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Uai! Parte 9

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Minas Gerais tem muitos caminhos, mas tem aqueles que se destacam em importância, apesar de traçarem rumos que margeiam os principais corredores rodoviários.

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Estrada Real, a maior rota turística do Brasil, com mais de 1.680 quilômetros de extensão entre os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, tem como objetivo valorizar a cultura, a beleza e as tradições ao longo do percurso. A estrada, que originalmente é uma trilha, foi construída pela Coroa Portuguesa no século 17, para escoar a produção de ouro e diamante até o porto do Rio de Janeiro. O Instituto Estrada Real, órgão criado em 1999 pelo sistema FIEMG – Federação da Indústria do Estado de Minas Gerais – para fomentar e gerenciar o turismo autosustentável ao longo da trilha, beneficiando 199 municípios, criou o Passaporte da Estrada Real, um documento simbólico voltado para os viajantes que desejarem registrar a passagem pelos caminhos da história. O passaporte deve ser carimbado nos pontos oficiais, indicados pelo Instituto, e ao ser totalmente preenchido, o viajante recebe um certificado.

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Lucia fez o nosso registro no site do Instituto para retirar o documento, que é entregue mediante a doação de um quilo de alimento não perecível, e apesar de termos andando um bocado, muito ficou a ser feito em outras oportunidades. O roteiro que planejamos valorizava algumas cidades as margens da velha estrada, contudo, os desejos de um viajante são como barcos a vela que seguem de acordo com o sopro do vento e nem sempre os ventos casam com os desejos. De uma coisa eu sei: – A Estrada é uma viagem a parte e vale ser conhecida em sua essência.

20160527_104658Na página anterior desse relato havíamos deixado para trás a maravilhosa arquitetura de Diamantina e as cachoeiras de Beribiri para pegar a estrada que nos levaria a Ouro Preto. Pouco mais de 385 quilômetros separam os dois destinos turísticos mais famosos e a viagem é bastante prazerosa. Não levamos em consideração o tempo de viagem e nem nos preocupamos com a hora de chegar a Ouro Preto, queríamos mais era curtir a viagem sem pressa, sem atropelos e parando em pontos que nos chamasse atenção, como uma lanchonete que anunciasse deliciosas pamonhas ou outra que nos chamasse para experimentar um sanduíche de pão com linguiça. As estradas mineiras são verdadeiros SPAs de engorda.

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Após cinco horas de viagem chegamos enfim a Ouro Preto, cidade Patrimônio Cultural da Humanidade, uma obra de arte a céu, um dos mais belos e encantadores conjuntos arquitetônicos do Brasil, cidade onde a história brasileira é contada em cada passo que damos sobre becos e ruas seculares. Ouro Preto é um quadro poético de um artista das telas emoldurado por uma paisagem natural do reino das utopias. Chegamos e fomos brindados por um frio maravilhoso que nos fez entrelaçar os braços sobre o peito, como aquele gostoso e simbólico gesto universal de quem abraça o mundo.

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A cidade Patrimônio é sim tudo o que está escrito nos folhetos turístico e mais um pouco. O difícil é não se sentir envolvido pela vida que ali existiu em séculos passados. Os museus são de um primor de deixar o visitante boquiaberto. O Museu da Inconfidência, que não pode ser fotografado internamente, dá para sentir os passos e a as vozes de homens e mulheres que se engajaram em um ideal e deram o pescoço para que pudéssemos estar vivendo dias de liberdade de pensamentos e sonhos. Pensar hoje em um Brasil tolhido da riqueza desses ideais é o mesmo que levar novamente a forca aqueles que deram a vida para que tivéssemos um futuro melhor. Muitos subiram ao cadafalso com um sorriso estampado no rosto, porque mesmo condenados, sabiam que a vitória caminhava a passos largos.

1 maio IMG_0004 (829)20160529_160810Mas é no Museu dos Contos que a história estapeia nossa cara e nos faz refletir. O museu conta em detalhes o que gerou a riqueza desse país maravilhoso, diversificado e multicultural. Dotado de uma suntuosa e bem preservada arquitetura, o Museu dos Contos reserva o mais mágico dos seus cômodos para que possamos pedir perdão e envergonhar-se pela crueldade dos nossos antepassados. A Senzala – assim mesmo com “S” maiúsculo -, não existe palavras para descrevê-la, pois simplesmente o nó que trava a garganta só nos permite a reflexão e a emoção. – Como somos cruéis!

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Dentro daquela Senzala escutei um comentário que até hoje ecoa em meus ouvidos: “Olhando o que existe dentro dessa senzala, fico a imaginar o que fizeram aqueles que combateram a ditadura militar para merecerem mensalmente milionárias indenizações, enquanto os negros vivem questionados apenas por serem beneficiados por um simples sistema de cotas…”.

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O título de Patrimônio Cultural da Humanidade é pouco para Ouro Preto.

Nelson Mattos Filho/Velejador