O Tranquilidade e o Boi do Maranhão


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“No Maranhão tudo termina em Boi…” Essa é uma frase que demonstra a cultura enraizada na vida de um povo, que tem no Bumba meu Boi o expoente máximo de cores, ritmos e expressões.

Mas, apesar do Bumba meu Boi representar a alma do maranhense, ele não surgiu no Maranhão. O Boi deu seus primeiros passos nas pastagens do Piauí trazidos por vaqueiros baianos e daí encravou suas pegadas pelo resto do Brasil mudando suas feições, mas mantendo viva a sua lenda.

No Maranhão a lenda do Bumba meu Boi encontrou suas melhores pastagens e no seu misto de sátira, comédia, tragédia e drama, mostra a fragilidade do homem em relação à força bruta do animal. Com personagens coloridos e divertidos, como o Capitão, Pai Chico, Catirina, Boi, Vaqueiro, Índio, Burrinha e Cazumba, o Bumba meu Boi vai levando através dos tempos sua mensagem de alegria e reverenciando o boi livre pelas pastagens amazônicas.

Não tem quem não fique contagiado com a música envolvente do Bumba meu Boi e seu ritmo marcado por pandeiros, matracas, tambores e zabumbas. Enquanto em outros estados nordestinos as festas juninas são cercadas de muito forró, no Maranhão o Boi é quem comanda os festejos de São João, São Pedro e Santo Antônio. Santos que se viram como podem para dar conta de tanta festança.

Você deve estar se perguntando o que faz o Bumba meu Boi a bordo do Avoante. Mas, tudo isso é apenas para dizer que estamos em São Luiz do Maranhão para fazer parte da tripulação que levará o veleiro Tranquilidade, de São Luiz até Natal, atendendo um convite do amigo Flávio Alcides.

O Tranquilidade é um moderno catamarã com 43 pés de comprimento e construído pelo estaleiro maranhense Bate Vento. Um barco super espaçoso e que para nós, que estamos adaptados aos trinta e três pés do Avoante, mais parece mansão.

O BV 43, que é o modelo do Tranquilidade, é o top de linha do estaleiro Bate Vento. Um barco confortável, rápido e marinheiro, que não deixa nada a dever aos modelos estrangeiros. Sérgio Marques, projetista e proprietário do estaleiro, faz parte de uma flotilha de construtores que não param de produzir novas idéias. Conversar com Sérgio é o mesmo que receber uma aula de engenharia naval, pois seus neurônios estão sempre conectados as novas tecnologias.

Além do Bate Vento outros estaleiros fazem do Maranhão um paraíso para os modelos catamarãs, que tem em Manoel Português seu maior expoente. Manoel faz parte do folclore náutico maranhense, pois seu jeito singular de trabalhar, se não fez escola, o deixou marcado para sempre na história. Manoel trabalha sempre nu, isso mesmo pelado, e mesmo diante de autoridades, entrevistadores, clientes e visitantes não tira sua farda de trabalho, ou melhor, não veste. Sei lá!

Hoje Manoel Português já não produz tanto, a idade avançada já não permite tanta energia, mas seus modelos podem vistos navegando pelos mares do Maranhão e do mundo. Eu não comprovei, mas dizem que ele ainda continua fazendo parte da grife do pelado e dando palpites nos projetos de seus discípulos, que são muitos.

Chegamos a bordo do Tranquilidade com dez dias de antecedência para a partida, visando conhecer melhor o barco e ajustar os últimos detalhes para a travessia, que não deve ser fácil. Os ventos a todo instante trazem ecos dos sons do Boi e do reggae, outro ritmo apreciado no Maranhão, e mostram que não darão muita tranquilidade a nossa velejada, pois vem justamente contra o rumo que pretendemos seguir.

Chegamos também para nos impressionarmos com a grande variação de maré que chega a mais de 6 metros de altura, fazendo com que os planejamentos para as velejadas sejam atentamente observados para não termos o dissabor de ficarmos ilhados na lama por, pelo menos, seis horas. E não adianta tentar desembarcar para seguir a pé até as margens, pois a lama é muito densa e a distância é muito longa. Se acontecer, o melhor é relaxar, ligar o som e curtir o boi e o reggae.

Com o Tranquilidade atracada ao píer da Associação de Vela e Esportes Náuticos do Maranhão – AVEN, com seus cascos seis horas boiando e seis horas atolados na lama, fomos nos adaptando à rotina da bela cidade de São Luiz do Maranhão e seu povo hospitaleiro. Uma gente que respira o calor que emana da proximidade da Linha do Equador e que devolve o mesmo calor numa acalorada recepção aos visitantes.

Com a alegria do Boi e a navegada do Tranquilidade daremos seguimento às páginas do nosso Diário.

Nelson Mattos Filho/Velejador

Uma resposta para “O Tranquilidade e o Boi do Maranhão

  1. Julival Fonsêca de Góes

    Caros NMF e respectiva primeira dama: Oportuna e de excelente qualidade informativa sua coluna sôbre a a cultura do Maranhão. Não apenas do tradicional Bumba Meu Boi. Mas, de igual modo quanto as demais informações, todas úteis: o comportamento das marés( quantas pessoas por ignorarem suas forças não se arriscaram a ficar “atoladas” no lamaçal ? Também uma informação, a qual nunca tínhamos ouvido falar: a existencia de estaleiros em São Lúiz na construção de catamarãs. Por isso, pedimos ao nobre casal, que nos enviem material informativo e detalhes outros dos modelos por São Luiz fabricados. Quanto ao TRANQUILIDADE não virá à 43ª Regata Aratu Maragogipe? Acontecerá a 25 de agosto próximo, com coquitel na vespera( vocês são nossos convidados). O empresário Wílder Gouveia Santos é o correto Comodoro que lidera as ações do ARATU IATE CLUBE, PORTO SEGURO DO VELEJADOR. A organização cabe à ilibada VIA NÁUTICA-Consultoria & Eventos, do pai e filho Fróes, os quais detem um exitôso programa( já lhe falamos anteriormente disso) na Rádio Metropole de nome ABORDO, levado ao ar todos os domingos das 10/11 hs da manhã.. Quanto a AVEN-Associação de Velejadores e Esportes Náuticos do Maranhão, pedimos que divulguem e compareçam às nossas regatas.Até breve, Grumetes Julival Fonsêca de Góes/Edilair, veleiro SEDUTOR
    Tels. 71-87741238;33345539(Residencia) e 37976311- 12(Escritório)

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