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UMA BOA TERRA

                              

                                  Toma Burro! Essa frase para quem conhece o povoado de Terra Caída no município de Indiaroba/SE é bastante familiar. Faz lembrar o impagável Zé de Teca, uma figura folclórica, amiga e cheia de boas histórias para contar.

                                   Zé de Teca de vez em quando, ou quase sempre, esta aprontando uma boa, para alegria dos que tem o prazer de conviver com ele.

                                   Sentar numa roda de bate papo e escutar Zé contar suas estripulias quando da gravação da novela Tieta é um deleite de alegria e diversão. Ele fala com naturalidade e numa intimidade tão aguçada na atriz Sonia Braga, a bela morena que encarnou Tieta na novela global, até parece que tudo aconteceu ontem à noite.

                                   Zé de Teca, o italiano Burro, como ele mesmo gosta de se autodenominar, flanava com muita naturalidade no sete de filmagem e em todos os eventos sociais em que compareciam os artistas e sua musa super star.

                                   A esposa de Zé, Dona Regina, que ele batizou de Regina Duarte para não fugir da linha global, de tanto ouvir os seus relatos de paixões com atrizes e outras afamadas, já não esboça nenhuma reação de ciúme. Para ela Zé é um menino grande, um bode velho que escapou das dunas brancas de Mangue Seco e hoje faz sua festa particular em Terra Caída.

                                   É muito difícil alguém por aquelas bandas não conhecer ou mesmo não saber alguma coisa sobre ele. Ficar amigo de Zé é muito fácil, basta que a pessoa goste de brincar, escutar histórias e acompanhá-lo em uma rodada de sapeca temperada com 51. Toma Burro!

                                   Relatar suas aventuras com Sônia Braga é o maior prêmio para esse apaixonado pela vida. Difícil é saber até onde vai à imaginação do homem e qual a fronteira da verdade nesse relacionamento recheado de boas intenções com umas pitadas de amor platônico.

                                   Numa das muitas festas que giraram em volta da filmagem e que Zé de Teca compareceu ao lado de sua musa morena, eles foram montados numa carroça puxada por um burro. Na festa tinha comida e bebida para dar de comer a um verdadeiro batalhão. Zé não agüentava mais comer nem beber coisa nenhuma. Seu estado etílico era de fazer inveja a muito boêmio apaixonado. Mas, ele solidário com o burrico da carroça e incentivado por Sônia Braga, juntou o que podia de bolo, torta, salgados e refrigerante, colocou tudo no mais fino prato de louça é foi dar de comer e beber ao burro. Enquanto o burro comia, ele e sua bela atriz deitaram na grama e ficaram um bom tempo olhando as estrelas. Quando acordaram, a festa já tinha terminado, o burro os observava de longe e não existia mais ninguém para contar a história, somente ele, Sônia e o burro. Mas, ele jura de pés juntos que nada de mais aconteceu fora à contagem das estrelas. 

                                   Quando terminou a gravação da novela, Sônia Braga quis levar Zé de Teca com ela, mas ele muito apaixonado por sua Regina Duarte, deixou que a bela morena partisse para nunca mais vê-la.

                                   Certa vez um filho dele caiu da canoa quando pescava em alto mar e desapareceu nas profundezas do oceano. Dona Regina vendo o filho ser levado pelo mar, chorou uma semana seguida e Zé sempre dizia que ela não se desesperasse a toa, pois um dia ele votaria. Uma semana depois apareceu um tubarão em frente à Terra Caída e para surpresa de todos em cima do bicho, cavalgando alegremente, estava o filho de Zé.

                                   Ele contou que quando afundou no mar o tubarão o pegou no lombo e saiu com ele numa viagem pela Bahia, Rio de Janeiro e outros estados do sul. Quando ele já estava sem fôlego o tubarão deu meia volta e trouxe-o de volta. Toma Burro!

                                   O Avoante já entrou três vezes na Barra de Estância e lá dentro, sempre faço o rumo do povoado de Terra Caída. Sigo em busca das histórias fantásticas do grande Zé de Teca, dos massunins da Ilha da Sogra, das sapecas na brasa e do calor humano de um povo bom.

                                   Estamos prestes a sair novamente de Natal e uma das paradas oficiais do Avoante será novamente a tranquilidade dominante daquela ancoragem e dos aromas trazidos pelos ventos. Terra fértil, muito verde, muito peixe, muito crustáceo, muito calor humano e muita alegria.

                                   Tomar banho de rio no pôr-do-sol e esperar a revoada de pássaros de volta aos ninhos. Tudo isso é Terra Caída e tudo isso é bem Brasil, mundo apaixonante e abençoado pela natureza.

Nelson Mattos Filho

Velejador