O verão promete


2 fevereiro (121)

Tem alguns assuntos no meio náutico difíceis de serem digeridos por todos os envolvidos. Um deles é a eterna pendenga entre velejadores, lancheiros e agora, mais do que nunca, os motonautas, termo que designa aqueles que utilizam Jet Ski. Na verdade eu nunca entendi bem o porquê da categoria de Motonauta e acho que pouca gente entende. Depois que ela foi inventada na legislação naval a coisa tem ficado cada vez pior. Nunca vi tanto desrespeito às regras de navegação como ultimamente vem acontecendo por parte dos motonautas.

Como acontece com as nossas ruas, o poder público é totalmente ineficiente quando o assunto é fiscalizar e fazer valer a Lei, ainda mais num país continental como é o Brasil e que prevalece a máxima: manda quem pode e obedece quem tem juízo. Pelo que tenho visto por ai nos locais em que navego, o verão 2013/2014 promete.

Os Jets definitivamente invadiram as nossas águas e hoje são tão populares como qualquer moto. A ideia de ter um barco que praticamente voa sobre as águas e faz manobras radicais, enche de desejo a cabeça do ser humano. Nada atiça mais os desejos do que a certeza de receber um veloz banho de adrenalina e o Jet tem esse poder de sedução.

Os fabricantes se esmeram para cada vez mais oferecer potência, arrojo e aerodinâmica tudo embrulhado em cores vivas e atuais. Exibir um Jet último tipo funciona como um gozo para um Motonauta. Tem muitos deles que quase não pisam nas areias da praia de tão pabulosos que ficam.

Lógico que toda regra tem sua exceção e nem todo Motonauta têm as mesmas atitudes, mas o que vemos é que na média geral a coisa navega pelo lado do avesso e no final todos acabam pagando a conta.

Mas não é somente Motonauta que abusa da falta de educação marítima. Muitos proprietários e comandantes de lanchas são mestres no assunto e muitos ainda ficam se vangloriando pelo mal feito.

Existe um artigo na Lei que regula o trafego de embarcações, que fala da velocidade máxima a ser obedecida em locais de fundeio. Essa velocidade nunca é superior a seis nós e em alguns casos ela é abaixo disso. Outro artigo diz que qualquer dano causado em embarcação de terceiro, quando a embarcação causadora compreender velocidade superior, é sujeito de multa e reparação do dano causado por parte do infrator.

Leis, artigos, regras, tudo isso parece ser descartável e sem função nesse país litorâneo chamado Brasil. O que mais se vê por ai são barcos sendo sacudidos e machucados em marinas e clubes pela má educação de condutores. Quando se tenta fazer uma denuncia, o individuo esbarra num maremoto de burocracia sem tamanho e o assunto naufraga na vala comum da incredulidade.

Certa vez um conhecido foi reclamar de um proprietário de lancha que havia cruzado muito rápido na ancoragem e recebeu como resposta uma ameaça de agressão. Desmoralizado e quase agredido, preferiu se calar, levantar âncora e sair para outro local.

O Avoante já teve a popa avariada pelas marolas provocadas por uma lancha que cruzou em velocidade, acima de 30 nós, o Rio Potengi, em Natal, e até hoje o estrago continua lá. Denunciei o fato, fui prontamente atendido na Capitania dos Portos, mas esbarrei dentro do próprio Iate Clube, onde sou associado e um apaixonado incentivador dos esportes náuticos, com um improvável e perturbador silêncio. Coisas da vida!

Recentemente estava na Ilha de Itaparica/BA quando surgiu uma lancha a toda velocidade. Fiquei sem ação, tamanha era a velocidade com que ela se aproximava, e só tive tempo de falar para Lucia tomar cuidado, pois ia balançar muito. Tudo que estava em cima da mesa veio abaixo. Duas panelas voaram do fogão jogando o almoço no assoalho. Entrei em contato com a marina e fui informado que a tal lancha não era de lá, mas foi lá que ela atracou.

