PESCARIA DA VACA


As histórias de velejador e pescador, às vezes se confundem tanto que fica difícil saber quem é quem, pela criatividade e riqueza nos detalhes mais incríveis.

 Não sei se os leitores já tiveram a oportunidade de sentar na beira de uma praia, debaixo de uma palhoça ou de um terraço, e ouvir as histórias maravilhosas contadas pelo homem simples e muito bem humorado, que enfrenta o mar com suas pequenas jangadas, lutando para tirar o sustento de suas famílias e dos amigos. Se não teve esta oportunidade, faça acontecer. Você terá uma oportunidade, impar, de ouvir relatos maravilhosos, recheados com muito sal, água do mar, sol, suor e muita coragem. O pescador acima de tudo é uma pessoa muito corajosa, determinada e de muita Fé.

 Um dia ouvi uma história, contada por um velejador, mas que tinham como personagens principais, três pescadores da cidade de Ilhéus/BA.

 A cidade de Ilhéus, localizada no sul da Bahia, famosa pelas plantações de cacau, ouro que brotava da terra e trazia muita riqueza para toda a região. Terra de perfumes que exalavam da pele em fogo da morena Gabriela, saída dos romances de Jorge Amado e ganhando o mundo com seu amor quente, meigo e dengoso com sabores de cravo e canela.

O ciclo do cacau foi fechado pela vassoura-de-bruxa, fungo que exterminou toda a lavoura, encerrando o período de esplendor e riqueza da cidade. Passando por períodos de incertezas a cidade foi despertando para o turismo, com muita praia bonita, natureza exuberante, sol e um mar muito bonito farto em peixe e frutos do mar. Seus casarões recuperados dão charme e faz relembrar o passado de riquezas e romances que encantam o mundo. Com esse cenário, saiu à história da pesca da vaca.

Final dos anos 80, depois de uma chuva muito forte que fez com que os rios transbordassem e arrastassem muitas coisas para o mar. Três amigos saíram para pescar em alto mar, a aproximadamente 5 milhas da costa. Após terem fisgado vários peixes e já se preparando para retornar a cidade, escutaram um mugido. Olharam um para a cara do outro, indagando quem havia imitado uma vaca. Depois de varias negativas e o mugido ter silenciado, ouviram novamente. Vasculharam o mar em volta e notaram dois chifres aflorando do mar. O susto foi tão grande que um deles quase desmaia pensando ser o tinhoso. Passado o susto, deram meia volta na lancha e se dirigiram para o local da visão do fim do mundo. A surpresa foi maior do que o susto, uma vaca, desesperada, nadava tentando retornar para a cidade. Resolveram “pescar” a vaca. Amararam a vaca na popa da lancha e bem devagar foram voltando para Ilhéus com o maior troféu da pescaria.

 A cidade entrou em alvoroço quando os pescadores encostaram a lancha, com a vaca amarrada na popa. Todos vieram ver o acontecido, juiz, padre, prefeito, delegado, vereador, tabelião, repórter, fazendeiro, o povo e entre eles apareceu o dono da vaca, ou melhor, o ex-dono. A briga começou antes de a vaca desembarcar. O dono da vaca, que era primo do pescador, disse “essa vaca e minha”, o primo, pescador, dono da lancha, falou, “é minha, foi eu que pesquei”. Foi confusão grande, o juiz e o delegado se desdobraram para resolver o embate. No final a vaca ficou com o primo pescador e até hoje os dois lados da família são intrigados. Só não sei se a vaca ainda é viva ou se foi feita churrasco, só sei que foi assim que me contaram.

Narrei essa historia a Erico Amorim e a Raul, que só faltaram me largar no meio do oceano. Tive que amargar gozações até Salvador, na expectativa que algum baiano confirma-se a história. Chegando ao clube Angra dos Veleiros, encontramos com o Davi Hermida, velejador, baiano e cheio de histórias, logo o convoquei como testemunha na esperança que confirmasse a historia da vaca. O Davi, só não confirmou como acrescentou outra historia de pesca de vaca. No almoço os dois relatos vieram à tona e para surpresa apareceram mais três vacas, todas “verídicas” e baianas. Tivemos que parar com as historias de pescaria, senão teríamos que montar uma fazenda com tanta vaca.

O povo do mar é assim mesmo, tudo e motivo para uma aventura, heroísmos e muitas histórias interessantes e humoradas. O mar desperta a criatividade e seus movimentos embalam sonhos e fantasias mirabolantes e encantadoras. As profundezas do mar escondem tesouros, lendas e seres que fazem aqueles que têm o mar como trabalho, necessidade, divertimento e paixão terem imaginações muito férteis.

