Entre chuvas e relâmpagos – Sem comunicação


imagens 039 Pelas regras das comunicações costeiras no Brasil, os iates clubes e marinas formam a Rede Costeira de Apoio ao Iatismo e por isso devem manter escuta permanente em VHF no canal 68 e utilizar o canal 69 como segundo canal de trabalho. Mas, infelizmente, essa regra não vem sendo observada em muitos clubes náuticos e marinas ao longo da costa do Nordeste. Não sei de onde deve de partir a cobrança da regra, mas seja lá de onde for, acho que já está passando da hora dessa fiscalização acontecer.

A regra ainda orienta os iates clubes e marinas transmitirem boletins meteorológicos via canal 68, quando solicitados ou mesmo quando uma mudança mais radical de tempo estiver para acontecer. Isso seria uma excelente prestação de serviço ao navegante amador, mas infelizmente vale a regra do salve-se quem puder.

Existe um despreparo total das pessoas encarregadas de manusear o rádio VHF nos clubes e marinas, com raríssimas exceções. Na maioria das vezes o rádio está localizado nas portarias, aonde permanentemente existem vigilantes, mas a falta de atenção e o desconhecimento das regras são tantas, que eles nem se dão ao trabalho de responder a chamada. E quando atendem, não sabem passar nenhuma informação precisa.

O canal 16 do VHF é restrito as chamadas de socorro, urgência, segurança, correspondência pública e escuta permanente quando em navegação oceânica. Assim que a chamada for interceptada, por outra embarcação ou estação terrestre, deve-se escolher outro canal para uso e assim liberar a freqüência do canal 16. Novamente nada disso acontece e ouve-se todo tipo de absurdo, e má educação, na freqüência do canal 16.

Até a Embratel, que opera a Rede Nacional de Estações Costeiras – RENEC, dificilmente atende uma chamada de um navegante amador. Eu mesmo, sempre que me atrevi a chamá-la no rádio nunca fui atendido. Mas sei que eles estão em escuta permanente, pois sempre que acontece um acidente ou uma chamada de emergência a EMBRATEL envia uma chamada geral. Então porque não responde nossa chamada?

Com relação aos órgãos públicos a gente até tenta entender essa incrível morosidade para com o contribuinte, mas quanto aos iates clubes e marinas, que são empreendimentos voltados exclusivamente para atender os anseios e interesses do navegante, e seus proprietários e diretores também são, preferencialmente, navegadores e, por isso, conhecedores das necessidades dos que se fazem ao mar, essa é uma falta grave e que merece correção imediata.

Já faz muito tempo que queria escrever sobre esse assunto, mas sempre esbarrei no crédito que minha alma de velejador cruzeirista concede aos que estão nos portos para acolher o navegante amador. Não quero usar o artifício da denuncia fácil e entrar em rota de colisão com os administradores de clubes náuticos e marinas, muitos deles meus amigos. Desejo apenas uma correção no rumo que as comunicações no mar estão navegando, visando uma melhor prestação desse serviço que tanta segurança traz ao navegante amador.

Nessa velejada entre Chuvas e Relâmpagos, aonde venho contando a navegada que fizemos de Salvador a Natal, em Abri de 2011, algumas vezes precisei me comunicar através de VHF com clubes náuticos, mas sempre recebi o silêncio como resposta. Sem ter a quem reclamar a gente tem que engolir a descortesia e seguir em frente, com aquele sentimento de irrelevância.

Foi assim que entramos em Recife, empurrado por um mar de ondas altas, com o Céu preto que nem carvão e desaguando em cima de nossa cabeça, o vento acelerando a todo vapor, o Avoante precisando de uma urgente manutenção elétrica e a gente precisando de um apoio para ancorar em meio a todo esse transtorno. E nada de sair do rádio uma resposta ao nosso chamado de aviso de chegada.

Não precisava de muito, apenas uma resposta assim: Pode aproximar veleiro Avoante, que estamos aguardando!

