus um motor de rabeta, batizei-a com o nome de bicuda e levei-a ao mar e lá, consegui um local para deixá-la ancorada na praia.
Um belo dia de domingo de um mês de agosto, um dos piores meses para a navegação em virtude dos ventos e das grandes ondas que deixam o mar bravio, como o chamam os pescadores. Nesta época do ano, muitos pescadores recolhem as suas jangadas, preferindo nem mesmo ir ao mar, devido aos riscos de naufrágio. Nesse citado dia chegam a minha casa os colegas: Junior Grandão e Junior Pequeno, pedindo para dar uma volta comigo na minha Jangada Bicuda, então resolvemos ir ao mar, eu peguei minhas tralhas (assim como é chamada todos os equipamentos para mergulho e pesca) e partimos naquela manhã para as minhas áreas de mergulho, a Grande Barreira de Corais, que faz parte da restinga do sul de Pernambuco.
Chegando ao destino, ancorei a jangada e fui mergulhar e observar as belas paisagens submarinas, corais e peixes coloridos dominavam o ambiente. Lembro-me que estávamos em Maré de Sigila, assim chamada, quando os astros: sol, Terra e Lua estão alinhados, resultando em preamar ou maré viva, onde a amplitude de maré, ou a diferença entre o nível mais baixo e o mais alto pode chegar a até mais de 2,40 metros, isto sem contar com as grandes ondas que alcançam facilmente mais 2,5 metros de altura. Ainda com a maré baixa, depois de algum tempo resolvemos ir até a “prainha”, assim como é chamada uma croa de areia que aparece na maré baixa, naquela região a mais ou menos um quilômetro da crosta, circundada por belas piscinas naturais que encantam os turistas que visitam em alta temporada. Naquele dia não tinha ninguém, além de um ou outro pescador. Resolvemos então jogar um pouco de frescobol, já que o Junior Grandão era um exímio esportista com a raquete. A maré estava no limite do refluxo, ou seja, zerada, o que nos permitiria ficar bem à vontade por um bom tempo até começar o movimento de fluxo, ou subida da maré, porém o Junior Pequeno sugeriu que poderíamos partir para a localidade de Várzea do Una, um distrito que foi formado a partir de uma Colônia de Pescadores, logo retruquei por saber que a maré já começara a subir, mas fiquei sendo minoria e segui com eles. Continuar lendo