O pescador com seus conhecimentos sobre os segredos do mar, dos ventos e do tempo, e um poço de conversas intermináveis. Aproveite os dias de verão e sente umas horas com essa figura impressionante para um bate-papo descontraído, você vai adorar.

 Nelson Mattos Filho

velejador

9 Respostas para “PESCARIA DA VACA

  1. O pescador da vaca chama-se Dr Guilherme Adami.Medico angiologista em Ilhéus.
    A vaca reproduziu e ele tem filhotes desta vaca.
    Estava acompanhado do Dr Gustavo Nora
    Neurologista em Itabuna BA.
    Formamos em Medicina pela UFBa em 1972.
    A Veja na época publicou a foto da chegada da vaca ao Porto de Ilhéus

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  2. Dr Guilherme Adami foi o homem que pescou a vaca
    Médico angiologista exerce sua clínica em Ilhéus e Itabuna.

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    • diariodoavoante

      Eita, José Neto, que bom receber esse comentário que enriquece o texto. Mando um abraço para o Doutor Guilherme. Abraço, Nelson

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  3. Pingback: Notícias sobre a vaca | Diário do Avoante

  4. Conheci o pescador da vaca há poucos dias e vi as fotos originais da história

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  5. GUILHERME ADAMI DE SA

    Eu fui quem salvou a vaca naufraga e não a pesquei

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    • diariodoavoante

      Eita, Guilherme, que bom ter recebido seu comentário. Sua “pescaria” já rendeu boas risadas nas rodas de bate papo onde se reúnem grandes prosistas do meio náutico. Escutei a história, em Camamu, e me atrevi a escrever o texto e espero tenha ficado do seu agrado. Grande abraço, Nelson

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  6. EULLER LIMA DE SA

    Meu nome é Euller Adami..Sou filho de Guilherme Adami.. O homem que salvou a vaca naufraga em ilhéus Bahia. Realmente o fato é verídico, mas não como está escrito no seu relato. Meu pai saiu para pescar com amigos em sua embarcação, carbrasmar 32 pés, e aproximadamente umas 15 milhas da costa , avistou algo grande boiando no meio do oceano. Afim de identificar o que era, navegou em direção ao objeto, com curiosidade, pois os peixes Dourados do oceano, costumam ficar próximos de estruturas que flutuam a deriva no mar. Ao chegar perto da estrutura, todos ficaram passos ao perceber que se tratava de um bovino, e o mesmo estava vivo. E ao perceber a aproximação da embarcação, o animal nadou tentando a qualquer custo subir mas sem êxito. Diante a situação. Um dis amigos de meu Pai, Gustavo Nora, conseguiu passar uma corda no pescoço do animal, enquanto meu pai manobrava a lancha. . Ao começar a rebocar, perceberam que iriam matar o animal enforcado. Então fizeram uma nova manobra, ao de conseguiram passar a corda entre o pescoço e uma das patas dianteira do anima. E assim, depois de horas , e muitos caldos, conseguiram chegar ao porto de ilheus com o animal vivo. Os portuários, conseguiram içar o animal, através dos guindastes, e ai perceberam se tratar de uma vaca. Com o animal a salvo. Meu pai retornou ao mar para pescar. E no final da tarde, ao desembarcar, se deparou com vários portuários, com intenção de matar a vaca para fazer um churrasco. Momento este, que meu pais disse que a vaca morreria de velha pois lutou muito para sobreviver, e ele não tinha salvado aquela vida em vao. Momento também em que batizou a vaca por nome de Sereia. No outro dia, por se tratar de uma cidade pequena. Meu pai recebeu umTelefonema do seu cunhado, dizendo que a vaca era dele,e que ele iria buscar. Mina avó Lycia, muito inteligente, mandou meu pai confirmar as características do animal, perguntando se era um boi de cor amarelo e com chifres. Diante da resposta positiva,,meu pai disse ao cunhado, pra ele procurR o boi dele em outro local, pois o animal que ele tinha salvo, era uma vaca, mocha( sem chifres), e que está a prenha. Realmente ficaram um tempo sem se falar, mas logo depois td voltou a normalidade, nao hove ruptura de laços familiares. A vaca foi levada para fazenda Lutadora, no município de urucuca, onde deu várias crias, e conforme havia dito o seu Salvador, morreu de velhar por morte natural. Este é o breve relato verídico, de quem realmente viveu a história.

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