Nelson Mattos Filho

Velejador

12 Respostas para “Entre chuvas e relâmpagos – Sem comunicação

  1. Amigo Nelson,
    Comunicação é tudo!
    Parabéns pelo artigo e pela advertência.
    Tomei conhecimento que os amigos que velejam no Bonfim, já fazem uso de pequenos rádios para casos de urgência.
    Pessoalmente, acho muito boa esta iniciativa, pois se torna uma segurança a mais para os velejadores, sejam eles experientes ou não.
    Abraços,

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  2. Nelson, achei super importante esse puchao de orelha aos clubes nauticos, as marinas á EMBRATEL, e ate a capitania dos portos. O abuso do Canal 16 ja passou dos limites. Acho que deveria haver uma campanha nacional de conscientizasão e fiscalização para corregir isso. Vou levar copia desta materia a Comodoria do nosso clube AIC para dar enfase ao Radio. Um exemplo de serviço ao meu ver é O Iate clube do Rio, parabens a eles.

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    • diariodoavoante

      Hugo, muito obrigado pela colaboração e por levar o artigo a comodoria do Aratu Iate Clube. Precisamos urgentemente virar essa página. Um grande abraço,Nelson

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  3. Amigo Nelson,
    Comunicação é tudo!
    Parabéns pelo artigo e pela advertência.
    Tomei conhecimento que os amigos que velejam no Bonfim, já fazem uso de pequenos rádios para casos de urgência.
    Pessoalmente, acho muito boa esta iniciativa, pois se torna uma segurança a mais para os velejadores, sejam eles experientes ou não.
    Abraços,

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  4. Olá grande Nelson

    A omissão é mesmo um lastimável castigo para o velejador desesperado por um apoio a sua frágil embarcação. A voga é salve-se quem puder. Mas ainda bem que esse assunto provocou sua inquietação e espero que seus questionamentos despertem mais solidariedade em relação ao homem do mar

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  5. Gostei da materia e como o assunto é importante estou pirateando para o Papo de Velejador.

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  6. Amigo Nelson, gostaria de citar outra realidade. A do sul do Brasil.
    Quando fizemos o cruzeiro de Salvador a Ilhabela, todos os clubes que chamamos, atenderam. Alguns com muito mais informações que outros. Aquí em Salvador só o Iate Clube da Bahia tem esta presteza. Talvez pela posição geografica. Os informes das estações costeiras são eficientes. Inclusive solicitei chamada gera.
    Abraços do veleiro tô indo

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    • diariodoavoante

      Gerson, muito bom esse seu comentário mostrando um outro Brasil do mar. Precisamos levantar essa bandeira e esse debate já passa do tempo. Um grande abraço, Nelson

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  7. Caro Nelson,
    Você tocou num assunto de vital importância para nós, navegantes, a comunicação no mar. Esta sua iniciativa, certamente, vai deflagrar algum movimento para corrigir as distorções.
    Nas diversas oportunidades que subi pela costa brasileira, também observei muita deficiência nos atendimento, como vc bem relatou.
    Como sabes, estou velejando pelo Caribe e tive oportunidade de observar que aqui, o atendimento aos chamados pelo rádio é rápido e eficiente. Geralmente é a guarda costeira quem atende os chamados, mas ouvi até a polícia atendendo e prestando auxilio, quando passava no través da ilha de Monserat.
    Inclusive, quando estava em St. Maarten, escutei um chamado “pan-pan, pan-pan, pan-pan” (chamado de emergência). Só que este chamado dizia respeito a embarcação perdida. Mas a embarcação a que se referia o pedido, era um dingue (bote). Veja só! Movimentar a guarda costeira para procurar um dingue perdido. O oficial da guarda costeira, educadamente, chamou a atenção de quem pedia socorro, bem esclarecendo o descabimento de tal tipo de chamada para este tipo de embarcação. Mas, atendeu ao chamado!

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    • diariodoavoante

      Zanella, que bom ter você dando uns bordos por nosso blog. Meu amigo, esse assunto é realmente preocupante para nós que fazemos navegação amadora e temos que levantar essa bandeira no nosso Brasil tão cheio de manias. Um grande abraço, Nelson

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