Lucia tentou contato com Capitania dos Portos da Bahia, via radio, e somente assim o encarregado da marina falou que havia chamado atenção do comandante da lancha. Mas tudo continua do mesmo jeito que sempre esteve.

Ainda nas águas da Bahia, as marinas do bairro da Ribeira, todos os dias sofrem com o problema e nem de longe existe algum tipo de ação para coibir a barbeiragem.

O verão vem ai e tomara que eu esteja enganado, mas tudo indica que o mar vai ferver.

Nelson Mattos Filho/Velejador

7 Respostas para “O verão promete

  1. Perfeito! Enquanto não houver fiscalização vamos continuar sofrendo.
    um abraço,
    Adriano Hora
    Veleiro DesMaNTeLo

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  2. A moda agora aqui na Ribeira são os marinheiros “curtirem” com as lanchas e jet’s dos patrões, q são muitas vezes coniventes e com o combustível e bebidas do FDS..
    E com relação aos Diabojet’s estão sendo lançados agora com rodas tb ! Ou seja o louco faz a cagada (mata inclusive) sai da agua rodando, esconde o jet numa garagem de um amigo, livra o flagrante, e responde em liberdade tranquilamente se for pego! Que não seja um ente meu a vítima, porque nunca mais ele vai comer feijão não!!!

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  3. Durante o feriadão de 15 de novembro, na Coroa do Avião, litoral norte de Pernambuco, um babaca motorizado ficou rodando feito peru bêbado em volta do nosso barco e terminou dando um “cavalo de pau” que jorrou água pela vigia ensopando parte da roupa e a cama do nosso bebê de 1 ano! Quando gritei que ia denunciá-lo à Capitania dos Portos o insolente bradou de volta: Ligue para onde quiser, o telefone é seu! Minha vontade na hora foi sacudir a manivela da catraca para abrir um rombo na cabeça do infeliz. Ainda bem que lembrei que é uma peça cara e não estraguei minha manivela! Cadê a fiscalização?

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  4. Marcelo Gilberto

    É difícil…A primeira situação é que maior parte dos condutores destes “diabosjets” (gostei deste termo) não são habilitados, o dono da máquina costuma ser, mas os outros usuários não são… outra coisa, a carteira (agora é motonauta, muito mais simplificada que arrais amador) supostamente habilita, mas não educa nem conscientiza….Outra situação pior é dentro dos CLUBES E MARINAS, os lancheiros gozam de um status e prestigio inegavem junto a estas instituições, são eles, geralmente empresários conhecidos e prestigiados, que movimentam a vida economica das marinas e clubes, e como a coisa é negócio e bate um medo de “magoar” o cliente…. então faz de morto e F***-** o velejador, se o reclamante for outro lancheiro de igual prestigio aí… pode ser que a coisa vá um pouco a diante…

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  5. Na praia do Curral, na Pipa(RN), beira a sandice. Lanchas e escunas invadem a área dos banhistas para mostrar os golfinhos aos turistas embarcados. Chegam a 30 metros da arrebentação ou menos. Filmei. Quando houver uma morte …

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  6. Há dias em que tudo é belo e maravilhoso, nesses dias damos graças à vida e a beleza que nos cerca! Abraços à todos.

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  7. Pois é comandante, eu, que vivo para cima a para baixo em Itamaracá, passo por diversas vezes próximo à Coroa do Avião, que a Karina citou aí em cima e toda vez comento sobre os porquês (que eu não entendo), do cara ter um marzão inteiro para passar e prefere, na incrível maioria das vezes, passar a toda velocidade com aquele barcão imenso bem juntinho de você!
    Eu, que estou a bordo de um pequeno Hobie Cat 14, tenho que me virar do jeito que posso e que dá, para não virar o barco, tamanhas as ondas desencontradas que aquilo produz, sem contar com o banho que todos levam à bordo.
    Será que eles não sabem ou não vêem isso?
    É incrível pensar que tantas pessoas achem isto nada demais, ou mesmo um ato de superioridade, ou até algo engraçado…

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