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Olhos nos olhos, em preto e branco

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OLHOS NOS OLHOS, EM PRETO E BRANCO

Eh, Rubinho, lendo sua crônica da quarta-feira, 25/03, de um outono de nuvens escuras no horizonte, me vi empoleirado na arquibancada de um poema, sumariamente assassinado, torcendo pelo velho e outrora querido ABC, campeão dos campeões, e abestalhado diante da maestria dos craques das “seleções” de 1973 e 1976. Confesso que ninguém até hoje me convenceu, e duvido que um dia convencerá, que o negão Alberí, não foi melhor do que o negão Pelé. E nem pense de tentar me convencer o contrário, viu! Porém, minha paixão durou até o final daquele tricampeonato, em que o poeta falava de sonho e sangue, e por força do destino segui pelos caminhos aventureiros de flores e espinhos da adolescência e o Castelão ficou apenas nas boas lembranças.

Mas, Rubinho, não pense que meu coração não palpita quando escuto ruídos das conquistas do Clube do Povo, porém, são palpitações tão leves que muitas vezes tenho dúvidas se são pulos de alegria ou regulagens automáticas do maquinário que sustenta a vida. A verdade é que o ABC foi um rio que passou em minha vida e cada vez que escuto ou leio fatos e coisas sobre o clube preto e branco, mais respiro fundo e dou graças a Deus por te me retirado daquelas arquibancadas. Nunca pus aos pés no “cebolão” e do Fransqueirão, só conheço a fachada e a lagoa que se forma na estrada que passa em frente, mas de tanto ouvir falação, ultimamente me peguei a escutar os ruídos estranhos que ecoam das estruturas e a sentir o cheiro de enxofre que exala das profundezas do templo abecedista. Que saudade do velho Pruda!

Que pena, Rubinho, que pena que sob as colunas que sustentam o Fransqueirão não tenha mais resquícios do concreto que foi misturado com o suor de sangue de homens abnegados, entre eles Firmino Firmo de Moura, Ernani Alves da Silveira, Aluizio Gonçalves Bezerra, José Nilson de Sá e muito menos o rochedo de um Bira Rocha. O ABC que conheci, que torci, que chorei, que suei, que me cobriu de glórias e que você tanta ama, não existe mais, caro jornalista. Aquele ABC tinha um coração valente, uma alma altaneira, uma personalidade de gente grande, um time de campeões, dono de um futebol que olhava no olho do adversário e não baixava a cabeça diante da superioridade do time oponente. Era um time de feras, regido por um mostro sagrado chamado Alberí, o negão que quase fez o tricampeão Zagalo perder o restinho dos cabelos. – Aquele clássico contra o Mengão foi demais, não foi?

Que pena que o Mais Querido, dono de uma história tão rica, de uma história que se funde com a história do Rio Grande do Norte, um time outrora feito com o aço de músculos fortes, com a paixão sem medidas e sem reservas de pessoas como Joca e Luiz, respetivamente roupeiro e faz tudo, demitidos sumariamente em um ato desumano, homens que passaram a vida a dar brilho ao preto e ao branco da bandeira que hoje tremula entristecida em meio a uma frasqueira jovem que pouco conhece da sua história e hasteada por uma diretória que não lhe dá o mínimo de valor.

Meu caro, Rubens Lemos Filho, suas perguntas são pertinente: “Cadê o ABC? ” “Tem Conselho Fiscal? ” “Vão deixar por isso?” “Existe a conveniência da cumplicidade com os poderosos?”. Sinceramente, acho que você nunca terá respostas.

Grande abraço, espero um dia conhecê-lo e torço para que o seu ABC reencontre o caminho da glória, porque o meu, são águas passadas.

Nelson Mattos Filho